Cordão Valu, carnaval de participação 

No último sábado, (5), o Cordão Valu realizou o primeiro grito carnavalesco do ano de 2013, no que chamou de “abertura do carnaval não oficial de Campo Grande”. No galpão do Bar do Zé Carioca, na Rua General Melo, mais de 300 pessoas participaram da festa, que teve a bateria da Escola de Samba Igrejinha como uma das atrações.

São sete anos de existência do cordão, o que o faz já uma tradição no carnaval campo-grandense. Fundado pelo casal Silvana Valu e Jefferson Contar, o bloco tem uma ligação afetiva com a Igrejinha, uma das mais antigas escolas de samba de Campo Grande. No último desfile, o Valu conseguiu colocar duas mil pessoas na rua, no trajeto que vai do Bairro São Francisco até as imediações da Feira Central.

O Cordão Valu é saudado como uma das mais importantes iniciativas populares dos últimos tempos em Campo Grande. Foi a vontade de fazer samba e de ter um carnaval participativo que levou o cordão a aglutinar cada vez mais pessoas, consolidar-se como atividade cultural e agora ser considerado tradição na cidade. “Aqui, a participação popular não é coadjuvante, é ela quem faz a festa”, diz Silvana Valu.

A manutenção do cordão – que não tem incentivo do poder público ou da iniciativa privada – é feita por meio de rifas, festas e doações dos participantes. Neste ano, além desse primeiro grito de carnaval, serão feitas mais três atividades antes do desfile de carnaval.

Igrejinha corre o risco de não desfilar no carnaval de 2013

Tradicional escola de samba de Campo Grande, fundada em 1975, a Igrejinha teve seu barracão interditado pela Prefeitura em novembro de 2012, devido a uma ação do Ministério Público Estadual, motivada por denúncias anônimas que reclamavam de “barulho e sujeira” causados no local pelas atividades da escola.

Além dos ensaios, a Igrejinha promove oficinas de percussão e rodas de samba às sextas-feiras – segundo a diretoria, única atividade que traz recursos para a escola, por conta do funcionamento do bar. A ação exige que o barracão seja adequado a um projeto preventivo de impacto ambiental, com isolamento acústico que inclui até portas de vidro.
O custo calculado para a reforma do barracão é de R$ 800 mil, cifra inatingível para as condições da escola. Com a interdição, a Igrejinha não poderá realizar as atividades de arrecadação de recursos, o que inviabiliza tanto a adequação da quadra ao projeto quanto o desfile no carnaval de 2013.

Jefferson Contar, fundador do Cordão Valu, define a situação como non sense. “Essa exigência é absurda: obrigar um barracão de escola de samba a ter as condições de uma casa de espetáculos ou uma boate com fins lucrativos. Imaginem se no Rio de Janeiro, onde há mais de 600 pequenas escolas, fosse exigido esse tipo de adequação? Não haveria carnaval.” Para ele, que diz não saber quais interesses há por trás dessa ação, as denúncias fazem parte de uma “sanha moralizante conservadora”, que não entende as manifestações culturais como patrimônio de um povo.

Ana Cláudia Salomão da Silva, jornalista, militante do PCdoB/MS e participante do Cordão Valu.