Juventude mostra sua cara em mobilizações que marcaram 2012

Uma das cenas mais emocionantes de 2012 foi a aprovação, no dia 26 de junho, por unanimidade na Câmara dos Deputados, do Plano Nacional de Educação (PNE), com a previsão de reservar 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação brasileira. Estudantes de diversas partes do país e deputados deram pulos de alegria para se manifestarem a favor da aprovação. Este foi um ano em que os estudantes protagonizaram acontecimentos importantes, reafirmando o caráter contestador da juventude.

“Pula sai do chão quem defende a Educação”, comemoraram estudantes e deputados. A reivindicação do aumento de investimento nacional na educação é histórica, vem desde o final da década de 1990, a partir dos debates entre os diversos setores. Levando em conta o PIB do país atual, os 10% equivaleriam a R$ 400 bilhões a serem investidos. Mas, a aprovação pelo Senado ficou para 2013.

Ainda sobre o tema, a mobilização se concentrou em garantir fontes de recursos para assegurar os 10% do PIB para a educação. A própria presidenta Dilma Rousseff se comprometeu e defendeu 100% dos royalties do petróleo, de futuros contratos, e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para o setor. Em 1º de novembro, cerca de 300 jovens, muitos integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), tomaram conta do Congresso para marcar posição.


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A mobilização surtiu efeito e o projeto de lei (PL) de redistribuição dos royalties do petróleo foi alterado pelo relator, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), para permitir que 100% dos recursos sejam destinados à educação.

“Ficamos muito emocionados porque ao longo da história do Brasil as riquezas do país sempre foram recursos explorados por uma pequena elite e vendidos para o exterior. Mas com o petróleo foi diferente. Há 60 anos a UNE foi a principal voz da sociedade a se levantar para gritar `o Petróleo é nosso!´, e isso culminou na criação da Petrobrás”, destacou Daniel Iliescu, presidente da UNE, ao tomar conhecimento das declarações do ministro da Educação, Aloízio Mercadante sobre o fato.

Foram meses de intensas mobilizações, campanhas, passeatas, tuitaços, corpo a corpo com parlamentares. “Hoje, a UNE, novamente, é a principal entidade a participar desse debate e convencer o país a defender os recursos do petróleo para a educação”, completou emocionado o presidente da UNE.

No entanto, a votação na Câmara dos Deputados acabou frustrando militantes, e a todos que torcem pela educação, aprovando o texto-base do Senado Federal do Projeto de Lei 2565/2011, que determina a distribuição dos royalties do petróleo sem prever os 100% dos royalties para a educação. A presidenta Dilma comprou a briga e vetou 23 artigos para reverter a situação – tendo em vista que o principal embate neste caso é a divisão dos royalties entre estados e municípios. Os parlamentares tentaram derrubar o veto, mas o capítulo final também ficou par ao próximo ano.

Ciência e Tecnologia

Ainda na luta por educação, em nome de uma política permanente de valorização da pesquisa, com a aprovação do PL dos pós-graduandos e reajuste de 40% das bolsas para os pesquisadores, a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) realizou diversas mobilizações nas ruas e na rede e até uma Caravana rumo à Brasília, que durou três dias.

Uma das conquistas dos pesquisadores foi o reajuste de 10%das bolsas de pesquisa anunciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), durante o 23º Congresso Nacional de Pós-Graduandos, em maio, na capital paulista.

Em julho, durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no Auditório Central do Centro Paulo Freire, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a ANPG empossou sua nova diretoria com Luana Bonone como presidenta, com mandato de dois anos.

Democratização da universidade


Show protesto na USP, em 29 de fevereiro

Duas grandes mobilizações de estudantes, professores e funcionários agitaram 2012 em nome da democracia no campus. Na Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, os conflitos e enfrentamentos com a Polícia Militar, instalada dentro da Cidade Universitária, mobilizaram uma verdadeira multidão, reunida em um show protesto, ocorrido no dia 29 de fevereiro. Cinco mil pessoas presenciaram as apresentações e discursos de BNegão, SoundSystem, Patife Band, Isca de Polícia, Tulipa Ruiz e Arrigo Barnabé, que pediram paz no campus.

E o ano começou movimentado no campus Butantã da USP. Um vídeo postado na rede por universitários flagrou a atuação violenta da PM no campus, mais especificamente no prédio ocupado por estudantes desde 2009, onde foi instalado o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Nas imagens, um PM agride um jovem negro por não exibir documento de identificação de estudante. O sargento André Ferreira foi afastado, mas a polícia continua fazendo o policiamento do local.

Ao longo de todo o ano de 2012, foram muitos os enfrentamentos por conta da presença da polícia na USP e das tentativas da reitoria em criminalizar os estudantes e em eliminar espaços utilizados pelos mesmos, como o do antigo Canil, que chegou de fato a ser derrubado no sábado (22), 1º dia de recesso da universidade.

“Demoliram o CANiL_, nosso espaço de livre expressão cultural e política dos estudantes com a cidade. Seis anos 7 meses e 18 dias de ocupação aberta, redonda e horizontal. Sem grades e jaulas. Era a única sala redonda e aberta na USP”, declarou Paulinho Fluxos, um dos ativistas que defendem a permanência do espaço, mesmo sob escombros.

Outra grande mobilização ocorreu na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Estudantes e toda a comunidade acadêmica deflagraram uma greve, que durou um mês, contra a nomeação da nova reitora, a professora Anna Cintra, que ficou em terceiro lugar na eleição da universidade. Nos últimos 30 anos, a mantenedora, a Fundação São Paulo, sempre respeitava a decisão da maioria. No entanto, desta vez, o arcebispo de S. Paulo, o cardeal dom Odilo Pedro Scherer, preferiu recorrer ao regimento interno, que prevê a nomeação a partir de uma lista tríplice gerada pela consulta.

O mesmo já havia sido feito pelo então governador José Serra (PSDB), em 2009, que escolheu o segundo colocado na eleição da Universidade de São Paulo (USP), o atual reitor João Grandino Rodas.

Nas redes e nas ruas

A juventude também se mobilizou pelos grandes temas, como a “Operação Sufoco” deflagrada nos primeiros dias do ano pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) e pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), para retirar os usuários de crack da região conhecida como cracolândia. A ação foi regida pela violência e truculência da polícia, em detrimento dos usuários, que continuam a perambular pelas ruas do centro, sem tratamento adequado de saúde.

                                                                                                         foto: Sergio Carvalho / Diario SP
“Nós da União da Juventude Socialista repudiamos veementemente a atual intervenção do Estado e da Prefeitura na “cracolândia”, a dependência química não se combate com política de segurança, esta serve para combater o crime organizado”, diz um trecho da nota publicada pela UJS, que neste ano realizou seu 16º Congresso, onde reelegeu André Tokarski com uma diretoria composta por 50% de mulheres.

Com o tema “Nas redes e nas ruas”, a UJS realizou uma série de tuitaços e ações de rua para gerar o debate político na juventude, essencial para o estabelecimento do pensamento crítico.


Cartaz do 16º Congresso da UJS

Foi a crítica ao candidato Celso Russomano, a Prefeitura de São Paulo, que levou milhares de jovens às ruas, ou melhor, a Praça Roosevelt, centro de São Paulo no “Festival Amor Sim Russomano Não”, durante as eleições municipais. Não se sabe se foram as mobilizações, mas o fato é que o candidato do PRB caiu nas pesquisas e ficou de fora do segundo turno paulistano. Outro festival ocorreu às vésperas do segundo turno e atraiu 20 mil pessoas.

Festival Existe Amor em SP,no 2º turno da eleição/divulgação

Novos movimentos surgiram e os mais tradicionais se fortaleceram, como as centrais sindicais que se uniram em torno de grandes temas como o fim do Fator Previdenciário. A Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) marcou sua posição contrária a nova proposta, o Cálculo 85/95. Esse é outro tema que ficou para o próximo calendário, que promete grandes mobilizações.

Da redação do Vermelho