Egito convoca referendo para dia 15 sobre polêmica constituição 

Divididos em campos mais antagônicos que nunca, os egípcios estão convocados a votar no próximo dia 15 em um referendo sobre a nova Constituição, rechaçada por um importante setor da população. Contudo, o presidente do Clube de Juízes, principal associação da magistratura egípcia, Ahmed el Zend, anunciou neste domingo (2) que os magistrados do país decidiram não supervisionar a consulta popular.

A convocação foi anunciada no sábado à noite pelo presidente Mohamed Morsi, enquanto em todo o país partidários e opositores se manifestavam, na sequência de uma semana cheia de distúrbios, durante a qual quatro pessoas morreram e 600 saíram feridas, segundo contagens sem confirmação oficial.

É inegável que o atrito causado pela decisão presidencial de assumir poderes ilimitados prevalece nos setores laicos e liberais, que demandam sua anulação, descartada pelos porta-vozes do mandatário, que a considera imprescindível para encaminhar a democracia no país das pirâmides.

O confronto vem da percepção opositora de que o presidente atua para reforçar o domínio da sociedade pela Irmandade Muçulmana, a organização que o levou à presidência nas eleições de maio e junho.

Mas os partidários de Morsi mostram o mesmo fervor em seu respaldo, demonstrado no sábado com marchas em todo o país, que tiveram caráter massivo nas proximidades da Universidade do Cairo, longe da manifestação opositora na praça Tahrir, onde as Forças Centrais de Segurança adotaram medidas especiais para evitar confrontos.

Choques esporádicos na cidade de Alexandria, reedição de confrontos similares nesta semana, e em outras localidades, aconselharam a dispersão de forças policiais em torno de instalações governamentais e sedes da Irmandade Muçulmana e de seu braço eleitoral, o Partido Liberdade e Justiça.

Foi nesse contexto que o mandatário convocou o referendo e exortou seus detratores a exercerem o direito ao voto na certeza de que o texto será aprovado.

Os 13 dias que restam até a consulta popular constituem uma interrogação sobre o curso dos acontecimentos, já que sua aprovação, proclamação e a subsequente convocação a eleições para a Assembleia Popular, agora vaga, não fecham o profundo fosso entre os partidários do presidente e seus detratores, cuja insatisfação é a cada vez mais palpável.

Boicote

Em entrevista coletiva realizada na sede do organismo, no Cairo, o presidente do Clube de Juízes, Ahmed el Zend, explicou que na reunião que realizou com as diferentes sedes provinciais de sua associação, foi decidido por unanimidade boicotar a consulta popular convocada por Morsi.

No Egito, os magistrados são encarregados de supervisionar as eleições e, durante o período de transição, já exerceram este papel nos pleitos legislativos e presidenciais.

Durante o ato na sede do Clube de Juízes, o juiz Ibrahim Darwish, especialista em Constituição, criticou a forma como foi redigida a Carta Magna e sua aprovação pela Assembleia Constituinte sem que haja um consenso, após os deputados laicos e dos liberais terem se recusado a participar do protesto.

Esta decisão coincide com o anúncio do Tribunal Constitucional egípcio de suspender suas sessões até que se lhe permita trabalhar "sem pressões", depois que os protestos impediram os magistrados de pronunciar-se hoje sobre a validade da Assembleia Constituinte.

A assembleia goza de imunidade desde que no último dia 22 de novembro Mursi a declarou indissolúvel. O orgão aprovou na sexta-feira passada a minuta da Constituição apesar do boicote de seus membros não islamitas.

Já as forças liberais e laicas convocaram uma passeata rumo ao palácio presidencial no Cairo na próxima terça-feira (04) para protestar contra a minuta da Constituição.

Com agências