Pacificação no RJ já livrou 500 mil do poder do tráfico 

Neste domingo (3), mais uma comunidade do Rio de Janeiro foi ocupado por forças de segurança. De acordo do a Secretaria de Segurança Pública do Rio, a operação foi rápida, sem tiros ou momentos de medo, em apenas 25 minutos, o Complexo do Caju e a Barreira do Vasco, em São Cristóvão, foram ocupados.

Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame - Foto: André Naddeo / Terra

Em coletiva à imprensa, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que é “muito satisfatório” o resultado dessa nova etapa da pacificação do Rio, que já livrou quase 500 mil moradores do poder do tráfico.

Mesmo com o sucesso da operação, o secretário de Segurança do Rio afirmou que o momento ainda não é de comemoração. “Não existe vitória. Vocês nunca me verão festejando uma ocupação porque o problema é muito antigo, sério. Segurança pública é um bem subjetivo, uma conquista diária, um sentimento”, disse Beltrame.

Números

Beltrame destacou ainda que, desde 14 de fevereiro, quando começou o cerco nas comunidades pacificadas, 288 pessoas foram presas e 38 menores de idade, apreendidos. E revelou que planeja levar as UPPs para a Baixada Fluminense e Niterói.

“Não estamos fazendo um projeto para as Olimpíadas ou a Copa das Confederações. Conduzimos um programa para o cidadão fluminense. Se a população parar para refletir, verá que a pacificação não está acontecendo por acaso, uma coisa é feita depois da outra. Existem, sim, planos para a Baixada e Niterói. Mas não serei mercenário da ilusão e dizer que vamos montar UPPs nesses lugares na semana que vem”, informou o secretário.

Operação

De acordo com a Secretaria de Segurança do Rio, fuzileiros navais e policiais civis e militares contaram com um grande aparato para realizar a ocupação. Eles usaram 17 veículos blindados da Marinha, com capacidade para 25 pessoas, cada um, além de caveirões, escavadeiras e motocicletas.

As operações mobilizaram 200 fuzileiros navais, 1.400 PMs dos batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Choque (BPChoq), 200 policiais civis e 150 inspetores rodoviários federais.

A Secretaria informou ainda que 22 pessoas foram presas ao longo do dia. Um "micro-ondas" – estrutura usada por traficantes para queimar bandidos rivais – foi descoberto numa casa da Vila dos Sonhos, no Complexo do Caju.

Policiais também encontraram material para endolação de drogas na Barreira do Vasco e, no Parque Alegria, apreenderam coletes à prova de bala, radiotransmissores, pequena quantidade de maconha e crack, folhas de contabilidade de uma quadrilha e uma réplica de fuzil.

Política de segurança do RJ

Coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Uerj, o sociólogo Ignacio Cano aponta a ocupação do Complexo como crucial para o sucesso da política estadual de segurança pública.

“Pela sua localização em relação às vias expressas, com certeza a Maré iria ser ocupada em algum momento, isso faz parte da lógica de expansão do projeto. É uma área complicada, mas não tão complicada quanto, por exemplo, o Complexo do Alemão. Nesse sentido, a experiência do Alemão, com os problemas e os sucessos acontecidos, deve ser importante agora na Maré”, diz.

Cano admite que a ocupação é um passo ousado do governo, que enfrenta problemas em outras favelas consideradas mais difíceis.

“Será preciso criar várias UPPs lá dentro, para as diferentes regiões. A Maré tem várias facções diferentes, tem milícia e uma situação de muito conflito historicamente. Esperamos que essa ocupação consiga aprender com os problemas do passado e minimizar a violência naquela região em um prazo relativamente curto”, diz o sociólogo, antes de ressaltar que “a experiência no Alemão, com os recentes relatos de bandos armados, revela uma situação onde ainda não teria sido completado plenamente o processo de pacificação”.

Da Redação em São Paulo
Com Agências