Obama e Erdogan repetem ingerência na soberania da Síria

O presidente dos EUA Barack Obama disse que o presidente da Síria, Bashar Al-Assad, deve deixar o poder. A declaração foi feita na Casa Branca, nesta quinta-feira (16), onde Obama recebe o premiê da Turquia Recep Tayyip Erdogan. O presidente mantém a postura de ingerência nos assuntos internos da Síria, embora em outros fóruns tenha reconhecido a importância de um diálogo político nacional, já proposto pelo governo sírio.

Erdogan e Obama - AP

"Assad precisa sair. Vamos continuar pressionando o regime e trabalhando com a oposição do país para permitir uma Síria democrática sem Assad", disse Obama, reafirmando a política irresponsável de ingerência, ao apoiar um grupo armado contrário a um governo legítimo eleito democraticamente, em 2000 e 2007.

Segundo Obama, somente "livre da tirania de Assad" a Síria pode voltar a ser uma "fonte de estabilidade, e não de extremismo", ao referir-se indiretamente aos grupos formados por mercenários estrangeiros, financiados e armados pelos vizinhos (incluindo pela Turquia), por europeus como o Reino Unido e pelos EUA.

Sobre como seria uma saída de Assad do poder, Obama não foi específico, falando em trabalhar com a oposição para estabelecer uma “transição pacífica”. Obama afirmou, porém, que os EUA não decidirão unilateralmente sobre o que fazer no país.

"Não há uma fórmula mágica. É preciso achar uma solução de paz à Síria e que estabilize a região, mas não é algo que os EUA farão sozinhos”, disse Obama, que ainda retomou a acusação sem bases de que o governo tem usado armas químicas contra os insurgentes. Obama não falou dos indícios já admitidos por comissões de investigação internacionais sobre o uso de armas químicas pelos rebeldes.

Ao responder a perguntas de jornalistas, Obama disse que "nós preferiríamos que Al-Assad tivesse saído há dois anos". "Ele perdeu a legitimidade quando começou a matar seu próprio povo, que protestava pacificamente," afirmou, mantendo alegações ultrapassadas e quase cínicas, sem levar em consideração a responsabilidade dos grupos armados pela violência que se alastrou pelo país.

Pressão de vizinhos

Obama e Erdogan tiveram uma reunião privada centrada na crise síria, entre outros temas. A Turquia, que acolhe em seu território mais de 300 mil refugiados sírios, há tempos reivindica um envolvimento mais ativo dos EUA para resolver o conflito na Síria, intensificando o pedido após o atentado do sábado (11), que causou 51 mortos na cidade turca de Reyhanli.

A Turquia especula sobre a influência da violência na Síria no ocorrido, mas nem Erdogan ou Obama fizeram referência ao elevado número de mercenários turcos envolvidos nos confrontos internos na Síria, e ao envolvimento turco ativo ao prover refúgio para os envolvidos na violência.

Outros países da região, como Israel, também cobraram o envolvimento dos EUA no conflito sírio, enquanto agredia unilateralmente a soberania da Síria com ataques aéreos realizados na semana passada, na região da capital Damasco. Israel não recebeu condenação dos EUA ou da ONU por essa agressão, violação direta do direito internacional.

Tendo concordado, em encontro com a Rússia, com a realização de uma conferência internacional de paz que envolva todas as partes no conflito e os atores regionais, os EUA deveriam abster-se de encontros bilateriais como esse, de onde declarações improdutivas são emitidas.

O encontro entre a Turquia e os EUA reflete apenas a posição de dois aliados contra um governo legítimo que já propôs e mantém diálogos políticos produtivos com a oposição, no país. Em encontro com a Rússia, os EUA defenderam uma solução dialogada, mas as suspeitas sobre a falta de compromisso estadunidense com a paz e com o respeito pela soberania alheia mais uma vez se confirmam.

Da redação do Vermelho