Presidente egípcio abre mão de poderes excepcionais

O presidente egípcio, Mohamed Mursi, abriu mão dos poderes excepcionais que assumiu há 18 dias atrás. O gesto aparece como uma fórmula de compromisso para contornar a tempestade política que o país atravessa.

Anunciada cerca da meia noite deste sábado (8) por Selim El Awa, um erudito islâmico que assistiu ao diálogo de conciliação do se ausentaram os principais opositores, a proposta estabelece que o referendo constitucional da próxima semana continua convocado.

Esse é o ponto mais débil da iniciativa presidencial, que ainda não foi respondida pelos partidos da Frente de Salvação Nacional (FSN), formada recentemente, cujos seguidores tomaram as ruas desde meados da semana e entraram em choque com a Polícia e membros da Irmandade Muçulmana, que apoiam Mursi.

Milhares de opositores cercaram o Palácio Presidencial no distrito de Heliópolis, um segmento numeroso mantém uma vigília na Praça Tahrir e outros protestaram nas proximidades do modesto apartamento onde reside o mandatário no distrito de Charqiya, no Cairo.

Pelo menos seis pessoas morreram e mais de 700 ficaram feridas nos enfrentamentos de rua que ocorreram no Cairo e nas províncias de Alexandria, Suez, Port Said, Ismailia e Mahalla.

A convocação ao diálogo feita por Mursi na noite da quinta-feira (6) não foi ouvida pela FSN, cujas demandas mínimas continuam sendo a suspensão das faculdades presidenciais absolutas e a redação de um novo projeto constitucional acordado por consenso.

Assim, metade da essência do conflito persiste, já que os opositores consideram que o esboço de Constituição tende à islamização do país em detrimento de setores que, embora minoritários em comparação com os islamistas, têm peso específico na sociedade e votaram contra Mursi nas eleições presidenciais de maio e junho passados.

Neste complexo quadro, ainda está pendente a reação dos partidos agrupados na FSN quanto á suspensão dos poderes presidenciais. Desde o sábado, os comandos militares emitiram um comunicado no qual se comprometem a respeitar o direito dos manifestantes, mas exigem uma solução urgente através do diálogo para evitar a desintegração do país.

O comando militar advertiu igualmente que defenderá a legalidade, em clara alusão à autoridade presidencial.

Mas o torvelinho de protestos e a os ânimos exaltados estabelecem um fato: mesmo que haja um entendimento, o abismo entre entidades laicas e os islamistas é evidente e anuncia novas confrontações.

Prensa Latina
; tradução da redação do Vermelho