Mujica: ex-guerrilheiro de vida espartana

"Eles dizem que sou o presidente mais pobre do mundo. Deixe-me dizer que não sou o mais pobre. Pobres são aqueles que precisam de muito." O homem que pronunciou essa frase tem, como único bem, um automóvel Volkswagen Fusca azul avaliado em US$ 1,9 mil.

Todos os dias, ele pega seu carro e faz o trajeto da chácara onde vive com a mulher, a senadora Lucia Topolansky, até o palácio presidencial. Recebe um salário mensal de US$ 12,5 mil, mas doa cerca de US$ 11.250 para obras de caridade. Detalhe: Lucia faz o mesmo. O presidente José Mujica, 77 anos, explicou certa vez ao jornal espanhol El Mundo por que decidiu se contentar com uma vida quase espartana. "Há muitos uruguaios que vivem com muito menos".

O desapego de Mujica com o dinheiro tem raízes ideológicas e históricas. "Eu descobri as chaves para isso nas celas da prisão. Se seu não tivesse passado aqueles anos lá, eu não seria quem sou, porque alguém aprende mais da dor do que da generosidade", comentou o presidente uruguaio. Ex-guerrilheiro do Movimento Tupamaros, uma guerrilha inspirada na Revolução Cubana, Mujica foi ferido a bala e preso em 1972. Ficou detido por 13 anos, até o restabelecimento da democracia.

O jeito simples também está expresso nas fotografias em que ele se deixa mostrar. Em uma imagem recente, Mujica é visto aparando a barba num salão de Montevidéu. Em outra, aparece de calça jeans, se esforçando para sair de seu Fusca. Em 2010, nas comemorações do 1º de Maio em 2010, compareceu a uma cerimônia vestido com trajes simples, ao lado da mulher e de seu cachorro. O presidente não possui conta bancária e despreza formalidades. É a antítese de líderes de outras nações em desenvolvimento, como alguns africanos, que recebem salários encorpados, enquanto a maior parte de seus eleitores vive abaixo da linha da pobreza.

Fonte: Correio Brazilense