Argentina: panelaço por dólares; contra a reeleição de Cristina

Sem uma bandeira unificada, diversos bairros de Buenos Aires realizaram, nesta quinta-feira (13), um panelaço contra as políticas oficiais do governo Cristina Kirchner. As limitações para comprar dólares, a insegurança e a possibilidade de uma segunda reeleição da presidenta lideraram o coro dos descontentes.

Argentina - Telam

“Quem não salta é negro [como são chamados os “manos” argentinos] e Kirchenista”. Era o grito entoado por jovens e velhos, homens e mulheres, distintamente vestidos ou usando bermudas e regatas na Praça de Maio. Nem negros, nem kircheneristas, todos os demais eram bem-vindos ao grupo que foi convocado pelas redes sociais e principais meios de comunicação opositores.

No Brasil, tivemos um movimento semelhante a este em 2007 com o Cansei que, à época, protestava contra a “desordem da administração Lula”. O ex-presidente brasileiro deixou o poder com 83% de avaliação ótima ou boa, de acordo com o Datafolha de 2010.

Munidos de bandeiras argentinas e cartazes feitos à mão, os argentinos cantaram o hino, insultaram a presidenta Cristina e lembram, nostálgicos, o “que se vayan todos” (que se vão todos) — lema dos protestos de 2001 durante o governo de Fernando de la Rúa — e fizeram muito barulho com tudo que era instrumento capaz de provocar algum ruído contra a suposta “diktadura”.

Uma das reivindicações é que Cristina não se candidate mais. A proposta foi feita pelo grupo de intelectuais "Carta Abierta, porém nem a presidenta, nem seus ministros e líderes do governo no Parlamento se manifestaram sobre a ideia." Cristina precisaria de uma maioria especial de dois terços dos deputados e dos senadores argentinos para mudar a Constituição e poder se candidatar a um terceiro mandato.

“Não estou interessada pelo protesto pelos dólares, eu não vim pelos dólares. Eu quero poder sair tranquila na rua”, afirmou Mariana, de 32 anos que trabalha em uma agência de publicidade. Um rapaz segurava um cartaz que dizia: “Tenho 16. Não quero votar, quero ficar bêbado”. O estudante deu essa declaração porque tramita no país um projeto para reduzir a idade mínima para votação para 16 anos.

Não houve repressão por parte da polícia. Mas outra forma de violência fez-se notar na manifestação: “Puta, ladra e montonera” [guerrilha ligada ao peronismo na década de 1970] gritava o grupo mais exaltado enquanto atiravam objetos contra a cerca que divide a praça em duas. “Morra, égua, morra”, gritou Raquel, uma senhora bronzeada, enfeitada com muitas joias, preocupada porque “te proíbem de viajar, te proíbem economizar, te proíbem gastar, te proíbem comprar dólares, no se entende o que querem que as pessoas façam”. Enquanto isso, os cantos continuavam: “Vá para Cuba, a puta que te pariu”, cantavam alguns em coro. “Mas nos deixe os dólares”, acrescentou um quarentão, despertando alguns aplausos.

Da Redação do Vermelho,
com informações do Página/12

*Matéria alterada às 11h59 para acréscimo de informações