Violência: mortes por arma de fogo aumentaram 346%, em 30 anos

De acordo com a pesquisa 'Mapa da Violência 2013: Mortes Matadas por Armas de Fogo', feita pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, as mortes por arma de fogo aumentaram 346%, em 30 anos. Nesse período, as vítimas passam de 8.710, no ano de 1980, para 38.892, em 2010. No mesmo intervalo de tempo, a população do país cresceu 60,3%.

Joanne Mota, do Vermelho com informações da EBC

O estudo, que foi divulgado nesta quarta-feira (6), analisou  as mortes por armas de fogo decorrentes de agressão intencional de terceiros (homicídios), autoprovocadas intencionalmente (suicídios) ou de intencionalidade desconhecida cuja característica comum foi a morte causada por uma arma de fogo. 

Segundo a pesquisa, o crescimento da mortalidade por armas de fogo foi maior entre as pessoas com idade entre 15 e 29 anos (414%). Além disso, os homicídios jovens cresceram de forma mais acelerada: na população como um todo foi 502,8%, mas entre os jovens o aumento foi 591,5%.

Em entrevista ao Vermelho, o ex-vereador e presidente do PCdoB/SP na capital paulista, Jamil 
Murad, explicou que este cenário reflete o caos e a adoção de uma política de segurança equivocada.

“Hoje, a insegurança é total. Isso é fruto de uma política absolutamente errada, herdada ainda do Regime Militar, mantida pelas gestões que não olham ara a questão de umponto de vista macro”, criticou o dirigente comunista”.

Ele cita como exemplo o avanço da violência em São Paulo e reafirma que o governo estadual potencializou a violência ao querer resolver esse problema com mais violência. “O que assistimos em nossa capital é a implantação da política do olho-por-olho, dente-por-dente. Assistimos o Estado implementar ações contra o crime organizado que só atingem o povo. Ou seja, a estratégia adotada pelo governo tucano condenou à morte diversos cidadãos”.

Para o comunista, “é chegada a hora de exigir uma política de humanização para cidades, que ataque os problemas com reformas estruturais profundas. Tais reformas devem estar amparadas pelo crivo da sociedade, esta que é a mais afetada pela atual situação de caos e medo. É preciso se antecipar aos problemas. É assim que se governa”, externou Jamil

Pelo Brasil

A pesquisa também avaliou o mapa da violência pelos estados. A partir de uma análise dos dados de 2000 a 2010, Alagoas aparece em primeiro lugar no ranking das mortes por armas de fogo com 55,3 mortes a cada 100 mil habitantes. Em seguida vem Espírito Santo com 39,4, Pará (34,6), Bahia (34,4) e Paraíba (32,8).

O estado de Pernambuco, que antes ocupava o segundo lugar, aparece agora na sexta posição com 30,3 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes. O estudo destaca o Maranhão, atualmente em 20º, mas cujo número de vítimas cresceu 344,6% na década.

O Rio de Janeiro aparece em oitavo lugar no ranking, com 26,4 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes e São Paulo caiu 18 posições, saindo da sexta posição para 24ª, uma queda no índice de mortes por arma de fogo de 67,5%. O estudo não traz informações sobre as mortes por armas de fogo ocorridas nos último três anos.

Morte de jovens 

O Mapa da Violência 2013 também avaliou os impactos da violência entre os jovens. De acordo com a pesquisa, em 2010, 
as armas de fogo são principal causa de morte de jovens. Neste ano, foram registradas 75.553 mortes de jovens de 15 a 29 anos de idade, sendo que um terço (22.694) foi decorrente do uso de arma de fogo. 

A pesquisa mostra que a maior parte dos homicídios resulta da chamada “cultura da violência”. Os dados contrariam a “visão amplamente difundida, principalmente nos meios ligados à Segurança Pública, de que a violência homicida do país se encontra imediatamente relacionada às estruturas do crime e mais especificamente à droga”.

Outra questão avaliada pelo estudo foi a influência da sensação de impunidade para o avanço da violência.  “O índice de elucidação dos crimes de homicídio é baixíssimo no Brasil. Estima-se, em pesquisas feitas, inclusive a da Associação Brasileira de Criminalística feita em 2011, que [a elucidação] varie entre 5% e 8%. Esse percentual é 65% nos Estados Unidos, no Reino Unido é 90% e na França é 80%,” diz a pesquisa.