Líder curdo do PKK anuncia cessar-fogo na Turquia 

O líder do movimento insurgente do partido curdo na Turquia, PKK, Abdullah Ocalan emitiu uma declaração de cessar-fogo há muito esperada, nesta quinta-feira (21). O objetivo é a desescalada de um conflito que já dura 30 anos, e em que já custou dezenas de milhares de vidas na Turquia. Ocalan cumpre uma sentença de prisão perpétua por traição e separatismo, desde 1999, em uma ilha próxima da capital Istambul. 

O cessar-fogo anunciado no dia que marcou o Ano Novo curdo, ou Newroz, também declara a possível retirada do PKK para as bases que tem no norte iraquiano (que compõe o Curdistão, um território histórico que ficou dividido entre diferentes países).

Na carta de Ocalan, que foi lida por membros do parlamento em curdo e em turco, ele disse: “Na presença de milhares de testemunhas, digo a vocês, deixemos que um novo processo se inicie. Não às armas, sim à política.”

A declaração teve lugar na cidade de maioria curda Diyarbakir, onde milhares de pessoas se juntaram para celebrar, e dá continuidade às conversações de paz clandestinas entre a agência de inteligência da Turquia e o antigo “inimigo público número um” do país.

O ministro do Interior Muammer Guler disse que “a linguagem [na declaração] é de paz. Agora temos que garanti-la na prática.”

Ele também lembrou que é ilegal ostentar placares de Ocalan, de acordo com a lei turca; entretanto, milhares de pessoas o fizeram, no evento que celebrava o Newroz em Diyarbakir.

Reconhecimento constitucional

O cessar-fogo de Ocalan provavelmente pedirá em retorno o reconhecimento constitucional e de direitos linguísticos para os quase 15 milhões de curdos da Turquia.

O plano de paz é o resultado de consultas por escrito entre Ocalan, legisladores pró-curdos e órgãos do PKK na Europa e no norte do Iraque, sob a monitoração acirrada de agentes turcos.

Os parlamentares turcos disseram que Ocalan possivelmente pedirá o estabelecimento de comissões para o monitoramento adequado do cessar-fogo, e pedir a passagem segura de combatentes que queiram deixar a Turquia.

O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan já prometeu que nenhum militante será abordado “se eles deixarem o território”. Mas ao processo de paz desgastado não faltam controvérsias.
A oposição nacionalista liderada por Devlet Bahceli acusou Erdogan de traição e de vender o país “a um punhado de bandidos sanguinários”.

Erdogan e Ocalan pareceram ter apostado seus futuros políticos no impulso renovado para terminar o conflito armado de 29 anos por autodeterminação, em que cerca de 40.000 pessoas, maioritariamente curdas, já morreram.

Com Al-Jazeera