Haroldo Lima publica artigo sobre a morte do tio Anísio Teixeira

O ex-deputado federal e ex-diretor da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Haroldo Lima, está à frente das investigações sobre as verdadeiras causas da morte do educador baiano Anísio Teixeira (1900-1971), que aconteceu durante a Ditadura Militar (1964-1985).

Haroldo, que é sobrinho de Teixeira, elaborou um documento contendo informações que relacionam a morte do tio, cujo corpo foi encontrado no fosso de um elevador, com a de outras vítimas do regime militar, como Rubens Paiva e Stuart Angel.

O documento de 11 páginas foi entregue por ele à Comissão Nacional da Verdade (CNV), em uma audiência sobre o caso, em Brasília, no último dia 6. Além disso, o ex-deputado escreveu um artigo no jornal A Tarde, no último dia 16, em que revela detalhes da investigação. O Vermelho reproduz o artigo na íntegra:

“Fazer ressoar a voz da Bahia (A Tarde, 16 de novembro de 2012)

Há quarenta e um anos convivemos com uma versão falsa sobre as circunstâncias em que morreu o grande baiano Anísio Teixeira. Ele teria caído no fosso do elevador do edifício onde morava Aurélio Buarque de Holanda, a quem ia visitar. Mas no edifício ninguém viu nada, o porteiro não testemunhou coisa alguma, seu corpo estava em posição incompatível com a queda.

O membro da Academia Brasileira de Letras Afrânio Coutinho e os professores da Faculdade de Medicina da UFRJ, Domingos De Paula e Francisco Duarte Guimarães Neto, ambos anatomopatologistas, assistiram à autópsia e rejeitaram a hipótese do acidente, acharam que houve assassinato. Na edição do dia seguinte ao enterro do mestre, 15 de março de 1971, o jornal Última Hora, em longa cobertura jornalística, registrou “outra conclusão da polícia: acidente é pràticamente impossível, a posição do corpo fere tudo o que já foi visto até hoje sobre acidente. Alguém matou e colocou ali o cadáver do Professor Anísio Teixeira”. É a opinão de familiares e dos que se debruçam na análise do ocorrido.

O assunto voltou à baila agora com a criação da Comissão Nacional pela Verdade e da Comissão pela Memória e Verdade Anísio Teixeira da Universidade de Brasília. Na instalação desta, o professor João Auguusto Lima Rocha, da Politécnica da Bahia, perante uma platéia atônita, de uma Universidade fundada por Anísio, desmascarou a versão da morte por queda no fosso de elavador.

Familiares elaboramos, com o professor João Augusto, um Memorial dos principais acontecimentos ocorridos desde que o professor desapareceu até seu sepultamento. Em sessão conjunta das duas comissões, agora, no início de novembro, o professor da UFBA Carlos Antonio Teixeira, filho de Anísio, entregou o Memorial a cada uma das comissões.

A Comissão Nacional da Verdade foi criada para desvendar episódios controvertidos da época da ditadura. Desses, onde pereceram diversos brasileiros, talvez o mais pungente, seja o da guerrilha do Araguaia. E dos que envolvem a morte de uma personalidade de grande destaque nacional, talvez o mais chocante, seja o que ceifou a vida de Anísio Teixeira.

Anísio Teixeira vítima da ditadura parece não ter lógica, pensam alguns. Mas o crime não tem lógica. Seu provável assassinato, contudo, não foi algo incompreensível, como um raio que cai em céu azul. Anísio era uma referência em educação no Brasil.

Mas não uma referência neutra. Para ele, a educação era uma questão de Estado, daí ser chamado de “estadista da educação”. Lançou, em título de livro, a idéia de que “Educação não é privilégio”, desfraldou a bandeira da escola pública, universal, gratuita e de boa qualidade, implantou a escola em tempo integral, favoreceu verba pública para escola pública. Pensador progressista, era tido como perigoso pelos setores mais recalcitrantes.

Sabe-se hoje que, no Rio, entre 1968 e 1971, houve uma facção da ditadura que tentou realizar ações terroristas que, por pouco, não dão em enorme tragédia. A essa facção ligam-se os assassinatos de Rubens Paiva, em janeiro de 1971, e de Stuart Angel, em maio. Anísio morreu em março do mesmo ano.

Na sessão conjunta entre as duas comissões, um acordo foi assinado garantindo apoio mútuo nas averiguações. Isto seguramente ajudará. Mas, membros das duas comissões consideraram importante uma movimentação mais ampla, demandando solução para o problema, com a participação de personalidades e órgãos diversos.

Daí porque seria extremamente oportuno educadores, outros profissionais da área, estudantes, intelectuais, parlamentares, governantes e universidades e entidades várias fazerem ressoar a voz da Bahia junto à Comissão Nacional da Verdade, alertando-a sobre a imperiosidade de que a Verdade sobre o que aconteceu com Anísio Teixeira seja enfim proclamada.

Não há dúvida de que extrair a Verdade de acontecimento tão controverso, passados 41 anos, é difícil. Mas não impossível. Difícil mesmo é a Nação conviver indefinidamente sem saber o que aconteceu com um de seus mais ilustres filhos, o Professor Anísio Teixeira.”