Aldo Rebelo: O 123.º aniversário da República

Em 18 de novembro de 1889, o jornal Diário Popular, hoje Diário de São Paulo, publicou a célebre correspondência em que Aristides Lobo comentava a proclamação da República: “O povo assistiu àquilo tudo bestializado…"

Por Aldo Rebelo, ministro do Esporte

A observação de Lobo, que não entendeu a profundidade do acontecimento, apesar de ser republicano, é ainda hoje citada como sinal de que o movimento foi um acidente histórico superficial e indolor.

De fato, a República não chegou a ser uma ruptura tão sangrenta quanto a Independência, que mobilizou mais tropas que a dos Estados Unidos. Mas vinha no bojo de uma série de rebeliões, a começar da Conjuração Mineira e da Farroupilha gaúcha. A Monarquia não opôs resistência porque se esgotara na condução de um país que ingressava em nova fase do desenvolvimento. Uma poderosa classe que emergia em São Paulo, a burguesia cafeeira, reunida no Partido Republicano, forjou a mudança com vistas a um poder menos centralizador.

A conspiração civil foi forte e influente. Os militares tiveram papel essencial porque representavam o setor mais avançado das camadas populares da época. Não por acaso, os primeiros presidentes foram marechais. Coube ao segundo, o alagoano Floriano Peixoto, reprimir à bala as tentativas de restauração monárquica engendradas pelos adeptos do antigo regime.

O Brasil modernizou-se. Adotou o presidencialismo com voto direto, separou Estado e Igreja e concedeu liberdade de culto, regulamentou o casamento civil, reformou o sistema de ensino, criou um novo sistema monetário para estimular os negócios e incentivar a industrialização do país agrário. A nova Constituição instituiu a Federação, conferindo autonomia política aos estados. Atualmente, quando desfrutamos as mais profundas liberdades democráticas de nossa história, não há como deixar de valorizar a soberania do povo introduzida em 1889.

Coluna do ministro Aldo Rebelo publicada no Diário de São Paulo em 17/11/12