Gutemberg: As eleições municipais e o poder nacional

Por Gutemberg Dias*

As eleições municipais tomam contam do cotidiano de nossas cidades. O processo eleitoral teve início no dia 06 de junho e terminará no dia 07 de outubro, quando milhões de brasileiros escolherão seus gestores municiais e, também, seus representantes para habitarem, nos próximos quatro anos, a dita “Casa do Povo”, ou seja, os vereadores.

Nessas eleições está em jogo a correlação de força política entre os principais partidos do Brasil. Especialmente o PT e o PMDB vivem uma relação de amor e ódio em várias cidades do Brasil, principalmente, nas cidades consideradas de médio e grande porte, onde os interesses da política regional e nacional tem maior apelo. Além desses dois partidos, corre por fora partidos como o PSB e o PSD, esse último produto de uma reengenharia política que terminou por esvaziar um dos maiores partidos de oposição, o PFL-DEM.

Para essas eleições, um fato que merece atenção dos analistas políticos e dos dirigentes partidários é a construção política do PT que se estabelece na necessidade de manutenção da hegemonia política no campo nacional a partir da manutenção e ampliação de suas bases municipais. Nesse compasso, termina por criar arestas com seus aliados históricos, como o PSB e PCdoB, que procuram dentro do tabuleiro da sucessão municipal ganhar prefeituras de médio e grande porte para poder estabelecer bases sólidas aos seus respectivos crescimentos, bem como, fincar bandeira no jogo político da renovação do Congresso em 2014.
Com as condições impostas pelo PT, em relação as alianças com seus parceiros históricos, de priorizar seus candidatos em detrimento de candidaturas do campo aliado, termina por favorecer o crescimento compulsório do PMDB, que hegemoniza as forças na Câmara e no Senado, podendo ter nos próximos dois anos, o controle das duas casas, como aconteceu no passado recente. Essa possibilidade, digamos, quase concreta, força necessariamente o rearranjo de outros partidos da base, como aconteceu no governo Lula, quando o PSB, PCdoB, PDT e PMN se uniram para garantir os espaços necessários no tabuleiro das decisões no âmbito do Congresso e, também, do governo federal.

O PMDB vem estruturando seu crescimento desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. No governo Lula o partido deu mais um salto focando suas forças nas disputas municipais, fato que o ajudou a formar a segunda maior bancada do Congresso, terminando por forçar a indicação do vice da presidente Dilma Rousseff e, agora, buscando emplacar o presidente da Câmara Federal, o potiguar Henrique Eduardo Alves.

No meu entendimento as eleições municipais desse ano tem um papel importantíssimo na composição do cenário político nacional. Se o PMDB conseguir atingir seu objetivo de manter o maior número de prefeituras no Brasil, poderá, sem dúvida nenhuma, ser o maior partido do Brasil e ser o principal protagonista na sucessão da presidente Dilma Rousseff. Por outro lado, ela é importante para o fortalecimento de partidos como o PCdoB, PSB e PDT que se posicionam no campo nacional numa linha de centro-esquerda se opondo diametralmente ao crescimento exacerbado do PMDB e do PT.

Ao terminar o dia 7 de outubro poderemos vislumbrar o que acontecerá no pleito de 2014. Mesmo sem os resultados, as especulações já colocam em rota de colisão o PT e o PSB na disputa pela presidência e, não tenho dúvida, que o PMDB será inserido nesse meio num futuro bem próximo. Haja vista, que vai buscar manter sua indicação de vice, numa renovação de mandato da presidente Dilma, ou quiçá, na possibilidade de retorno do ex-presidente Lula.

O futuro aos eleitores pertence. Aos partidos as articulações para que o futuro também seja deles.

*Gutemberg Dias é formado em Geografia e presidente do PCdoB-Mossoró/RN