Hollande e Dilma discutem outras saídas para a crise econômica

O presidente francês François Hollande e a presidenta Dilma Rousseff abriram nesta terça-feira (11) a conferência internacional “Fórum pelo progresso social. O crescimento como saída para a crise”, em Paris. O presidente francês foi enfático na  defesa do emprego e do desenvolvimento e sugeriu que a ONU criasse um Conselho de Segurança Econômica e Social e um Conselho para garantir a estabilidade mundial, no que foi acompanhado por Dilma Rousseff.

Hollande e Dilma discutem outras saídas para a crise econômica - Instituto Lula

A presidenta Dilma fez um longo discurso, em que disse que a crise econômica foi resultante da desregulamentação financeira e defendeu que todos os países por ela afetados possam discutir não apenas o que originou a crise, mas, sobretudo, possam discutir os caminhos da superação. “E esses caminhos da superação da crise passam, necessariamente, pela construção de um novo mundo, e, especialmente, pela certeza de que ele é possível. Por isso, essa discussão é tão importante”, afirmou.

Os dois presidentes concordaram que a saída para a crise passa pelo compromisso com a criação de empregos, com a justiça social e com o meio ambiente. Dilma Rousseff defendeu ainda que a Europa necessita de uma efetiva união bancária. “Um verdadeiro Banco Central Europeu, com poderes para defender o euro, emitir títulos e que seja um emprestador de última instância”. A presidenta disse que tanto a manutenção do euro como a saída da Europa desta crise são cruciais para o Brasil.

Os dois presidentes também foram unânimes em elogiar a iniciativa do seminário, em especial seus organizadores – a Fundação Jean Jaurès e o Instituto Lula. A Fundação Jean Jaurès vem contribuindo, há mais de 20 anos, para a formulação e difusão de um pensamento progressista na França e no mundo. O Instituto Lula, mais recentemente, vem também demonstrando um grande potencial de formulação dos problemas do Brasil, da América Latina e da África, e mostra também um grande potencial.

“Eu estou segura de que a parceria entre ambas as instituições abre um importante espaço de reflexão sobre as grandes questões globais. Abre também um caminho para que nós olhemos o mundo de uma perspectiva comum, em especial neste momento onde uma grave crise econômica aflige o mundo desenvolvido, com reflexos nas economias emergentes que se desaceleram”, avalia a presidenta Dilma.

Críticas à ortodoxia

Para a presidenta brasileira, a crise atingiu uma fase crônica e não parece estar próxima de seu fim. Ela avalia que os países emergentes, apesar de atingidos pela crise, como está demonstrado na desaceleração do crescimento, mostram maior capacidade de recuperação, em função de maior estabilidade macroeconômica e de lançar mão de estímulos fiscais para reduzir o impacto da crise.

Mas destacou que no mundo interconectado, são muito importantes as decisões que se tomarem em qualquer área do mundo. E criticou a opção preferencial por políticas ortodoxas, na maioria dos países desenvolvidos, que não tem resolvido o problema da crise, nem em seu aspecto fiscal, nem tampouco em seu aspecto financeiro.

E apontou como caminho para superar a crise “um caminho que não seja um caminho ortodoxo, mas sim um caminho que articule ajustes fiscais apropriados e estímulos ao investimento e ao consumo, o que é indispensável para a retomada do crescimento”.

Dilma lembrou que a América Latina, que foi submetida a um grave ajuste ao longo de duas décadas, sabe que o corte radical de gastos afeta não só a economia, mas, sobretudo, compromete o futuro de sua população. “Aqui, no mundo desenvolvido, o corte radical de gastos tem afetado os pilares do estado de bem-estar social conquistado por gerações de homens e mulheres depois da terrível experiência de duas guerras mundiais”, destacou.

E disse que o Brasil espera que a posição da França e do presidente Hollande seja “no sentido de apresentar um caminho claro que combine os dois aspectos fundamentais. Ajustes são necessários, mas fundamentalmente é necessário que isso se dê em um quadro onde aqueles que possam contribuir para estímulos fiscais sólidos, para a ampliação do emprego, para a proteção social o façam”.

Papel do Brasil

“O meu país vem fazendo a sua parte, o que nos permitiu, desde o início de 2008, diminuir os efeitos da crise global”, afirmou, detalhando todas as medidas adotadas pelo governo brasileiro para fazer frente aos efeitos da crise econômica.

“Esta síntese evidencia o que é necessário hoje para, no horizonte de duas décadas, chegar ao ambicioso objetivo de duplicar a nossa renda per capita. Sem essas iniciativas em prol da competitividade, nós, brasileiros, perderíamos a batalha do futuro. Essa batalha tem uma grande questão que devemos enfatizar, jamais poderá ser vencida se nós sacrificarmos as conquistas sociais”.

A presidenta enfatizou a importância do “diálogo, cooperação, parceria” como “instrumentos fundamentais de combate à crise, a um mundo instável e de guerras”. E disse que apoiava a proposta de Hollande de criação de um conselho de segurança da estabilidade econômica e da estabilidade social na Organização das Nações Unidas (ONU), a exemplo do Conselho de Segurança na ONU.

E aproveitou a introdução do tema, para destacar que há um grande desequilíbrio no Conselho de Segurança da ONU, “uma vez que países que emergiram estão sub-representados”, afirmou, fazendo a defesa de um assento no Conselho de Segurança da ONU para o Brasil.

“O Brasil tem sua palavra a dizer neste mundo conturbado pela crise e pelos conflitos, e a nossa palavra será sempre uma palavra de diálogo e de paz, e os que se dispuserem a ouvi-la entenderão que ela nunca será uma palavra de arrogância ou de superioridade pretensiosa para os povos mais pobres do mundo. Nós já fomos vítimas das duas, tanto da arrogância como da superioridade pretensiosa. A mensagem do Brasil é a de um país sem litígios, sem litígios de fronteiras, sem ressentimentos a compensar por nenhum outro povo, nem intolerâncias a projetar no mundo”, concluiu.

Sem comentários

Em sua apertada agenda de compromisso na visita de dois dias à capital francesa, a presidenta não se dirigiu à imprensa – portanto não comentou informações publicadas hoje no jornal O Estado de S. Paulo, segundo as quais o empresário Marcos Valério teria afirmado, em depoimento à Procuradoria Geral da República, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha conhecimento do esquema conhecido como “mensalão”.

Lula, que também está na capital francesa para o evento, está hospedado em um hotel que não foi divulgado. Ontem, ele e a presidente almoçaram juntos no hotel Le Bristol, onde Dilma está hospedada. Lula entrou e saiu do estabelecimento por uma porta alternativa do hotel, e não pela principal, onde estavam os jornalistas que acompanham a visita oficial da presidente.

Da Redação em Brasília
Com agências