Sítio histórico de Olinda vira moradia temporária de turistas
Passar o Carnaval em Olinda, para muitas pessoas, significa, mesmo que por alguns dias, viver na cidade. Isso porque muitos turistas preferem alugar casas na região para aproveitar a folia de Momo sem precisar sair do foco da agitação.
Publicado 07/01/2013 16:50 | Editado 04/03/2020 16:56
Durante o carnaval, Praça Conselheiro João Alfredo não se mantém tão bucólica (Foto: Vanessa Bahé / G1)
E quem aproveita são os moradores “nativos” do Sítio Histórico de Olinda, que alugam casas aos inquilinos temporários e ainda faturam um bom dinheiro. A média de preço para os dias de Carnaval fica entre R$ 10 mil e R$ 15 mil para uma casa de quatro quartos, e R$ 5 mil para as de dois dormitórios.
Amaro Aquiles dos Santos é, como ele mesmo diz, “nascido e criado em Olinda”. Morador da Ladeira da Sé, o senhor de 62 anos trabalha há mais de 30 anos, junto com a esposa, Deise Araújo, alugando casas para temporada na Cidade Alta. A maioria ele já alugou para o período carnavalesco, mas ainda há algumas à espera de pessoas interessadas.
Tatiane Sampaio aproveita o aluguel da casa onde mora par fugir do Carnaval de Olinda (Foto: Priscila Miranda / G1)
A casa de número 51 na Rua 27 de Janeiro, por exemplo, tem quatro quartos, um mezanino, quintal e é mobiliada. “O aluguel custa R$ 15 mil para a sexta [8 de fevereiro] até a quarta à tarde [13].” Além dessa casa, Amaro explica que há uma outra ao lado dela, de número 61, no mesmo valor, com um quarto e vários salões com mezanino que servem como dormitórios. “Era um restaurante e fizeram um quarto dividido com armários”, conta o corretor-morador.
Além do aluguel, Amaro dos Santos afirma que dá apoio aos turistas durante os dias do carnaval. “Não alugo a minha casa. Passo o carnaval aqui para dar suporte aos turistas. Por minha conta eu coloco uma pessoa disponível 24 horas para resolver problemas de água e luz”, disse. Ele também disponibiliza, por fora do pagamento do aluguel, serviços de limpeza, segurança e cozinha.
Tatiane Sampaio é moradora de uma casa de primeiro andar, no cruzamento das ruas 7 de Setembro e Prudente de Morais. Ela alugou o imóvel para o carnaval há mais de três meses e, mesmo com a antecedência, acha que a procura diminuiu um pouco este ano. "O pessoal que procura não quer dar o valor que a gente pede", afirma. Tatiane diz que aproveita para fugir da folia olindense enquanto sua casa está alugada. "Já curti muito o Carnaval daqui, mas hoje em dia prefiro alugar outra casa na praia ou ir para a dos parentes", diz.
O português Jaime Alves alugará seu restaurante durante o Carnaval de Olinda (Foto: Priscila Miranda / G1).
Um restaurante localizado na Rua de São Bento também servirá de abrigo para os brincantes. A Tribuna de São Bento, do português Jaime Alves, não abrirá durante os dias de folia. “Já abri o restaurante no carnaval e não gostei. Não dá lucro econômico, pelo contrário, só prejuízo, pois as pessoas não costumam frequentar ambientes como esse no período”, argumenta o português, que aproveitará para viajar durante o feriado. “Talvez para a praia de Maria Farinha [no Grande Recife] ou para a Europa, visitar meu pai e meus filhos.”
Para alugar o espaço – que, segundo Jaime, custará entre R$ 10 mil e R$ 12 mil –, toda a mobília do restaurante será retirada. Além disso, ele irá disponibilizar o aluguel apenas da sexta-feira (8 de fevereiro) até a terça (12). “Não quero alugar para qualquer pessoa. Aqui é um local de trabalho no ano inteiro, então, se der prejuízo, prefiro fechar”, pontua.
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Outra casa disponível nas ladeiras de Olinda está localizada ao lado da Pousada dos Quatro Cantos, na Rua Prudente de Morais, um dos principais focos da farra olindense. Sob responsabilidade da dona da pousada, Graça Didier, a residência possui dois quartos e duas salas, e o preço fica em torno de R$ 15 mil. “Ela fica alugada da sexta até a quarta de carnaval”, diz a proprietária.
Danos e Lei do silêncio
Quem aluga imóveis deve ficar atento às responsabilidades que assume ao devolver a casa ao proprietário. No contrato de aluguel, Amaro explica que os danos causados na estrutura deverão ser pagos. “O inquilino também tem que entregar a casa limpa, do mesmo jeito que ele recebeu.” O barulho é outro ponto delicado que requer atenção dos turistas que passam o carnaval em Olinda. “Não pode ter som alto, há uma cláusula no contrato que explica isso”, argumentou o corretor.
Existe uma lei municipal que impede o uso do som eletrônico nos dias do feriado. De acordo com a Secretaria de Comunicação de Olinda, o objetivo é evitar a criação de focos extras, que atrapalhem a circulação das pessoas e das agremiações pelas ladeiras. Se houver a denúncia, agentes do Controle Urbano ou da Guarda Municipal vão até o local e, se a reclamação for comprovada, o proprietário do imóvel recebe uma notificação e deverá pagar uma multa de R$ 7 mil. Se reincidir, o valor da multa dobra e o equipamento de som é apreendido. “O barulho atrapalha os blocos e carros de som que passam nas ruas”, complementa a empresária Graça Didier.
Fonte G1