Mulheres se mobilizam no Dia Internacional dos Direitos Humanos

Neste 10 de dezembro de 2012, quando se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos e se encerram as mobilizações dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, militantes em diversos países realizam ações entre as 12h e as 13 horas. Além disso, da Nova Caledônia a Seattle, fazem uma jornada de 24 horas para alertar sobre os ataques aos direitos das mulheres, e para dar visibilidade para nossas ações de resistência e nossas alternativas.

No Brasil, as mobilizações se concentram em Apodi, Rio Grande do Norte, quando duas mil mulheres potiguares ocupam a área de 13 mil hectares contra o projeto de perímetro irrigado destinado ao agronegócio. Este projeto prevê a desapropriação desse terreno expulsando, assim, mais de 150 famílias de suas casas.

Entre as organizações presentes está a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). A secretaria de Mulheres Trabalhadores Rurais, Carmen Foro, acompanha na região toda a mobilização.

Ações em outras cidades

Em Recife (PE), a ação será na Praça do Diário, das 12h as 13h (horário de Brasília) onde serão exibidas fotos e falas de mulheres do mundo. Haverá uma Bandeira da solidariedade onde todas as presentes poderão colocar sua mensagem.

Desde às 11h as mulheres se concentram na feira da reforma agrária que está sendo organizada pelo MST no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro (RJ). Entre 12h e 13h será realizado o ato em frente ao BNDES.

Em Quixadá (CE), as atividades acontecerão no interior. Participarão cerca de 350 mulheres de Fortaleza, Quixadá, Quixeramobim e Ilhamus. As atividades iniciam pela manhã, com caminhada a partir das 10h30 na praça em frente ao Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Quixadá, com ação final entre 12h e 13h na Praça da Catedral.

Em São Paulo (SP) a concentração iniciou às 11h30 na Praça Ramos, com panfletagem e distribuição de saches de mel simbolizando a produção de alimentos saudáveis e plantio sem agrotóxicos feitos pelas mulheres de Apodi. A manifestação promete muita batucada e performance teatral.

No Nordeste as ações ocorrem em Maceió (AL), onde também terá panfletagem em solidariedade às mulheres de Apodi e denúncia da situação de violência sexista em Alagoas. O ato público será no bairro do Pontal; em Feira de Santana (BA), região semiárida, as mulheres realizam atividade conjunta com o Fórum Inter-territorial de Mulheres da Bahia e o MOC, denunciando a violência sexista. Neste processo, irão manifestar a solidariedade à Apodi.

Em Belo Horizonte (MG), as mulheres espalharão faixas pela cidade denunciando o modelo de produção agrícola baseado no agronegocio colocando a chapada de Apodi em destaque, além de promover um debate sobre o tema.

Acompanhe a mobilização pelo site http://www.24heures2012.info/index.php/es/

Manifesto

"Continuaremos unidas até que todas as mulheres sejam livres!", afirma o manifesto lançado pela organização de mulheres em todo o mundo. Abaixo o manifesto:

Mulheres em resistência, 10 de dezembro de 2012.

Somos todas Apodi!

Estamos nas ruas em solidariedade às mulheres de Apodi, que resistem ao agro e hidronegócio.

Somos contra a proposta do perímetro irrigado de Apodi. O projeto quer entregar as terras da Chapada do Apodi e as águas da barragem de Santa Cruz para cinco empresas que produzem frutas para exportação. Esse projeto foi apelidado de Reforma Agrária ao contrário. Isso porque ele tem como objetivo desapropriar 13.855 hectares de pequenas propriedades para reconcentrar essa terra nas mãos do agronegócio. O exemplo de outros perimetros irrigados demonstram que aumenta a miséria, a prostituição e a violência.

A luta da Marcha Mundial das Mulheres, em conjunto com outros movimentos sociais, é em defesa de um modelo de desenvolvimento com igualdade e justiça. O projeto ameaça a agricultura familiar e camponesa e a produção do viver de centenas de famílias, que, a partir da produção nas pequenas propriedades, representa o terceiro PIB agropecuário do Rio Grande do Norte.

A produção na região é de mel, caprinocultura, avicultura e as agricultoras desenvolvem, cada vez mais, a agroecologia. Esta produção de alimentos abastece a região. Mas o perímetro irrigado vai acabar com isso: as empresas irão produzir para a agroexportação e da forma como o agronegócio sabe fazer: com agrotóxicos que contaminam a terra, a água e os alimentos, provocando escassez de água para os e as produtores/as de arroz do vale.

Por isso afirmamos: a chapada do Apodi é território da agricultura familiar camponesa!!!
A nossa luta é todo dia nossa chapada não é mercadoria!!!

Contra o agronegócio, por soberania alimentar!

A soberania alimentar, a reforma agrária e a agroecologia fazem parte da nossa luta por igualdade e autonomia econômica das mulheres, que se articula com uma mudança estrutural no modelo de (re)produção e consumo. As mulheres tiveram que lutar muito pra conquistar a terra e as condições para produzir, como água e infra-estrutura. E da mesma forma tem que lutar para permanecer na terra. Perder as terras significa perder a autonomia econômica e ter que buscar outras formas de sobreviver, provavelmente na periferia das cidades.

As mulheres resistem!

Estamos em solidariedade com as mulheres de Apodi desde o ano passado. Enviamos cartas para o governo, realizamos manfestações e audiências públicas. Mas apesar destas ações, o governo segue com a implementação deste projeto e já iniciou a indenização de 35 famílias que serão atingidas pela primeira fase da construção do perímetro irrigado.

Nos últimos meses, as mulheres de Apodi demonstram coragem na resistência e, neste 10 de dezembro, nós mulheres do Brasil e de todo o mundo nos unimos a esta luta: somos todas mulheres de Apodi!

Estamos em marcha até que todas sejamos livres! No Brasil, isso significa, também, até que o campo esteja livre do agronegócio!

Da redação do Vermelho com Contag e Marcha Mundial das Mulheres