Poema para Saramago

Por Clóvis Campêlo

Saramago
Quando chegares aos céus

não mais terás consciência

para percebê-lo.

Serás etéreo, vapor,

nuvem passageira.

No entanto, também serás

a essência preservada

da natureza,

simples circunstância.

O teu, era um sonho

terreno, consistente,

feito em rocha,

não mais caberia

nas nuvens.

O que te alimentava

era o desvendar

e a recriação constante

do código dos homens.

Nada era definitivo

e a verdade escondia-se

nas entrelinhas.

Talvez tenhas sido

o bobo da colina

ou o último guardião

das possibilidades negadas.

Teu vulto frágil

era assustador

e o verbo, desde

o princípio, recusava

o sonho inútil

e o tempo desperdiçado.

 

(Recife, 2010)
 
Fonte: Geleia General