Moisés Saab: Israel e a ciência do extermínio palestino

O nascimento de Israel foi marcado por um fato que anunciava uma essência genocida: o extermínio dos habitantes da aldeia palestina de Deir Yessin, equiparado à aniquilação de Lídice, a cidade mártir tcheca, pelos nazistas.

Por Moisés Saab, em Prensa Latina

A diferença é que o segundo fato é referência comum, e o primeiro, cada vez mais, fica envolto na bruma do tempo.

Contudo, revelações sobre um programa realizado pelas autoridades israelenses para manter os habitantes em Gaza no limite mínimo da sobrevivência trazem de novo à tona na atualidade o drama dos palestinos tanto na Cisjordânia, como na Faixa de Gaza, cenário desde o último fim de semana, de bombardeios diários da aviação e dos tanques do exército de Tel Aviv.

Ademais, nestes momentos, uma flotilha humanitária carregada de alimentos e medicamentos arrecadados mediante doações populares em vários países, se dirige para essa zona, apesar das advertências do governo do primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, segundo as quais impedirão a chegada a porto das naves civis.

Entre 2007 e 2010, uma das dependências do aparato militar israelense administrou o fluxo de alimentos a Gaza para manter os residentes à beira da inanição, conforme documentos revelados por ordem de um tribunal a pedido de uma entidade humanitária.

O informe foi confirmado por um porta-voz militar, o major Guy Inbar, que precisou que os especialistas das forças armadas criaram uma fórmula matemática que permitiu determinar a ração mínima necessária "para evitar uma catástrofe humanitária", segundo a descrição do interpelado.

A intenção do racionamento obrigatório, na falta de outra expressão, foi pressionar a organização palestina Hamas, que controla a área, acrescentou o major, assegurando, porém, que "nunca foi posta em prática".

Mesmo com a explicação do testemunho, é notório que na Faixa de Gaza os habitantes sobrevivem graças a uma rede de túneis que a conectam com a Península do Sinai, no Egito, através da qual se registra um ativo contrabando de bens e mercadorias que são revendidos a preços inflacionados.

Naqueles anos, as autoridades israelenses tinham catalogado Gaza como "território hostil" e decretaram as restrições que, certamente, tinham como alvo a população civil, cerca de 1,5 milhão de seres humanos, como fórmula para "pressionar o governo do Hamas".

Entre as peculiaridades do bloqueio, os burocratas militares autorizaram a passagem de salmão defumado e iogurte desnatado, verdadeiros luxos, mas proibiam a passagem de produtos de uso cotidiano como o café e o coentro, de acordo com os documentos militares.

As restrições foram levantadas de maneira parcial em maio de 2010, mas o bloqueio naval continua vigente e está convertendo Gaza em uma zona impossível de habitar, segundo um estudo da ONU difundido semanas atrás.

A escassez de infraestrutura, destruídas pela aviação israelense entre finais de 2008 e princípios de 2009 durante a Operação Chumbo Fundido, que os palestinos chamam de Massacre de Gaza, somadas a medidas punitivas de diversa ordem transformaram a Faixa de Gaza em uma espécie de Gueto de Varsóvia multiplicado de maneira exponencial.

Em finais de 1940, as autoridades nazistas de ocupação na Polônia determinaram confinar os judeus em uma zona da capital polonesa, da qual só poderiam sair com autorização para trabalhar: começava a história de um dos tantos crimes das tropas hitleristas na Europa, cujo clímax foi o levantamento do Gueto de Varsóvia entre 18 de janeiro de 1943 e 9 de abril do mesmo ano.

Milhares de judeus morreram presos nos edifícios incendiados pelas tropas do Reich, fuzilados ou em combate.

Fica evidente que a lição seria assimilada pelos sobreviventes da matança que, ao chegarem à Palestina ocupada pela Grã Bretanha, se integraram aos bandos terroristas como Stern, Palmach e Irgun, este último o antecedente do partido Likud, que lidera a atual coalizão de governo em Israel.

Elementos dessas entidades, qualificados de terroristas por personalidades judias, como Albert Einstein ou políticos como o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill, foram os encarregados de "dar uma lição" aos palestinos que resistiram às agressões dos colonos sionistas do nascente Israel.

São cada dia menos casuais as semelhanças entre as fórmulas "dar uma lição", "povo escolhido" e "necessidade de espaço para refugiados", inventadas por Israel, com as fórmulas nazistas "espaço vital", "solução final" e os experimentos criminosos com prisioneiros internados em campos de concentração nazistas na 2ª Guerra Mundial.