Europa protesta contra austeridade com greves e manifestações

A Europa parou nesta quarta-feira (14) em um dia de greves e manifestações. Milhões de pessoas foram às ruas, em passeatas e protestos em dezenas países. O ato internacional reivindica mais empregos e protesta contra as medidas de austeridade que têm sido tomadas pelos governos da região.

De acordo com a Ansa, o "Dia Europeu de Ação e Solidariedade", convocado pelos principais sindicatos, começou nesta quarta em 23 países do continente, entre eles Espanha, Grécia, Portugal, Itália, Bélgica, Alemanha e França.

Os sindicatos exigem dos dirigentes que "demonstrem sua vontade de solucionar a degradação do emprego e respondam à crescente angústia social da cidadania".

A líder sindical inglesa Judith Kirton-Darling declarou à BBC que as medidas de austeridade em muitos países europeus não estão funcionando. "Estas políticas estão aumentando as desigualdades, aumentam a instabilidade social nas populações e não estão resolvendo a crise econômica", destacou.

Mais de 25 milhões de pessoas estão desempregadas nos países da União Europeia. A taxa de pessoas sem trabalho é de 10,6% em toda a zona do euro, com 23,3% dos jovens desempregados.

Por toda a região, ocorrem greves parciais e atos públicos. No sul da Europa, na Península Ibérica, no entanto, há greve geral. A paralisação une Portugal e Espanha com o mesmo objetivo: protestar contra a receita que junta aumentos de impostos e cortes de salários e benefícios para equilibrar as contas e que, segundo os trabalhadores, é o que provoca a atual situação de recessão e desemprego.

Espanha

Na Espanha, houve conflitos entre trabalhadores e policiais. Pelo menos 62 pessoas foram presas e 34 ficaram feridas. É a segunda greve geral desde que o premiê Mariano Rajoy assumiu o país, em dezembro de 2011, e a nona greve realizada na Espanha desde o início da crise econômica europeia. O desemprego espanhol já atingiu a marca de 25%.

As centrais sindicais comunicaram que, já nas primeiras horas do dia, houve enorme adesão dos setores industriais, energéticos e de serviços, dos mercados de alimentos e das grandes obras de infraestrutura.

As associações afirmam que há paralisação de quase 100% nos portos (a exceção de 90% em Bilbao e 50% em Melilla), 90% dos aeroportos e no transporte rodoviário e ferroviário. “A paralisação na indústria foi quase total, embora tenha havido menor incidência nas fábricas da Renault e da Citroen”, afirma o secretário de comunicação da UGT, José Javier Cubillo. Em Madri, a greve paralisou totalmente o serviço de metrô, segundo a UGT.

A greve causou o cancelamento de 131 voos nas primeiras horas do dia. Das 2.322 operações de decolagem e aterrissagem programadas para esta quarta-feira, 1.344 são consideradas serviços mínimos e não devem ser afetadas.

O primeiro ato do dia ocorreu na Praça do Sol, em Madri, onde os líderes sindicais discursaram clamando para que os trabalhadores não tivessem medo de ameaças feitas pelas empresas para que não seguissem a greve, e que as denunciassem.

O secretário-geral do sindicato CCOO, Ignacio Fernández Toxo, acusou o governo de aplicar "medidas suicidas" contra a população, e o líder do sindicato UGT, Cándido Méndez, pediu aos manifestantes uma "greve de consumo", dizendo que não devem comprar nada durante a quarta-feira.

Portugal

Em Portugal, a terceira greve do ano atinge mais o setor público, principalmente os transportes. Não há metrô e praticamente não circulam trens, ônibus ou barcas. A Confederação Geral de Trabalhadores de Portugal anunciou que, logo nas primeiras horas do dia, já considerava a greve um sucesso, com uma adesão de mais de 90% em diversos serviços.

Na noite de terça-feira, fábricas e hospitais já haviam deixado de funcionar em sua totalidade. O governo português não divulgou números da greve, mas indicou que não pretende voltar atrás em suas políticas econômicas.

O líder da CGTP, Arménio Carlos, criticou a presença de policiais e de forças especiais de segurança, como a tropa de choque, junto a piquetes de greve em Lisboa, classificando-as de “brutalidade”.

“Esta pressão reflete o clima de preocupação do governo, que sabe que perdeu até a sua base de apoio eleitoral. Mesmo as pessoas que votaram PSD (Partido Social Democrata) e CDS-PP (Centro Democrático Social-Partido Popular) [que formam o governo] estão zangadas, revoltadas, e a utilização de forças de segurança, que deveriam estar a combater o crime, para intimidar os trabalhadores e os sindicatos, é uma atitude inadmissível e um exemplo de brutalidade”, diz o sindicalista.

Grécia

No âmbito dos protestos, a Grécia convocou uma greve geral de três horas, que começou ao meio-dia local. A manifestação "contra as políticas destrutivas neoliberais impostas na Europa que matam as pessoas e os países em nome da chamada crise da dívida", foi organizada pelas principais confederações sindicais da Grécia, o GSEE (setor privado) e o Adedy (público), assim como pelo POE-OTA, o sindicato de trabalhadores municipais.

As duas primeiras organizações já iniciaram uma greve na terça-feira e o POE-OTA manterá a sua greve até quinta-feira. Pelo menos meia dezena de edifícios foi ocupada em protesto pelos planos de demissões de 25 mil funcionários públicos até ao final de 2013. Vários municípios começaram uma campanha de desobediência contra o governo, recusando-se a enviar uma lista de pessoas para a demissão.

Os advogados e os juízes participam na greve, que manterão durante toda a semana. Os professores de todos os níveis educativos param por três horas para denunciar a baixa dos salários, anunciando o fechamento de duas mil escolas e o corte no orçamento da Educação.

Itália

Na Itália, os protestos contra as políticas do governo deixaram seis pessoas feridas, uma delas em estado grave, após confrontos entre manifestantes e policiais em Milão e Turim, informaram meios de comunicação italianos.

Roma também foi palco de protestos e de uma greve geral de quatro horas, convocados pelo maior sindicato do país, CGIL. "Somos a Europa que se rebela, não devemos nada a ninguém", dizia um cartaz gigante em um protesto de estudantes universitários no centro histórico da capital italiana, praticamente bloqueada por quatro marchas diferentes.

Com agências