Carlos Lopes: Antenas dos EUA no Golfo da Guiné

A presença imperialista na África cresce de dia para dia. Em termos militares, com a crescente prioridade ao Africom, responsável pelas relações militares dos EUA com 54 países e pelas parcerias para “fortalecer a sua capacidade de defesa” sob o guarda-chuva do “combate ao terrorismo, ao tráfico de droga e à pirataria”, para “aumentar a segurança marítima” e “prevenir os conflitos” no continente.

Por Carlos Lopes Pereira em O Diário.info

Em outras sub-regiões, como o Golfo da Guiné, a intervenção do Africom assume formas mais sutis, em paralelo com a “cooperação” econômica dos EUA, a intervenção do FMI e do Banco Mundial e a “ajuda” humanitária de organizações não-governamentais, em geral ligadas à CIA.

Os Estados Unidos da América estão a consolidar a presença militar no Golfo da Guiné e em toda a África, no quadro da sua estratégia imperialista de domínio mundial.
O presidente Obama vai nomear um novo comandante do Africom, o comando militar dos EUA para a África. Para suceder ao general Carter Ham foi escolhido o general David Rodrigues, um dos mais importantes militares na ativa e até agora não envolvido em qualquer escândalo.

O secretário de Defesa Leon Panetta elogiou Rodrigues, afirmando que é “um líder com provas dadas”, desempenhou cargos de chefia no campo de batalha e foi um dos arquitetos da estratégia no Afeganistão. Panetta também teve palavras simpáticas para Ham, considerando que deu ao Africom “um papel central numa região cheia de desafios”.

Não surpreende a prioridade que Washington atribui ao comando para África. A funcionar desde 2008, com o quartel-general “por enquanto” em Stuttgart e com uma base em Djibuti, o Africom é responsável pelas relações militares dos EUA com 54 países e pelas parcerias para “fortalecer a sua capacidade de defesa”. Propõe-se “combater o terrorismo, o tráfico de droga e a pirataria”, “aumentar a segurança marítima” e “prevenir os conflitos” no continente. Ou seja, é o braço armado do Império para a África, já com operações – mais ou menos discretas – na Somália, em Uganda, Ruanda e Congo.

Em outras sub-regiões, como o Golfo da Guiné, a intervenção do Africom assume formas mais sutis, em paralelo com a “cooperação” econômica dos EUA, a intervenção do FMI e do Banco Mundial e a “ajuda” humanitária de organizações não-governamentais, em geral ligadas à CIA.
Por exemplo, a República Democrática de São Tomé e Príncipe, que espera explorar em breve petróleo off-shore, juntamente com a Nigéria, mantém boas relações com o Africom. O primeiro-ministro santomense, Patrice Trovoada, tornou-se, em setembro, o primeiro líder africano a visitar a sede do comando em Stuttgart.

A deslocação serviu para ele e os dirigentes do Comando dos EUA para África “falarem sobre preocupações mútuas relativas a questões de segurança”, em particular na zona do Golfo da Guiné.

Trovoada assegurou aos militares dos EUA que “estão a fazer um excelente trabalho e que são bem-vindos em África”. O general Ham, por seu turno, garantiu que “São Tomé e Príncipe é um parceiro importante que contribui para a segurança e a estabilidade regionais no Golfo da Guiné”.

O comandante do Africom já tinha estado, em maio, em São Tomé e em outras capitais centro-africanas. Nessa ocasião, Ham manifestou interesse no reforço da “parceria” com São Tomé e Príncipe, na perspectiva de “garantir a paz e a segurança no país e no Golfo da Guiné”.

Antes disso, em finais de 2011, uma delegação do Africom, chefiada pelo comandante adjunto, general Anthony Holmes, deslocou-se a S. Tomé, onde foi recebida pelo presidente Pinto da Costa e pelo primeiro-ministro Patrice Trovoada.

Um jornalista santomense, Óscar Medeiros – coordenador da televisão estatal e correspondente local da Voz da América – noticiou então que se discutiram “questões de segurança no Golfo da Guiné” e se abordou o papel do arquipélago no processo. E esclareceu que, para os EUA, “a situação geográfica de São Tomé e Príncipe tem uma importância fundamental na segurança do Golfo da Guiné, região rica em recursos petrolíferos” e rota marítima estratégica.

Foi negociada na altura a cooperação militar bilateral, incluindo a “modernização” da guarda costeira santomense, a formação de quadros das forças armadas e o reforço da segurança no porto e no aeroporto de São Tomé.

Graças a esta “amizade” com os EUA, a República Democrática de São Tomé e Príncipe – cujo orçamento de Estado para 2013, no total de 142 milhões de dólares, depende em 80 por cento de “ajudas externas” – transformou-se num centro de vigilância do Golfo da Guiné. O Africom instalou no país três sistemas de radar de tecnologia avançada que permitem o controle de toda a movimentação de navios, tanto na zona econômica exclusiva do arquipélago como nas águas do golfo.

São Tomé é hoje não só um centro de vigilância marítima mas também de difusão da propaganda norte-americana: na ilha foi instalado um potente retransmissor da Rádio Voz da América.

As luzes vermelhas das grandes antenas estadunidenses em São Tomé e Príncipe são hoje bem visíveis da capital do país. Alertam para a agressividade do imperialismo, que procura recolonizar a África e dominar o mundo. E lembram aos povos africanos a necessidade de continuar a lutar contra o neocolonialismo…