Assad: “Seremos país da Resistência, similar ao Hezbolá”

Em entrevista realizada pela emissora de televisão libanesa Al-ManarTV, o presidente da Síria, Bashar Al-Assad reafirmou o papel que seu país tem na configuração atual do Oriente Médio, sublinhando também a atitude de Israel, que atacou recentemente a Síria, enfatizando que a agressão faz parte dos planos do imperialismo dirigido pelos Estados Unidos para fazer a Síria retrucar a provocação e cair em uma armadilha.

Leia a seguir trechos da entrevista, traduzida pelo Coletivo Vila Vudu de tradutores e republicada a partir do blog Redecastorphoto:

O presidente da Síria, Bashar al-Assad, disse que a Síria tem condições para

…satisfazer o desejo dos sírios, e disparar meia dúzia de mísseis contra Israel, em reposta ao ataque israelense contra Damasco. Mas todos sabemos o quanto Israel deseja uma guerra, e que, se os sírios retaliassem, estaríamos aceitando a provocação e cometeríamos ato de guerra, equivalente ao que fizeram os israelenses.
 

Como noticiou o jornal Al-Akhbar, do Líbano, Al-Assad disse a convidados que:

… a situação internacional não admite mais uma guerra, que nem Israel nem os EUA podem suportar. Se respondêssemos, teríamos no máximo uma vingança tática. E o que queremos é vingança estratégica: abrir as portas à Resistência e converter a Síria em país da Resistência.
 

Assad sobre o Hezbolá

Depois do ataque israelense, tivemos ainda mais certeza de que já estamos combatendo contra nosso único inimigo. Já identificamos seus soldados e agentes infiltrados em nosso país – disse o presidente Assad.

O diário libanês noticia que Assad também voltou a manifestar alta confiança, apoio e admiração pelo Hezbolá,

…organização capaz de pensar e agir com racionalidade, com firmeza e com lealdade. Decidimos fornecer tudo de que o Hezbolá precise. Pela primeira vez, sentimos, com convicção profunda, que partilhamos a mesma situação e o mesmo destino, que o Hezbolá não é apenas um aliado e parceiro para cuja resistência os sírios contribuímos. Assim sendo, decidimos nos aproximar e fazer da Síria mais um país da Resistência, similar ao Hezbolá, para defesa da Síria de hoje e das futuras gerações.
 

Funcionário sírio na Turquia

Nesse contexto, o jornal Al-Akhbar citou um funcionário sírio de alto escalão, que disse que

… a Turquia agiu como moleque hipócrita e mentiroso, no qual não se pode confiar. Não há sequer uma mínima possibilidade de que o acordo anunciado entre Ankara e os curdos seja algum dia implementado, porque nem o Exército Turco e o Partido Desenvolvimento e Justiça partilham opiniões semelhantes sobre aquele acordo.
 

Sobre o Iraque

Por outro lado, disse o mesmo funcionário sírio, não há qualquer problema na relação entre os governos sírio e iraquiano.

É claro que os qataris e os turcos estão imiscuindo-se no campo iraquiano, onde semeiam confusão e desentendimentos e tentam todo o tipo de sabotagem, ainda mais ativos que os próprios sauditas. Mas o governo do Iraque parece ter bom controle da situação e vai superando as crises, uma depois da outra, como se vê.

A mesma fonte disse também que a chamada “oposição” iraquiana

…não tem qualquer profundidade. A Turquia não tem meios nem recursos para reforçá-la. Trata-se hoje, no máximo, de malas de dinheiro, mas mesmo isso está com os dias contados.
 

Sobre a Rússia

Sobre os russos, o mesmo funcionário do governo sírio disse que

…os russos são confiáveis, honestos e têm reconfortado os sírios, e não há problema algum com os russos.
 

O que comprova o que dizem várias outras fontes, segundo as quais a Síria, enquanto vai conquistando posições em campo, também tem sido bem sucedida em vários acordos políticos.

Seja como for, a fonte fez questão de ressaltar que:

…as relações entre Síria e Rússia não são o que alguns supõem que sejam. A Síria não espera coisa alguma dos russos. Os russos, sim, é que contam com que o Exército Sírio avance em campo.
 

Sobre o Egito

Sobre o Egito, o mesmo alto funcionário sírio disse ao jornal Al-Akhbar que:

Damasco vê com bons olhos que o Cairo está voltando a desempenhar o papel de liderança que teve na Região, deixando de seguir a Arábia Saudita e o Catar.
Segundo o mesmo diário libanês,

Teerã e Damasco parecem convictas de que o Cairo está-se afastando de turcos e qataris, e pronto para reconsiderar velhas posições que assumiu sobre Iraque e Síria. O governo egípcio dá sinais de disposição para reconsiderar suas políticas internas, no que tenham a ver com o relacionamento com o partido Al-Azhar e grupos da oposição. E o Irã está disposto a trabalhar também nesse campo, oferecendo a própria experiência para ajudar a reconstruir o estado egípcio.

Sobre o Golfo

Sobre os países do Golfo, a mesma fonte síria entende que:

…vivem em tempos ultrapassados, são do tempo das tribos. Não sabem nem entendem o conceito de Estado. Aconselhamos todos que tenham de negociar com eles, a não tratá-los como se fossem estados. É perda de tempo dialogar com eles. Bem que tentamos! Mas, no instante que qualquer política ou grupo político é bem-sucedido e avança na região, eles saltam sobre você.
 

Sobre a Jordânia

Diferente disso, estamos em contato com a liderança jordaniana. O rei Abdullah não tem interesse em que a Síria seja ameaçada, mas está sob pressões terríveis, além de ser constantemente ameaçado por intervenção, seja dos EUA ou de Israel. Seja como for, a Jordânia sabe que seus inimigos serão sempre o Catar, a Arábia Saudita e a Fraternidade [Muçulmana] – disse a mesma fonte síria, ao jornal Al-Akhbar, do Líbano.

Sobre o Catar

Concluindo com o Catar, o funcionário do governo sírio disse que o Catar também enfureceu a Jordânia e o presidente Mursi do Egito.

Quem aquele Emirado pensa que seria, para tentar pôr de joelhos, com dinheiro, todos os estados árabes e seus governos?

Sugeriu fortemente que:

…vários Estados do Golfo ressentiram-se do que Doha fez na última Cúpula Árabe, no Catar. Mas, simultaneamente, o governo do Catar também está frustrado, ante o que consideraram como ‘'refugo'’ dos norte-americanos e franceses, e a avançada da Arábia Saudita.