Mapuches presos em greve de fome se opõem à alimentação forçada
Os mapuches que foram encarcerados emitiram um breve comunicado em que deram a conhecer que seguirão sem ingerir alimento e que levarão seu protesto até as últimas consequências. Um senador chileno pediu ao presidente Sebastián Piñera que preste mais atenção à comunidade mapuche.
Publicado 17/10/2012 20:01
Os quatro presos mapuches em greve de fome rechaçaram nesta terça-feira as tentativas das autoridades de alimentá-los à força e prometeram que, se for necessário, costurarão a boca.
Através de um comunicado, os privados de liberdade, que levam 51 dias sem ingerir alimentos, manifestaram que seguirão sua luta dia a dia e que estão convencidos que chegarão até as últimas consequências.
Pode-se ler no comunicado que "sabemos que é muito arriscado pelo tema da saúde, mas vamos dar a vida se for necessário. Se querem nos alimentar à força, costuraremos a boca”, expressaram.
Acrescentaram que sua luta não é só pela liberdade, mas que fazem pelo seu território, para defender seus direitos humanos tal como todas as comunidades aborígenes fazem.
Disseram que "lutaremos até o fim; se for possível, estamos dispostos a dar a vida e mais”.
Erick Montoya, Rodrigo Montoya, Paulino Levipan e Daniel Levinao deixaram de ingerir alimentos em 27 de agosto em pedido que a Suprema Corte de Justiça revise suas condenações.
Os dois últimos foram sentenciados dias antes a dez anos e um dia de presídio pelo delito de homicídio frustrado a Carabineiros em atos de serviço e a 541 dias de presídio por porte ilegal de arma de fogo.
Além da revisão de suas causas e da anulação de suas condenações, com a greve os réus reclamam que não tenham mais testemunhos protegidos e fim das montagens político-judiciais contra os indígenas.
Os privados de liberdade pedem a desmilitarização imediata do território mapuche, assim como a finalização de torturas a crianças, mulheres e idosos nas invasões contras as comunidades e a liberdade a todos os presos políticos dessa comunidade.
O senador, membro do Partido pela Democracia, Eugenio Tuma, considerou que as condenações aos cidadãos mapuches "são um reflexo das injustiças de que este povo é vítima”.
Tuma disse que "já são 12 anos de prisão a pessoas que não provocaram nem um arranhão a ninguém, no entanto, aqueles que ocasionaram a morte de jovens mapuches estão livres, então há uma explicação para dar, os tribunais devem fazer uma mea culpa, o governo deve fazer uma mea culpa para corrigir”.
Denunciou que quando estes jovens protestam através de uma greve de fome "os põem em salas de isolamento, sem luz, às escuras durante 23 horas diárias”.
Em sua opinião, essa injustiça é a causa de que se produzam grandes marchas como a de ontem, na qual milhares de pessoas, indígenas e não-indígenas, reclamaram liberdade para os retidos.
"Quem mais deveria colaborar são aqueles têm responsabilidades políticas, que devem assumir uma conduta que tem a ver com a solução de fundo, e não ir à região para fazer um ato publicitário, de imagem, que não resolve o tema de fundo”, comentou o senador em alusão à visita que nesta terça-feira realizará para a comuna de Ercilla o presidente Sebastián Piñera.
Tuma recordou que a sociedade chilena em seu conjunto é formada por todos os estratos sociais, incluindo a comunidade indígena. "Por muito tempo os mapuches se tornaram invisíveis a todos porque são tratados de maneira injusta, e o exemplo dos quatro presos é claríssimo”.
Fonte: Adital