Filmes pernambucanos estreiam em SP

 Duas produções inéditas de matriz pernam­bucana concorrem na se­ção Novos Diretores da 36ª Mos­tra Internacional de Cinema de São Paulo. A ficção “Jardim Atlântico”, de Jura Capela, e o do­cumentário “Francisco Brennand”, de Mariana Fortes, confir­mam o bom momento do cine­ma feito no Estado. Com par­ticipação de músicos como Ot­to e Céu, “Jardim Atlântico” utiliza do gênero musical para discutir a violência entranhada na Nação brasileira.

 O foco está em quatro jovens que vivem uma “jam” hedonista durante o Carnaval. Romântico demais para tal contexto, um dos rapazes não suporta a experiência e cai no fosso escuro do ciúme, afugentando a namorada. Rodado no Rio de Janeiro e Pernambuco, com gravações submarinas em Fernando de Noronha, sob diferentes abordagens, ele investiga a dinâmica afetiva e sexual contemporânea, tendo como pano de fundo a nossa contraditória realidade social.

Elogio à arte de fazer cinema, “Jardim Atlântico” se reinventa a cada bloco, revelando uma vontade latente de existir apesar de percalços como a desis­tên­cia de Hermila, resolvida ao ser incorporada à história. Ao assumir riscos como estes e experimentar visual e narrativamente, o filme faz refletir sobre como a força do cinema pode ser melhor explorada.

Escultor do tempo

Impossível não relacionar a presença de Brennand na Mostra com seu homenageado, An­drei Tarkóvski. Ambos construíram um universo próprio, à parte da vida cotidiana, capaz de manipular o tempo. Com fotografia de Walter Carvalho, direção de ar­te de Daniela Pinheiro e narra­ção de Hermila Guedes, “Francisco Brennand” ex­põe a intimi­dade do artista, re­cluso há quatro décadas no bair­ro da Várzea. O filme promo­ve uma imersão no universo particular de Brennand sem depoimentos ou didatismos.

Ao saber que sua sobrinha-ne­ta queria fazer um filme so­bre ele, o ceramista confiou a ela um diário iniciado em 1948. Da vida, ressalta-se as mulheres que serviram de inspiração pa­ra as pinturas, e a relação com o pai, Ricardo, de quem recebeu as chaves da oficina em 1978. “Sabia que nunca mais sai­ria de lá”, disse Francisco. A­lém do diário, ba­se para a narração, em sua pes­quisa a diretora encontrou pre­ciosos rolos de super 8, que mostram a construção da cidadela.

Fonte Folha de PE