Wylkerson: Contag é exemplo para outras entidades sindicais 

O atual secretário-geral da Contag, David Wylkerson de Souza entende que a direção da entidade acaba de dar um grande exemplo a todo o movimento sindical, ao finalizar um amplo Congresso, no qual prevaleceu a unidade, apesar das divergências existentes no seio de sua base. 

David Wylkerson de Souza - Contag - CTB - Fonte: Contag

Nesta entrevista, o dirigente baiano, que também é vice-presidente da CTB, faz um balanço do período de dois mandatos que permaneceu à frente da Secretaria Geral da Contag e compartilha suas expectativas diante de um novo desafio: conduzir a Secretaria de Política Agrícola da entidade.

Confira abaixo:

Portal CTB: Ao término de dois mandatos à frente da Secretaria Geral da Contag, que balanço você faz desse período?
David Wylkerson de Souza: Avalio de forma positiva, pois tivermos alguns avanços consideráveis do ponto de vista da articulação política interna, coordenando sempre o planejamento estratégico da entidade para todo o período do mandato, trabalhando os planos operacionais (ou seja, os planos de ação anuais), trabalhando com o conjunto da direção na coordenação desse processo todo. E tivemos como um todo, no conjunto da direção da Contag, vitórias importantes, como a discussão de alguns temas políticos – questão que sempre foi complexa e difícil de dialogar. Creio que conseguimos contribuir para que esses temas fossem discutidos pela direção, com a participação das federações.

Tivemos também um avanço significativo, que teve como consequência a realização deste Congresso, no qual apresentamos uma chapa unitária, construindo grandes consensos sobre temas polêmicos – algo que antes era muito difícil de acontecer. Em resumo, fazemos uma avaliação positiva, na medida do possível e das condições políticas para contribuir ao avanço da gestão da entidade e com boas perspectivas para a gestão que agora se inicia.

Para a gestão que se inicia você terá pela frente um novo desafio na direção da Contag. Qual a expectativa?
David Wylkerson de Souza: É um desafio enorme o que teremos pela frente. Pela minha militância, pela minha história e pelo contexto que envolve a Secretaria de Política Agrícola. Ao longo dos 50 anos de história da Contag, será a primeira vez que esta Pasta será ocupada por alguém do Nordeste – condição que dobra nossa responsabilidade, pois não podemos regionalizar a condução da Secretaria, e sim precisamos atender as especificidades que temos, especialmente no Sul, Norte e Nordeste, uma vez que o Sul sempre teve o comando desta Secretaria.

Então não podemos tratar apenas das pendências do Norte e do Nordeste, mas sim continuar os trabalhos que sempre foram feitos para o Sul, até tomando como modelo essa gestão, para fazermos o mesmo pelo Nordeste, pois há muitos aspectos positivos no histórico dessa Pasta. Sinto-me tranquilo e com muita disposição. Sei do tamanho da responsabilidade e gosto de valorizar desafios. Não será uma tarefa simples, mas estamos apostando que, com nossa força e o conjunto das federações, faremos um trabalho que dê conta das demandas dos agricultores e das agricultoras de todo o país.

A visita da presidenta Dilma Rousseff ao 11º Congresso trouxe certo otimismo à direção da Contag? Ela fez algumas promessas relevantes, ligadas à reforma agrária, à habitação e à assistência técnica. O que você pensa sobre essa sinalização do governo?
David Wylkerson de Souza: Recebemos com bastante otimismo, pois temas como assistência técnica e habitação rural são responsáveis por boa parte da carência enorme que ainda existe na área rural, em especial no Norte e Nordeste. E isso vem em boa hora, pois é uma pauta antiga nossa, no sentido de implementar políticas públicas para diminuir essa desigualdade social. Não adianta ficarmos batendo na mesma tecla em todos os Gritos da Terra. Não temos o que reclamar sobre o crédito que o governo libera (em alguns anos, até não conseguimos gastar todo o valor). O grande problema é que o agricultor tem acesso ao crédito, mas não tem uma orientação sobre como produzir. O processo de organização é deficiente ainda. Precisamos focar nessa tarefa também.

Nesse sentido, o anúncio da presidenta é o resultado da nossa insistência em todos os Gritos da Terra, quando temos repetido ao governo que precisamos de uma assistência técnica pública, gratuita e de qualidade, além da questão de aumentar o acesso à moradia digna, sempre com o sentido de diminuir a desigualdade no campo. A declaração de Dilma nos deixou otimistas. Já dissemos a ela e ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, que iremos cobrar esse discurso, que era algo inesperado. Estaremos atentos para a implantação e ampliação dessas promessas. Resta a nós cobrar e ajudar no que for necessário.

No papel de secretário-geral, você acompanhou de perto a realização e a mobilização das plenárias para o 11º Congresso. O que você achou do nível das intervenções?
David Wylkerson de Souza: Tivemos uma avaliação altamente positiva, desde o processo de convocação das plenárias, passando por cada uma delas e de toda a mobilização que foi feita. Conseguimos, ao longo desse processo, debater temas de grande importância para o movimento sindical, bem como o rumo dos próximos quatro anos e também para os 50 anos seguintes da Contag.

O debate político foi de altíssimo nível. Isso mostra que os estados prepararam muito bem suas delegações, sinaliza que houve realmente um debate preparatório. As emendas feitas junto ao texto-base foram enriquecedoras para a construção do documento final. E o debate está se dando em um nível como há tempos não víamos em um Congresso da Contag, com muita participação, em quantidade e qualidade. A partir dessas orientações é que a nova diretoria dará conta de exercer seu próximo mandato.

Na condição de dirigente da CTB, qual o papel desempenhado pelos classistas na construção do Congresso e da unidade apresentada?
David Wylkerson de Souza: O papel da CTB foi fundamental. Mesmo sendo uma Central nova, quase uma criança que está dando seus primeiros passos, ela demonstrou uma maturidade gigantesca – e isso é reconhecido não apenas pelas federações filiadas, mas também por algumas federações ligadas ao campo cutista.

Nossa maturidade seu deu no sentido de preservar a grandeza da Contag e valorizar seu papel, de modo a garantir que nenhuma central se sobrepusesse à realidade da Contag. Isso foi fundamental e contribuiu decisivamente para facilitar a composição de uma chapa única, bem como para a definição de propostas responsáveis. Quem primeiro defendeu manter a Contag desfiliada de qualquer central fomos nós. Tínhamos até condições políticas de filiar a Contag à CTB, mas haveria consequências ruins para a categoria. E, para nós, em primeiro lugar está sempre o interesse dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais.

Optamos por respeitar a importância das centrais, de modo a preservar a realidade da Contag. Foi algo muito maduro, sem vaidade e com os pés no chão, algo que partiu tanto dos companheiros de direção quanto das bases nos estados. Tivemos um papel sem grande alarde, mas foi publicamente reconhecido em termos políticos. A consolidação disso é um Congresso sem tensão, sem maiores acirramentos e com tranquilidade, sempre a partir de pontos de consenso que preservem a Contag. Demos um grande exemplo para que outras entidades sindicais percebam que, mesmo com divergência, é possível construir a unidade.

Fonte: Portal CTB