Estudantes da PUC-SP fazem enterro da democracia

Depois de impedirem que a professora Anna Cintra assumisse a reitoria na manhã desta sexta-feira (30), os estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), realizam no início da noite de hoje um ato protesto contra a decisão do Grão-Chanceler da PUC-SP, Cardeal Odilo Pedro Scherer, de não reconhecer a decisão do Conselho Universitário, de anular a candidatura da professora.


imagem: divulgação Comissão de Comunicação dos Estudantes da PUC-SP em Greve

Anna Cintra, que é do programa de Pós-Graduação em Língua Portuguesa, foi escolhida pela igreja para assumir a reitoria, mesmo ficando em terceiro lugar na eleição. A escolha causou levou estudantes, professores e funcionários a decretarem greve há 17 dias.  Em primeiro lugar ficou o atual reitor, Dirceu de Mello. Associações dos funcionários, a Apro-PUC (associação dos professores) e a Afapuc (associação de funcionários), emitiram nota repudiando o fato na ocasião.

Uma audiência de conciliação realizada na quinta (29), no Tribunal Regional do Trabalho, entre representantes da Associação dos Professores da PUC-SP (Apropuc) e da Fundação São Paulo, mantenedora da universidade, terminou sem acordo. A fundação entrou na Justiça para tentar anular a greve, mas teve liminar negada. A juíza Rilma Hemetério considerou que se trata de uma questão política, e não trabalhista. Por isso não há como chegar numa conciliação.

Um dia antes, o Conselho Universitário da PUC-SP aprovou, por maioria absoluta, um parecer com efeito suspensivo da posse da professora Anna Maria Cintra como reitora, prevista para esta sexta.

Ao tomar conhecimento, o Grão-Chanceler da PUC-SP, Cardeal Odilo Pedro Scherer, emitiu nota julgando "nula de pleno direito a decisão do Conselho Universitário, por ferir ato jurídico perfeito, nos termos do artigo 5º inciso XXXVI da Constituição Federal." Ainda de acordo com o comunicado, dom Odilo ratificou a nomeação de Anna Cintra como Reitora da PUC-SP.

Para ele, ao contrário do que afirma a comunidade acadêmica, a Democracia não foi "sequer arranhada", tendo em vista que as normas estatutárias foram observadas e respeitadas durante o processo.

Juntamente com a nota da Fundação São Paulo, que mantém a universidade, foi divulgado um bilhete escrito a mão pelo Cardeal dom Paulo Evaristo Arns, se manifestando em defesa de Anna Cintra.

Na mensagem digitalizada, dom Evaristo Arns, responsável pela criação na década de 1970, do processo de escolha usado atualmente de chegar a uma lista tríplice a partir de uma consulta feita à comunidade acadêmica, afirma: "A democracia foi respeitada pois cardeal dom Pedro Odilo Scherer escolheu um dos três professores da lista tríplice".

Enterro da Democracia

Desde a quinta-feira os estudantes estão convocando a todos para um ato em frente ao prédio da PUC-Sp, em Perdizes, São Paulo (SP) para o que eles estão chamando de enterro da democracia na PUC-SP. Todos devem comparecer de preto para velar a democracia.

O movimento estudantil da universidade está em vigília no local para impedir que a professora assuma a reitoria. Para tanto, fizeram barricadas nos dois acessos à reitoria e fizeram, ainda, uma corrente humana para impedir que ela passasse. De acordo com relatos, depois de ser impedida de entrar, pegou um táxi acompanhada por seguranças.

Pela manhã uma lona preta foi estendida em volta do prédio, simbolizando o luto pela falta da democracia.

"O problema não é eles [Fundação São Paulo] terem respeitado a lista tríplice. O problema foi ter desrespeitado uma decisão democrática dos estudantes da PUC, juntamente com professores e funcionários da universidade. Há pelo menos 30 anos que o vencedor da eleição é o escolhido para a reitoria. E isso vinha sendo respeitado até então. É uma afronta do grão-chanceler. Ele não respeitou o direito legítido das urnas e da comunidade acadêmica", declarou Alexandre ‘Cherno’ Silva, presidente da União Estadual dos Estudantes de S. Paulo (UEE-SP), que estará presente no ato para apoiar a decisão dos estudantes.

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, reinterou a importância da luta da comunidade acadêmica da PUC-SP: "A UNE vai defender os estudantes até o fim, até que se consiga reestabelecer a democracia na instituição."

Passeata

Os estudantes realizaram um ato no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na tarde de quarta (28). Eles ocuparam duas faixas da avenida Paulista munidos de faixas em protesto contra a noemação de Anna Cintra, que foi escolhida pela igreja.

No dia seguinte, o deputado Carlos Giannazi (Psol), membro titular da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa, e também professor, protocolou um requerimento para que seja ouvido, na Assembleia Legislativa de S. Paulo, o grão-chanceler dom Odilo Scherer para explicar a crise que se instalou na universidade por conta do processo de escolha do novo reitor.

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho