Capriles quer liquidar internacionalismo da revolução bolivariana

Neste domingo (30), o candidato direitista de oposição ao presidente Hugo Chávez, Henrique Capriles, realizou seu último comício, em Caracas, para uma multidão vermelho-azul-amarela que tomou a totalidade da avenida Simón Bolívar, no centro da cidade. Em seu discurso, Capriles deu uma clara sinalização para os demais países latinos: se eleito, vai acabar com a revolução bolivariana, pelo menos em seu aspecto internacionalista.

Por Vanessa Silva, enviada especial do Vermelho a Caracas

Sob um calor de mais de 30 graus, milhares de pessoas ouviram os 45 minutos de exposição do candidato, focada em um dos principais gargalos da Venezuela contemporânea: a violência e consequentemente o medo. Apresentando-se como mudança, Capriles fez promessas genéricas sem focar-se em propostas concretas.

Entre as questões que pontuou estão, além do fim da violência, a criação de empregos para jovens, e mais enfaticamente, a reabertura da RCTV – empresa que esteve envolvida no golpe de Estado de 2002 e teve sua concessão revogada por Chávez em 2007. Seu lugar no espectro eletromagnético foi ocupado pela Teves (Televisora Venezoelana Social), canal de cultura e esportes.

Sem propostas, o discurso do presidenciável da MUD (Mesa da Unidade Democrática) centrou-se nos ataques a Chávez.

Fim da revolução bolivariana

Capriles vem sendo criticado por Chávez por esconder seu verdadeiro plano de governo, de direita, apresentando-se como a alternativa “à esquerda e ao centro”. Neste domingo (30), no entanto, o candidato deu uma pista do que prepara caso fosse eleito.

A principal proposta de Chávez é continuar construindo o socialismo do século 21 na Venezuela, lembrou durante o discurso, e, em um sinal do que pretende para o futuro do país, Capriles questiona: “o que o socialismo do século 21 fez por Caracas?” Ele mesmo responde: “a única coisa que o governo fez pela população foi a construção de casas”, e logo rebate argumentando que essas casas entregues não têm título de propriedade, que seriam então dados por ele.

A questão das moradias é impossível de esconder. Em um rápido passeio por Caracas é possível ver diversas placas indicando que estão sendo construídos novos apartamentos da “Missión Vivienda” em lugares centrais da cidade. E o projeto se espalha por todo o país. O programa tem 3.676.339 de famílias cadastradas e já entregou casas para mais de 217 mil famílias.

De interesse não só para o Brasil, mas toda a América Latina, Capriles criticou ainda o que chamou de “tentativa de exportar a revolução” com “presentes” a outros países. O candidato citou os números da ajuda internacional que o governo bolivariano deu aos países latino-americanos, mas não mencionou em que período. No total, segundo ele, foram 259 bilhões de bolívares fortes. A “ajuda” mencionada foi dada aos países que integram a Alba ou o Mercosul e fazem parte, principalmente, da proposta da Alba, de “estimular o intercâmbio comercial a favor do desenvolvimento” das nações.

O candidato da direita venezuelana  enfatizou que “vai investir na Venezuela os recursos que são dos venezuelanos”. Antes dele, um aliado que subiu ao palanque foi mais explícito: “nenhuma gota mais de petróleo para Cuba. Todos os barris que saírem daqui terão que ser pagos em bolívares”.