Dossiê quer ajudar a esclarecer morte suspeita de Anísio Teixeira

“É difícil extrair a verdade de acontecimento tão controverso, passados 41 anos. Mas não é impossível. Difícil mesmo é a Nação brasileira conviver com a dúvida atroz e interminável sobre o que aconteceu com um de seus mais ilustres filhos, o Professor Anísio Teixeira”.

Dossiê vai ajudar a esclarecer morte suspeita de Anísio Teixeira

A fala é do ex-deputado Haroldo Lima e sobrinho de Anísio Teixeira, em depoimento nesta terça-feira (6), no Ato de Entrega de Memorial à Comissão Nacional da Verdade e Comissão da Verdade da Universidade de Brasília (UnB), sobre as circunstâncias suspeitas da morte do educador e ex-reitor Anísio Teixeira, no Rio de Janeiro, em 1971, durante a ditadura militar.

No evento, a família de Anísio Teixeira entregou às duas comissões e apresentou ao público um dossiê inédito sobre as circunstâncias da morte do educador e as perseguições que ele sofreu no regime militar. A entrega e apresentação foi feita pelo filho do educador Carlos Teixeira, que assina o documento.

Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que participou do evento, o passo dado pela família do educador é um dos muitos que já começam a contribuir na restituição da história do País. “Nossa expectativa é que a história seja resgatada por esta Comissão para que erros do passado não retornem”, lembra a deputada.

Jandira também afirmou a necessidade de que a iniciativa da UnB se multiplique em outras instituições do País: “É preciso que outras universidades se inspirem e criem também grupos que atuem nesse sentido, para que o passado seja resgatado”, concluiu.

Durante a audiência, Anísio também foi lembrado por fotos e pela exibição do documentário "Anísio Teixeira: educação não é privilégio”.

Fatos não esclarecidos

Para Haroldo Lima, aqui no Brasil, ainda não conseguimos virar a página do período ditatorial porque episódios em que sucumbiram diversos brasileiros não foram até hoje esclarecidos.

E afirmou a importância da Comissão Nacional da Verdade para esclarecer esses fatos, destacando como “o mais pungente, dos que precisam ser esclarecidos, seja o do Araguaia. E dos que envolvem a morte de uma personalidade de grande destaque nacional, talvez o mais chocante, seja o que ceifou a vida de Anísio Teixeira”.

Haroldo fez um histórico da vida do educador, destacando como o coroamento de seu trabalho, a fundação da Universidade de Brasília. O golpe de 1964 encontra Anísio como Reitor desta Universidade. 

Segundo contou Haroldo Lima, o empenho e destemor de Anísio em fortalecer a escola pública, universal, gratuita e de boa qualidade e seus projetos e experiências pioneiras de escola em tempo integral, realçavam o caráter progressista de suas ideias. E o reacionarismo das elites via Anísio como um comunista, ou simpatizante do comunismo, o que, para eles significava uma ameaça ao Brasil.

Fatos do Memorial

Na primeira parte do Memorial, há o registro do sucedido no dia 12 de março de 1971, uma sexta-feira, dia seguinte ao desaparecimento de Anísio. Está lá escrito: “No final do dia, Paulo Alberto traz a informação de que o acadêmico Abgar Renault (amigo e colaborador de Anísio) soube pelo Comandante do I Exército, General Sizeno Sarmento, que Anísio Teixeira estava detido na Aeronáutica para averiguações e que no dia seguinte teria condições de informar em qual dependência.”

No dia seguinte, Anísio apareceu morto. Ele foi encontrado no fosso do elevador do edifício onde morava Aurélio Buarque de Holanda. Estava de cócoras, em um platô de cimento armado, com a cabeça sobre os joelhos e com as mãos segurando as pernas. Duas vigas, com separação de um pouco mais de um palmo, situavam-se acima de seu corpo.

Segundo a polícia: “acidente é praticamente impossível, a posição do corpo fere tudo o que já foi visto até hoje na base do acidente. Alguém matou e colocou ali o cadáver do Professor Anísio Teixeira”.

De Brasília
Márcia Xavier