Há 110 anos nascia o poeta Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade completaria 110 anos nesta quarta-feira (31). Grande divulgador do modernismo, o escritor entrou para a história da literatura brasileira essencialmente como poeta, apesar de sua produção incluir livros infantis, contos e crônicas.

Por causa dos 110 anos que o poeta completaria este ano, a 10ª Edição da Feira Literária de Paraty (Flip) que ocorreu em Paraty, no sul do Estado do Rio, realizou, em julho deste ano, uma marcante homenagem para Drummond. 

Nascido em Itabira, no estado de Minas Gerais, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto, aos 23 anos, por insistência da família. Nesse período fundou com outros autores, como Emílio Moura, "A Revista", periódico de divulgação do modernismo no Brasil.

Após mudar-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete do Ministério da Educação até 1945, Drummond colaborou como cronista nos jornais Correio da Manhã e Jornal do Brasil. Na então capital federal lança algumas de suas obras mais importantes, como "Sentimento do Mundo" (1940), "A Rosa do Povo" (1945) e "Claro Enigma" (1951).

Uma das marcas da obra do escritor foi a variedade de temas. "Sua poesia é tanto amorosa quanto política. Trata tanto dos grandes acontecimentos como do cotidiano", disse em entrevista à imprensa o autor Silviano Santiago , palestrante da mesa de abertura da Flip 2012 , na qual o poeta foi o homenageado.

A seguir assista depoimento da imortal Lygia Fagundes Telles que, emocionada, fala quem foi Carlos Drummond de Andrade.


Morte

Carlos Drummond de Andrade morreu em 17 de agosto de 1987, aos 84 anos. Durante a Flip deste ano foram lançados alguns trabalhos inéditos do escritor. Entre as principais publicações destacam-se "25 Poemas da Triste Alegria" (Cosac Naify), livro de 1924 nunca publicado pelo autor, e "Cyro & Drummond" (Editora Globo), que reúne 50 anos de correspondência entre Drummond e o escritor Cyro dos Anjos.

Sua obra oficial tem sido relançada pela Companhia das Letras , que venceu a disputa pelos direitos de Drummond com a Record. Entre os livros já lançados estão "A Rosa do Povo" (1945), "Claro Enigma" (1951), "Contos de Aprendiz" (1951), e "Fala, Amendoreira" (1957).

A seguir um poema para relembrar esse grande artista:

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

Com agências