Entre debates e planos, Europa segue em crise
Para além do anúncio de planos e propostas em geral, a falta de soluções concretas e efetivas persiste na Europa, apesar da firmeza dos problemas da dívida.
Publicado 15/10/2012 11:23
Uma crise de quase três anos ao que parece não basta para atingir consenso. Entre reuniões e revisões, os principais líderes do chamado Velho Continente seguem debatendo, mas sem resultados precisos à vista.
Até o momento, as diferenças de interesses têm tido maior peso que a necessidade de resolver uma crise que localiza os níveis de desemprego em máximas históricas e que mantém a incerteza entre os consumidores.
Quando finalmente surge o que parece ser uma medida possível ou viável, também emanam com força critérios que freiam sua implementação.
A recente proposta da Comissão Europeia (CE) de criar um supervisor bancário único para enfrentar a crise na Eurozona continua gerando diversos debates.
Legisladores do Parlamento Europeu advertiram que essa disposição poderia provocar divisões dentro do conjunto dos 27 países que integram a União Europeia (UE).
A CE defende a ideia de um supervisor bancário único na zona monetária (de 17 membros) que cobrirá todos os bancos no grupo, enquanto os países membros da união, que não pertencem ao euro e assim o queiram, poderão ser somados ao mecanismo.
O Banco Central Europeu (BCE) seria a instituição que assumiria a responsabilidade em estreita cooperação com os organismos reguladores nacionais.
No entanto, os estados da UE que não pertencem ao euro e contam com suas próprias moedas estão preocupados porque asseguram que poderiam se ver indiretamente afetados pelos novos poderes de supervisão do BCE e ficar em desvantagem competitiva.
Inclusive alguns parlamentares falam de uma divisão muito explosiva que partiria a união em duas.
Em tal sentido, sobressai-se o caso do Reino Unido, pois, ainda que permaneça fora do esquema, muitos bancos internacionais em Londres têm operações na zona da moeda comum, que serão afetados pelo novo alcance supervisor do BCE.
Os analistas dizem que Londres se preocupa que o chamado guardião do euro, amparado por seus novos poderes, exija regulações que possam minar a posição da cidade como a capital financeira da Europa.
A CE ademais advoga o reforço do mercado único na UE, ao considerá-lo importante para favorecer a criação de empregos e a expansão do crescimento.
A fonte comunitária chamou à consolidação da abertura dos mercados entre todos os membros.
Para isso considerou necessária uma integração "real" das redes de transportes e energia, o que incluiria a liberalização dos serviços nacionais de transporte de passageiros por ferrovia, com o fim de intensificar a concorrência no setor dentro do bloco e de reduzir os preços para os consumidores.
A CE respaldou a eliminação dos obstáculos jurídicos e práticos à mobilidade dos cidadãos e à contratação transfronteiriça.
E ainda realçou a importância de fomentar os investimentos em conexões de banda larga de alta velocidade e promover o comércio eletrônico com o propósito de poupar despesas.
O objetivo é que todos os cidadãos, em qualquer parte da UE, possam aproveitar as oportunidades que brinda o mercado único.
A legalidade do novo programa de compra de bônus anunciado pelo BCE também centra a atenção dos mercados em momentos em que cresce o pessimismo pelos problemas na Eurozona.
O BCE e o Banco Central de Alemanha, Bundesbank, estão revisando que escala e duração poderia atingir o plano antes de violar os tratados da UE, segundo um material do periódico alemão Bild.
O jornal explicou que o fundo do problema era a controvérsia sobre se o programa de compra de bônus desrespeita a proibição nos tratados da UE de financiar diretamente os estados deficitários.
A revisão da legalidade contempla a possibilidade de que o tema seja remetido à Corte Europeia de Justiça.
Ainda que a medida tenha como objetivo rebaixar os custos do endividamento dos membros do bloco, como Espanha e Itália, ao comprar sua dívida, na Alemanha alguns opinam que o BCE está se excedendo em suas funções.
Como é de se esperar, o presidente dessa entidade, Mario Draghi, manifestou em reiteradas ocasiões seu apoio ao plano de compra de bônus ante as dúvidas sobre sua efetividade.
Segundo Draghi, o objetivo é que o crédito bancário flua e que se consiga uma boa transmissão da política monetária, e não financiar governos.
Ele opinou que as ações do BCE só podem servir de ponte para o futuro, ao acrescentar que o projeto tem que ser completado mediante passos decisivos por parte dos governos.
O plano melhora a confiança nos mercados financeiros, pelo que a economia da Eurozona deve voltar ao caminho do crescimento no próximo ano, apontou.
Diretores do BCE asseguram estar preparados para comprar quantidades ilimitadas de bônus emitidos por estados membros da zona, sempre que pedirem ajuda formal e cumprirem estritas condições de política interna.
O chamado guardião do euro mencionou a adesão estrita às normas estabelecidas por parte dos governos necessitados de assistência para reduzir o risco e as taxas de juros.
A verdade é que entre revisões e debates continua passando o tempo e a crise iniciada no final de 2009 segue semeando a cautela e freando a expansão econômica.
Fonte: Prensa Latina