Luís Carapinha: A China e o futuro

Ao som da Internacional baixou o pano sobre o 18º Congresso do Partido Comunista da China. A reunião magna dos comunistas chineses concluída dia 14 foi seguida atentamente no mundo. O PCCh dirige a China desde o triunfo da revolução e a fundação da República Popular em 1949 e conta hoje nas suas fileiras com mais de 80 milhões de militantes. Em 2007 eram 73,5 milhões.

Por Luís Carapinha no jornal Avante!

Desde então a economia chinesa galgou quatro degraus para se tornar na segunda maior mundial em termos absolutos. Cresceu a fatia de máquinas e equipamentos no bolo das exportações chinesas, o que confirma a progressão do país na cadeia de valor da divisão internacional do trabalho. A China desempenha um papel incontornável no contexto internacional, expoente da alteração da correlação de forças que desponta no mundo. As grandes potências capitalistas e acima de tudo os EUA não escondem a inquietação com a “ascensão chinesa”, apostando com crescente vigor numa linha de contenção militar, ao mesmo tempo que conceituados centros analíticos e organismos supranacionais delineiam receitas e programas de absorção da China na ordem mundial dominante (a almejada “transição pacífica”). Tudo em nome das regras da democracia, da competitividade, da capacidade inovadora, etc., etc. [de um sistema explorador em profunda crise, incapaz de iludir a dinâmica de estagnação e declínio das principais potências capitalistas e cuja “racionalidade econômica” não conseguiu sequer prever a crise em que está imerso].

O relatório aprovado pelo Congresso traça o rumo do país para os próximos anos. O acento continua a ser colocado no desenvolvimento econômico e das forças produtivas. Prevê-se que em 2020 o PIB chinês duplique em relação a 2010. Uma meta que o PCCh insere nos objectivos de melhoria das condições de vida do povo chinês e da construção socialista que continua a afirmar na perspectiva de que a China se encontra ainda na fase primária do socialismo. No discurso de encerramento Hu Jintao lembrou que “o caminho do socialismo com características chinesas” e o correspondente sistema de teorias do socialismo e sistema socialista constituem as “realizações fundamentais do partido e do povo ao longo das lutas árduas dos últimos 90 anos”. No relatório apresentado pelo secretário-geral cessante é reafirmado o papel central da propriedade pública no sistema econômico básico da China. Reagindo ao documento, o Financial Times constata dia 8 que o setor estatal “ainda controla os postos chave da economia como finanças, transportes, telecomunicações, recursos e meios de comunicação social”.

Não se ignora a dimensão e complexidade dos desafios e ameaças enfrentados pela China na via de construção socialista. O relatório de Hu Jintao é enfático na necessidade de melhorar os serviços sociais, a distribuição do rendimento e o combate à corrupção. A primeira declaração pública do novo secretário-geral Xi Jinping aponta os problemas prementes da corrupção, alienação das massas e burocratismo no partido. O nível das desigualdades sociais não parou de crescer nas últimas décadas. As colossais taxas de acumulação e investimento estatal têm como reverso da medalha o decréscimo dos rendimentos do trabalho (de 56.5 por cento do PIB em 1983 para 36.7 por cento em 2005, PD.com, 09.06.10).

Quando se trata da China o imperialismo também sabe ser paciente. Mas o tempo urge. No dia 14 um articulista do Asia Times de Hong Kong escrevia: “O desafio da China: a guerra ou a paz (…). A transição política da China é de importância substancial para o mundo (…) a questão já não é mais da plena integração da China na economia mundial, mas também da plena integração da China no sistema político global”. Já a Voz da América dava conta da visita de Panetta à Austrália e do acordo de Canberra para o Pentágono instalar um potente radar.

Para a paz mundial, a luta dos povos e trabalhadores e as forças do progresso social, a salvaguarda e o destino da construção socialista na China significam muito.