Nomeação de nova reitora provoca greve de estudantes da PUC-SP

Estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) decretaram greve na noite de terça-feira (13), depois da divulgação da nomeação da nova reitora, a professora Anna Cintra, que ficou em terceiro lugar na eleição da universidade. Os estudantes aprovaram a paralisação em assembleia ontem à noite e ratificaram a decisão em uma nova assembleia na manhã desta quarta. Outra assembleia acontecerá na quarta (21), pouco antes de uma audiência pública às 19h, no Teatro da PUC, o Tuca.

Ainda nesta quarta, ocorrem algumas outras assembleias, por curso, além de uma geral dos professores para discutir a adesão à paralisação. Professores e funcionários também estavam nas assembleias dos estudantes, mas não há ainda um posicionamento oficial da categoria. Há cursos, como o de Direito, que são favoráveis a decretarem estado de greve.

Após a assembleia de terça, os estudantes da PUC-SP ocuparam o prédio da reitoria, em Perdizes (zona oeste), em protesto contra a nomeação da nova reitora, feita pelo cardeal dom Odilo Pedro Scherer. Segundo o Centro Acadêmico Benevides Paixão, do curso de Jornalismo, a reitoria será entregue pelos estudantes na noite de hoje ao atual reitor.

Ana Cintra, que é do programa de Pós-Graduação em Língua Portuguesa, foi a terceira colocada no pleito. Em primeiro lugar ficou o atual reitor, Dirceu de Mello. Associações dos funcionários, a Apro-PUC (associação dos professores) e a Afapuc (associação de funcionários), emitiram nota repudiando o fato.

No texto, eles questionam a nomeação do cardeal: "Dom Odilo Scherer resolveu afrontar os princípios democráticos que sempre nortearam a nossa universidade: resolveu nomear ao cargo de reitor a candidata menos votada. Isso nunca aconteceu antes em nossa universidade".

Há pelo menos 30 anos, sempre foi respeitada a decisão da maioria dos votantes (professores, funcionários e estudantes) na consulta. De acordo com relatos ouvidos pelo Vermelho, a notícia foi publicada, ainda na terça, no portal da universidade diretamente pelo departamento de informática, sem ao menos passar pela comunicação da instituição. Além disso, houve demora na divulgação do resultado da consulta, que aconteceu em agosto deste ano.

O cardeal dom Odilo disse, por sua assessoria de comunicação, que não se pronunciará mais sobre o assunto. O documento da nomeação, emitido na segunda (12), pode ser consultado na página da instituição.

Segundo o secretário de Comunicação da Arquidiocese, Rafael Alberto, está previsto regimento interno somente uma consulta pública com a comunidade acadêmica, mas, o que define a nomeação, é a lista tríplice gerada pela consulta. "O arcebispo tem a prerrogativa de escolher a partir dessa lista tríplice.

Vale lembrar que o então governador José Serra (PSDB), em 2009, usou da mesma prerrogativa para escolher o segundo colocado na eleição da Universidade de São Paulo (USP), o atual reitor João Grandino Rodas. Fato que gerou bastante protesto por parte da comunidade da USP.

A nova reitora havia questionado o resultado das eleições, devido à anulação de cerca de 300 votos. Os votos foram recontados e novamente o mais votado foi o atual reitor. Alunos e professores ouvidos afirmam que a docente assinou um documento se comprometendo a não assumir o cargo, caso fosse nomeada. Ela não foi localizada pela reportagem.

Cunho religioso

Há especulações sobre quais motivos estariam por trás da nomeação de Ana Cintra, que durante a disputa eleitoral chegou a dar declarações de apoio à igreja, em entrevistas como ao jornal da PUC-SP. Em primeiro, estaria a intenção da Fundação São Paulo, ligada à ingreja católica, de imprimir mais a identidade católica na universidade.

Em segundo, a mais preocupante, é a de que haveria a intenção de desvincular a PUC-SP do Vaticano proporcionando a venda da mesma para a iniciativa privada.

"Isso não tem qualquer fundamento. De forma alguma há a intenção de entregar ao setor privado. Pelo contrário, queremos que a universidade tenha mais identidade católica em seus cursos, sem cerceamento da liberdade acadêmica e da pesquisa. Afinal, somos uma universidade confessional, ligada ao catolicismo, ao Vaticano, por isso existem nos cursos matéria que fala sobre os fundamentos do catolicismo", declarou Rafael Alberto, referindo-se à matéria Introdução à Pesquisa Teológica "IPT), presente em todos os cursos da graduação.

A Fundação São Paulo foi procurada, mas até o fechamento não retornou o contato inicial.

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho