Projeto 'biografia não autorizada' será votado no plenário da Câmara

O projeto que autoriza a divulgação de imagens, escritos e informações biográficas de pessoas públicas, mesmo se não houver a autorização da pessoa ou de familiares da pessoa biografada terá que ser votado pelo plenário da Câmara antes de ser enviado ao Senado.

Apesar de ter sido aprovado, na Comissão de Constituição e Justiça em caráter conclusivo – ou seja – poderia seguir direto para votação no Senado, o deputado Marcos Rogério (PDT-RO) apresentou recurso para que a proposta seja votada no plenário da Câmara. Não há data para a votação em plenário. "Em uma matéria importante como esta a CCJ não pode substituir o plenário da Casa", justificou o deputado Marcos Rogério.

A proposta altera o artigo 20 do Código Civil para incluir a possibilidade de divulgação da biografia sem autorização, quando a trajetória pessoal, artística ou profissional da pessoa tem dimensão pública e ou haja interesse da sociedade em sua divulgação.

Na discussão feita na CCJ, Marcos Rogério já havia afirmado que o texto está mal elaborado, abrindo margem para interpretações. "O que é dimensão pública? Este é um conceito relativo. Alguém pode escrever, por exemplo, uma biografia de um vereador acusando-o ou promovendo-o eleitoralmente. pode ser usado para bem e para o mal. A Constituição protege a liberdade de expressão e a privacidade", argumentou o deputado.

Relator do projeto, o deputado Alessandro Molon disse que hoje em dia, no Brasil, apenas biografias autorizadas são publicadas, o que limita a liberdade de expressão de pesquisadores e autores e fere o direito da sociedade à informação. Molon ressaltou que a proposta atinge apenas pessoas com dimensão pública e que os que optam por uma vida pública têm limites à proteção de sua privacidade mais restritos dos que optam por uma vida privada.

O projeto foi apresentado em 2011 pelo deputado Newton Lima (PT-SP) e inspirado em proposta semelhante apresentada em 2008 pelo então deputado Antonio Palocci (PT-SP). Autor do projeto, Newton Lima diz que a legislação brasileira deve se adequar à realidade internacional, onde é permitida a divulgação de biografias não autorizadas.

"Por se tratar de processo global e inevitável de acesso restrito à informação, sob nenhuma forma de censura, entende-se que projeto apresentado faz-se necessário para que a legislação se adeque à realidade internacional", diz um trecho da justificativa do projeto que cita como exemplo o filme "Di Glauber", documentário feito por Glauber Rocha homenageando o pintor Di Cavalcanti, proibido pela família do pintor.

O projeto mantém o caput do artigo 20, no capítulo de Direitos da Personalidade, que diz que "salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra ou a publicação, a exposição ou a utilização de imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais".

Também foi mantido o parágrafo que diz que se a pessoa morrer, a família pode requerer essa proteção.

Fonte: O Globo