Inácio Arruda presta homenagem a Sérgio Miranda

Ao manifestar pesar pelo falecimento do ex-deputado federal Sérgio Miranda (1947-2012), o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) afirmou nesta terça-feira (27), em discurso em Plenário, que o ex-parlamentar “lutou a vida inteira em defesa do seu povo”. Falecido nesta segunda-feira (26), Sérgio Miranda, que foi filiado ao PCdoB e ao PDT, foi deputado federal por Minas Gerais em quatro mandatos, de 1993 a 2006.

“Desde garoto, Sérgio Miranda de Matos Brito foi uma pessoa dedicada completamente às causas do nosso país. Figura alegre, de uma disposição sem igual para o trabalho, teve como base da sua militância a cidade de Fortaleza, onde foi estudante secundarista, estudante universitário e de onde entrou, também, no Partido Comunista. Por ali, ele dedicou toda a sua vida à causa do Brasil”, disse. Inácio Arruda lembrou que Sérgio Miranda atuou na clandestinidade durante a ditadura militar (1964-1985).

“O Sérgio foi esse militante da resistência, do período mais difícil da vida política brasileira, que foi a ditadura. Jovens abnegados, que se entregavam completamente à causa do país e do povo, que não aceitavam a ditadura da direita brasileira, conservadora, preconceituosa”, afirmou.

Inácio Arruda lembrou ainda que Sérgio Miranda foi vereador, deputado federal, integrou a CPI dos Anões do Orçamento (1992) e se tornou um dos maiores especialistas em orçamento público no Congresso Nacional.

Em aparte, o senador Paulo Paim (PT-RS) também homenageou Sérgio Miranda.

Íntegra do pronunciamento

Senhor Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os temas em debate no plenário do Senado e nas nossas Comissões ficam, a cada dia, mais instigantes, como o tema da solução do problema da seca, como o problema do FPE. Vou destacar uma personalidade dessa luta nossa no Parlamento e na vida e na luta do povo brasileiro, um parlamentar, um dirigente político, um militante popular, um estudante universitário que dedicou toda a sua vida, com alegria e com entusiasmo, às causas do povo brasileiro.

Desde garoto, Sérgio Miranda de Matos Brito foi uma pessoa dedicada completamente às causas do nosso País. Ele, que era uma figura alegre, uma figura de uma disposição sem igual para o trabalho, um homem que buscava o conhecimento através das letras, dos romances, da poesia, da literatura popular de cordel do Nordeste brasileiro, teve como base da sua militância a cidade de Fortaleza, onde foi estudante secundarista e
estudante universitário e onde entrou também no Partido Comunista.

Por ali, ele dedicou toda a sua vida à causa do Brasil, da sua soberania, do seu desenvolvimento, destacando a realidade do Nordeste brasileiro, a integração nacional, a busca por programas capazes de compreender que o Nordeste não é um problema do Nordeste, mas é um problema do Brasil, do nosso País. Ele tinha essa visão ampla. Era um homem de pensamento largo, de grande sensibilidade, que discutia profundamente sobre o projeto do nosso País, do nosso Brasil.

Ele seguiu o caminho de jovem estudante, de dirigente político. Lembro que, quando veio a anistia ou um pouco antes, era exatamente o Sérgio Miranda quem fazia a rearticulação do Partido Comunista do Brasil pelo nosso imenso território, especialmente na Região Nordeste. O Sérgio atuou nessa dura clandestinidade no período da ditadura militar, percorrendo caminhos de resistência e de sobrevivência na militância política dentro do nosso território, em nosso País, buscando fomentar a resistência, encontrar os meios e os caminhos para que o nosso País pudesse superar aquele largo período de arbítrio, de ditadura, de perseguições àqueles que lutavam para resolver os problemas cruciais da vida do povo nordestino, para resolver os problemas cruciais da vida do povo que não tinha direito a uma escola, que não tinha direito ao trabalho, que não tinha direito à assistência alguma. Eram essas as grandes causas que o Sérgio Miranda abraçou em toda a sua vida.

Por isso, hoje, ao abraçar sua companheira, Cristina, também militante desde jovem e integrada às lutas políticas de sua época como estudante secundarista e universitária, também na clandestinidade no interior da Bahia, nós ali olhávamos essa trajetória comum a muitos companheiros que atuam hoje no Congresso Nacional, essa militância destinada de forma total a uma vida completamente entregue às causas do povo brasileiro.

Eram esses os caminhos percorridos por Sérgio Miranda, o Zó da militância política, o homem que ajudava o nosso Partido a se reintegrar, a se reorganizar, a ser conduzido nesse caminho que prosperou com uma vitória política maior, que foi a conquista da eleição presidencial de 2002, com a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Zó é uma figura que se dedicou a essas causas, a causas maiores, com muito afinco. Cada tarefa, ao mesmo tempo, ele abraçava com o seu sorriso permanente. Ele fazia gracejo com tarefas difíceis, mas ele as abraçava com determinação. Penso que não houve nenhuma dessas responsabilidades assumidas pelo Sérgio que ele não as fizesse com grande dedicação, com zelo, com cuidado máximo, porque sabia que eram responsabilidades que a ele estavam sendo dadas diante da trajetória que ele já havia também percorrido.

O Sérgio foi esse militante da resistência, do período mais difícil da vida política brasileira, que foi a ditadura militar. Eram jovens abnegados, que se entregavam completamente à causa do País e do povo, que não aceitavam a ditadura da direita brasileira, conservadora e preconceituosa, que não admitia mudanças largas na vida política, econômica e social que não levassem nosso povo a ser protagonista da sua própria história. Acho que essa era a grande causa daquela juventude universitária e operária do seu tempo, da década de 60, que entrou pela década de 60 resistindo ao golpe duro.

Ele, seus irmãos e irmãs, posso dizer, eram dedicados à causa do povo brasileiro, com militância política na esquerda, sofrendo perseguições. O Sérgio percorria o interior do Brasil, reestruturando, encontrando meios de salvaguardar a militância e de torná-la mais forte, para enfrentar a ditadura. Nesses caminhos de resistência, foi condenado, à revelia, a mais de três anos de prisão, mas a ditadura não conseguiu prendê-lo. Com a anistia, ele passa a ajudar o Partido a se reorganizar e a militar no movimento social.

Ele se elege Vereador de Belo Horizonte e Deputado Federal. Enfrenta aqui a CPI dos Anões do Orçamento, recebe ali a atribuição de acompanhar aquela CPI, lidera e articula, exatamente dentro dessa Comissão, os meios e os mecanismos capazes de punir os que desviavam os recursos públicos, o dinheiro público. Dali em diante, passa a ser uma referência na Comissão de Orçamento, buscando o caminho também político que permitisse à Comissão Mista de Planos e Orçamentos cumprir um papel mais elevado no desenvolvimento do nosso País.

Lidera, na Câmara dos Deputados, o nosso Partido, o PCdoB, com a tranquilidade e com a alegria de quem sabia que estava buscando conduzir uma bancada para ajudar o nosso País a se desenvolver e a crescer, num período também difícil, porque se tratava do período em que o nosso País era devastado pela onda neoliberal de liquidar o Estado, de quebrar a capacidade de o nosso País ficar de pé. Era um período em que o País foi posto de joelhos. Foi nesse período exatamente que Sérgio liderou a nossa Bancada, a Bancada do PCdoB, para enfrentar aquela onda neoliberal que varria o nosso País inteiro. A nossa Bancada se pôs ali como um ancoradouro forte da resistência política em frente dos desmandos do neoliberalismo comandado, naquele período, pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.

Ele trabalhou com afinco e com determinação durante a sua vida inteira. Não sossegou um minuto. Nem a doença que o atingiu, um câncer no pâncreas, abateu-o do ponto de vista do trabalho, da dedicação. Ele estava antenado a todo instante.

Lembro, conversando com seu irmão, Brito, e com a Tânia, que ele acompanhou a entrega da Medalha do Mérito Legislativo que foi recebida, na Câmara dos Deputados, numa grande solenidade, por sua companheira Cristina das mãos da Presidente Rose de Freitas, do Deputado Mudalen e também da Deputada Jandira Feghali. Ele acompanhava de casa, fazendo referência a um militante que também recebia a mesma honraria naquele instante, que era o Patinhas, Carlos Augusto Diógenes Pinheiro, Presidente do PCdoB do Ceará.

Lembro exatamente essa dedicação, esse amor ao Brasil, esse amor às causas sociais, esse amor à luta política emancipadora do nosso povo. Essa é a história de Sérgio Miranda, é a história da dedicação total, com argumentos e com conhecimento, de quem sabe que está ajudando e contribuindo com a militância política, com o nosso País. Foi assim que ele trabalhou a vida inteira, desde a sua vida juvenil, na cidade de Fortaleza, até essa segunda-feira, quando ele nos deixou, mas com esse legado, com o legado de quem lutou a vida inteira em defesa do seu povo.

Meu caro Senador Paulo Paim, que foi colega do Sérgio tanto na Câmara Federal como no Senado – querendo ou não, estamos no Congresso Nacional, uma Casa só –, V. Exª tem a palavra.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT– RS) – Senador Inácio Arruda, eu não poderia deixar de fazer um aparte, quando o senhor se lembra dessa figura quase mágica, eu diria. Sabe aquele homem que faz o bem, não interessando a quem? Esse era Sérgio Miranda. Sérgio Miranda foi um grande Deputado, especialista em orçamento, em previdência. Eu não entendi por que ele não retornou no último pleito que disputou. Foi um Deputado que assumiu um compromisso com o quadro histórico do PCdoB. Lembro-me das caminhadas juntos. Depois, ele foi para o PDT, mas continuou sempre com os mesmos princípios. Eu ouvi hoje uma frase de alguém que falou sobre Sérgio Miranda. Eu achei que era uma frase muito bonita. Disse uma senhora hoje sobre o Sérgio Miranda: “Sérgio Miranda é daqueles homens que nunca morrem, é daqueles homens que parecem ter um encantamento, e o encantamento é permanente”. Ela falou essa frase na Comissão de Direitos Humanos e foi um pouco mais além. Ela dizia que era quase uma coisa mágica o carinho dele, a forma de fazer política, o encantamento pelo social, o compromisso com a liberdade, com a justiça e com o movimento sindical. Nos últimos anos, ele estava assessorando o movimento sindical. Ele vinha ao meu gabinete, apresentava-me argumentos e projetos que eu não tinha como negar. Ele perguntava: “Posso apresentar?”. “É claro, apresente, é uma contribuição que está dando ao movimento sindical!” Na segunda-feira, fiz um pronunciamento ao nosso querido Sérgio Miranda, que faleceu. Estive no seu velório na Câmara dos Deputados. Lá, percebi que os homens e as mulheres que passavam ali eram só pessoas do bem, porque ele representava o bem. Como é bom para mim e, tenho certeza, para você olhar para nossas vidas, olhar o passado e dizer: “Eu tive orgulho de caminhar ao lado de Sérgio Miranda”. Lá do alto, neste momento, ao olhar para baixo, ele deve dizer: “Aqui para nós, eu fiz a minha parte, façam a de vocês”. Parabéns a V. Exª!

O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – Agradeço a V. Exª o aparte, em que vai ilustrando muito bem o que foi para todos nós essa figura do Sérgio Miranda, aquela pessoa afável e carinhosa, que, mesmo diante do debate adverso e, às vezes, áspero, agia com delicadeza, para mostrar que o que deveria prevalecer era o argumento, era a força da ideia, não a força da brutalidade pura para tentar reverter uma situação política.

Assim, ele agiu quase em todas as áreas de suas atividades. Sérgio gostava de brincar, gostava de sair com os amigos, de festejar. Quando, às vezes, chegava a Fortaleza para uma atividade política – depois, ele se transformou em um mineiro, mas ia Fortaleza –, ali fazíamos aquela reunião partidária e depois eu dizia: “Sérgio, agora, pelo amor de Deus, vamos relaxar!”. E o Sérgio relaxava, o Sérgio declamava, o Sérgio contava histórias em poemas.

Era uma pessoa extraordinária que, como disse essa colega na Comissão de Direitos Humanos, está encantada para sempre. E vai ficar marcado na nossa memória, pois tivemos a felicidade de discutir com ele, de debater as ideias, os projetos, o que ele pensava do Brasil, da nossa atuação no campo político e parlamentar, da luta para eleger um Presidente, como Lula, no campo democrático e popular, para buscar, mesmo no Governo, apresentar o que ele considerava que era equívoco e que precisava ser corrigido. Na batalha dura contra o fator previdenciário, ele o condenou com veemência.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT – RS) – Permita-me só que eu lembre – falo tanto do fator! – que lá foi dito que ele foi o primeiro, quando veio do governo anterior, a denunciar o fator previdenciário.

O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – É claro!

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT – RS) – Foi o primeiro a fazê-lo. Ele fez o estudo, e, quando ele me apresentou o estudo, eu disse: “Sérgio, estou ao seu lado até morrer”. Infelizmente, ele morreu, e o fator continua vivo.

O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – E nós temos de liquidar o fator previdenciário o mais brevemente possível, para que ele não moleste a vida daqueles que precisam de uma aposentadoria digna no nosso País.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta Casa, o Sérgio a frequentou como congressista, como Deputado Federal, sobretudo na sua militância política, na clandestinidade mais dura, nas perseguições,…
(Soa a campainha.)

O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – …na sua militância estudantil e juvenil. Todos o conheceram. Uma turma de gente de altíssima qualidade, de grande valor, cercou o Sérgio Miranda. A sua família também tem o mesmo estilo afável e amigável de tratar as questões.

Nós queremos, Sr. Presidente, endereçar nossos votos de pesar à família e, sobretudo, afirmar entre nós, brasileiros, que nos deixou um grande homem, um homem comprometido com nossa causa, com nossa história. O seu desaparecimento aumenta, e muito, a nossa responsabilidade com as tarefas e com as obrigações pelas quais ele lutou durante toda a vida. (Soa a campainha.)

O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – Nós estamos aqui para buscar honrar sua memória, conduzindo suas bandeiras.

Muito obrigado, Sr. Presidente e colegas que aqui estão neste momento.

Fonte: Agência Senado

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