Porto Alegre debate o seu futuro; resultado ainda é imprevisível

A eleição passará, nessas duas últimas semanas, para a sua reta final e Porto Alegre vive ainda uma clara divisão: a eleição veio até aqui e continua polarizada entre o atual prefeito, José Fortunati (PDT) e a deputada Manuela d'Ávila (PCdoB). O candidato petista, Villa, está em terceiro e as previsões mais otimistas dizem que pode chegar a 15% dos votos.

Por Clomar Porto*

O termo "divisão" talvez seja o mais adequado para explicar o comportamento do eleitor pois, apesar de as últimas pesquisas apontarem vantagem para Fortunati, as pessoas se mostram nas ruas ainda oscilantes em relação à decisão do voto. Mesmo quem prefere Fortunati hoje também simpatiza muito com a ideia de votar em Manuela, e vice-versa.

Enquanto o prefeito valoriza o enredo de uma cidade que está em obras, principalmente em função da Copa, Manuela reafirma a continuidade da pauta das obras combinada com a necessidade de uma gestão mais moderna, baseada na inovação, igualdade e mais cuidado com as pessoas, para isso busca focar seus argumentos na força da renovação e das novas ideias. A campanha "obreira" de Fortunati vem sendo muito criticada em função de apresentar uma versão que, segundo os adversários, não corresponde a vida real da cidade.

Trunfo da campanha de Manuela, o tema da inovação mostrou que tem força e passou a ocupar centralidade na narrativa de TV e rádio e na agenda dos candidatos. Na semana passada, Tanto Fortunati como Villa abordaram o tema nos seus programas. Fortunati também optou por mostrar inserções com peças falando de futuro e tentando dialogar com o público jovem. Já Manuela tem acentuado a necessidade da renovação e novas ideias na prefeitura, o que valoriza um posicionamento que a diferencia em relação aos demais.

Fortunati tem utilizado a pleno os benefícios de ter a máquina a sua disposição e de ser situação num momento em que o Brasil vai bem. Como contraponto, Manuela busca dialogar com a necessidade de se enfrentar os antigos problemas que Porto Alegre vive e que não foram resolvidos nos últimos oito anos, período que coincide com a presença do atual prefeito na gestão municipal: se hoje melhorou dentro de casa, com as pessoas consumindo mais, ainda há muitos problemas da porta para fora que a cidade precisa enfrentar e resolver. Segundo pesquisa recente, 78% dos porto-alegrenses consideram a saúde do município de péssima qualidade.

A campanha de Manuela sustenta que os principais problema da prefeitura de Porto Alegre atualmente são a falta de um projeto estratégico de futuro para a cidade e a má gestão, que gera a falta de atendimento e de políticas públicas efetivas para a população. Como exemplo disso, tanto o programa de Manuela na TV como sua grade de inserções apresentaram dados do Ministério da saúde que comprovam o envio de 160 milhões de reais adicionais para o município em 2011, que deveriam ser destinados para a realização de consultas especializadas. Só que, contraditoriamente, neste mesmo ano, o governo municipal realizou 104 mil consultas a menos. Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, hoje, 75 mil pessoas aguardam na fila de consultas em Porto Alegre, espera que pode durar meses ou até por mais de um ano. Esta denúncia poderá acirrar os ânimos e o debate eleitoral na próxima semana. Tem potencial para trazer o candidato da situação – que tem mostrado na TV uma cidade que beira a perfeição, onde tudo funciona – para um debate mais tangível e mais próximo da vida real das pessoas e da cidade.

A penúltima semana de campanha inicia, então, com os argumentos de cada um dos candidatos bem postos em seus programas de TV e rádio. Apesar da vantagem de Fortunati nas pesquisas, tudo indica que a eleição de Porto Alegre irá mesmo para o segundo turno. Manuela e Fortunati ainda irão se enfrentar em pelo menos mais três debates de televisão, campo de batalha no qual ela tem obtido desempenho notavelmente superior ao do candidato da situação. E a reta final também é o momento da militância fazer a diferença na rua e na disputa acirrada, voto a voto.

Portanto, nada está certo ainda na eleição da capital gaúcha e todos os esforços tem um vértice: neste momento, quem manda mesmo é o eleitor e a sua sabedoria: nestes próximos dias vai estar atento aos movimentos de cada um dos candidatos, suas propostas e seus argumentos e, a partir daí sim, vai consolidar a sua intenção.

* Clomar Porto é jornalista, membro da direção estadual do PCdoB-RS e da coordenação executiva da Campanha Manuela Prefeita

Atualizado às 14h29