Muito além da primavera: FSM da Tunísia pode render bons frutos

O Primeiro debate do Encontro “Diálogos Rumo ao Fórum Social Mundial da Tunísia”, promovido pelo Grupo de Apoio e Reflexão ao Processo do Fórum Social Mundial (Grap) realizou-se na noite de terça-feira (29). O evento foi uma mostra das discussões que ocorrerão durante o FSM 2013, que será em Tunes, na Tunísia, entre 26 e 30 de março.

Por Deborah Moreira, da redação do Vermelho

Desde que um jovem tunisiano ateou fogo em seu próprio corpo, em dezembro de 2010, para protestar contra as condições de vida daquele país, o mundo árabe ganhou espaço no noticiário internacional. Mas, ativistas da região contestam a versão da grande mídia de que se trata de um “despertar”, em alusão ao nome dado às revoluções: Primavera Árabe. “Depois das revoluções, os jornais diziam que houve um despertar do mundo árabe, como se nosso povo estivesse dormindo!”, disse o ativista Hamouda Soubhi, marroquino e membro do Comitê Local do Fórum Social Mundial (FSM) da Tunísia. 

“Quer dizer que antes disso, estávamos todos inertes, dormindo, sem nos mobilizarmos?”, finalizou Hamouda que, antes disso, já havia iniciado sua fala abordando justamente o início das mobilizações, nas décadas de 1980 e 1990.

Ao contrário do que diz a mídia hegemônica, a revolução não começou de um dia para o outro, na internet, nas redes sociais, mas sim a partir da união de diversas frentes de luta na Tunísia, como de direitos humanos, civis e econômicos, impulsionados pelo movimento sindical regional, mais acostumado a realizar atos públicos.

De acordo com o militante do Marrocos, que integra o Comitê Local do FSM 2013, não é estranho todo o movimento ter começado justamente na Tunísia: “A Tunísia tem tradição de ser moderna, foi o primeiro país árabe a proibir a poligamia, dando poderes às mulheres”.

Halima Juini, de uma organização de mulheres da Tunísia, atestou a luta pela igualdade de gênero durante seu depoimento, ao falar sobre um grupo de trabalhadoras de uma fábrica de tecidos que confrontaram seus patrões ao verem seus postos de trabalho ameaçados com o fechamento eminente do local. Para ela, a participação das mulheres deu força a luta no mundo do trabalho e que a mobilização maior se deu pela adesão da juventude.

“A revolução foi fruto da coalizão dos movimentos de mulheres, estudantil, sindical e outros misturados aos blogueiros que quebravam códigos sociais criticando o governo na internet, nos blogues. E alguns pagaram um preço alto”, destacou, referindo-se ao policiamento na internet com o objetivo de filtrar e censurar as informações.

O FSM da Tunísia será uma oportunidade para não somente conhecer melhor as bandeiras de luta do mundo árabe, mas também contribuir com o crescimento e fortalecimento das organizações civis locais, integrando-os às lutas globais para que não mais pareça somente mais uma primavera.