Banco Central aumenta em 0,25% os juros básicos da economia

Pela primeira vez em quase dois anos, o Banco Central reajustou os juros básicos da economia. Por 6 votos a 2, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 7,5% ao ano. A terceira reunião deste ano do Comitê teve início na terça-feira (16). O resultado foi divulgado na noite desta quarta-feira (17).

O último reajuste da taxa Selic havia ocorrido em julho de 2011, quando o Copom elevou os juros básicos de 12,25% para 12,5% ao ano. No mês seguinte, a Selic começou a ser reduzida sucessivamente até atingir 7,25% em outubro de 2012, o menor nível da história. Nas três reuniões seguintes, em novembro de 2012, janeiro e março deste ano, o Copom optou por não alterar a taxa.

O novo percentual entra em vigor nesta quinta-feira (18) e vale até dia 29 de maio, data da próxima reunião do colegiado.

Ao contrário do que ocorreu nas três últimas reuniões, desta vez, a decisão não foi unânime. Dos oito diretores do Banco Central, que formam o Copom, dois divergiram da maioria. Eles queriam que a Selic ficasse em 7,25% ao ano.

Usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), a taxa Selic serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la, o Banco Central contém o excesso de demanda, que se reflete no aumento de preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas alivia o controle sobre a inflação.

Movimentos dos trabalhadores

Em nota, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasi (CTB), que realizou nesta quarta-feira (17) uma manifestação contra o aumento dos juros, em frente ao Banco Central, na Avenida Paulista, se posicionou após a reunião do Copom; segundo o presidente da Central, este aumento premia banqueiros e contraria a nação.

Para a CTB, a iniciativa, "tomada após forte pressão do mercado financeiro, premia banqueiros, especuladores e rentistas que vivem à sombra da dívida pública, mas está na contramão do anseio nacional por desenvolvimento e valorização do trabalho".

De acordo com a Central, o combate à inflação justifica aparentemente, a decisão, "mas a elevação da Selic terá pouco ou nenhum impacto sobre a evolução dos preços, que podem até ser reduzidos em função de outros fatores, como o esperado aumento da oferta de alimentos no segundo semestre. A redução e estabilidade dos preços interessa sobretudo aos trabalhadores e trabalhadoras".

Para a CTB, a elevação da taxa básica de juros concretamente significa bilhões de reais "a mais no bolso dos credores da dívida pública, principalmente banqueiros, que agora podem alegar novos motivos para ampliar o spread bancário e aumentar ainda mais as taxas extorsivas que cobram de empresas e consumidores", ressalta a nota.

O presidente da CTB, Wagner Gomes que assina a nota aponta ainda que "o povo brasileiro só tem a perder, já que os juros altos são companheiros da estagnação econômica, do desemprego e do arrocho salarial, conspirando contra os esforços de desenvolvimento nacional".

Para Wagner, "a medida se revela ainda mais contraproducente na atual conjuntura, marcada pelo desempenho pífio do PIB, persistência da crise mundial e incertezas em relação ao desempenho futuro dos investimentos e da produção. A nova orientação da política monetária traduz um retrocesso e deve ser repudiada e condenada pela classe trabalhadora, as centrais sindicais, os movimentos sociais e as forças progressistas do país que batalham pelo desenvolvimento nacional com soberania, democracia e valorização do trabalho", assina o presidente da CTB.

A Força Sindical também emitiu nota em relação ao assunto, segundo a entidade, "ao contrário da pregação dos rentistas, os trabalhadores consideram fundamental que o Comitê de Política Monetária continue perseguindo a meta de fazer a taxa de juros brasileira convergir com a praticada internacionalmente, o que exige cortes na taxa Selic e não seu aumento". De acordo com a Força, esse aumento implica nas metas de crescimento econômico e de emprego do país, "indicadores que serão seriamente afetados caso prevaleça a concepção dos rentistas e do sistema financeiro no atual debate sobre os limites da inflação".

Para o editor do jornal Brasil de Fato, Igor Felipe, o governo Dilma “cedeu à pressão dos bancos, da mídia e do PSDB”.

Igor argumenta que em mais uma disputa política, o governo optou por atender os interesses do grande capital internacional, e acrescenta: “O aumento dos juros pode sacrificar o crescimento neste ano, prejudicando a indústria e a classe trabalhadora”.

O editor argumenta ainda que a decisão do Copom representa também uma “derrota ideológica”, porque “legitima o controle da inflação como a questão central da política econômica”.

José Reinaldo Carvalho, secretário nacional de Comunicação do PCdoB, também deplora a decisão e alerta para a hegemonia cada vez maior que o capital monopolista-financeiro exerce no país. Para ele, enfrentar esse poder exige ampla mobilização política e social.

Com informações da CTB, Agência Brasil e Valor Econômico.