Audiência na Alesp consolida força dos movimentos de samba de SP

Por iniciativa da deputada Leci Brandão (PCdoB), a Assembleia Legislativa recebeu nesta quinta (16), no auditório Paulo Kobayashi, sambistas de vários cantos da cidade e do Estado de São Paulo. Desde representantes da velha-guarda do samba de São Paulo passando pelas novas gerações reunindo comunidades, terreiros, rodas de samba e entidades organizadas como a União das Escolas de Samba Paulistanas e a Associação das Comunidades de Samba de São Paulo (ASCSP).

audiencia alesp comunidades de samba - Railídia Carvalho

 
O poder público do Estado esteve representado pelo secretário adjunto da pasta da cultura, Sérgio Tiezzi. O secretário municipal de Cultura Juca Ferreira também esteve presente assim como o vereador Orlando Silva (PCdoB) e Matilde Ribeiro, representando o secretário da Promoção da Igualdade racial da Capital, Netinho de Paula. A sessão foi dirigida por Leci Brandão.

A audiência pública marcou o início de um diálogo entre os movimentos culturais de samba de São Paulo e o poder público do Estado e da capital. Causou estranheza no secretário Sérgio que nunca tivesse acontecido uma audiência dessa natureza na assembleia. Orlando Silva disse que a legitimidade da deputada Leci Brandão favoreceu esse encontro, de forma tão expressiva.

Leci Brandão definiu a audiência como uma celebração. Ela defendeu o programa dos Pontos de Cultura e afirmou que o samba precisa ser representado nos pontos. A deputada também elogiou a proposta de criação de um centro cultural do samba, que ganhou a simpatia do secretário Juca, e defendeu que esses movimentos ganhem visibilidade. "Se pudermos fazer alguma coisa para promover a inclusão é o acesso do samba nós faremos", ressaltou.

Juca declarou que desde a sua chegada à secretaria ele demonstrou a vontade em contribuir para a afirmação do samba como manifestação cultural e dos sambistas que a produzem. Disse que não acredita em política de gabinete e que os próprios sambistas precisam contribuir para a formulação das políticas públicas.

O secretário fez duas propostas: a instalação de um processo de reconhecimento do samba como patrimônio imaterial da cidade, iniciativa que está sendo viabilizada pela Uesp há pelo menos dois anos, e a inclusão do dia nacional do samba no calendário oficial da prefeitura. "Podemos fazer uma reunião festiva para apresentar a proposta de reconhecimento do samba para a sociedade. O que o sambista quer é respeito, reconhecimento e direito. Isso não é favor." Completou.

Sérgio Tiezzi reconheceu que "faltam coisas estruturadas para o samba paulista na secretaria de Estado da Cultura". Ele elogiou a mobilização dos sambistas destacando a permanência de tantas pessoas durante tanto tempo num debate político. "Há de fato uma coisa interessante sendo construída aqui. E é a partir de ouvir vocês que a gente consegue entender melhor. Fiz questão de participar e integrar esse esforço".

A ex-ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, lembrou que é prioridade da secretaria da Igualdade Racial de São Paulo a implantação no município da Lei 10.639 que institui nas escolas o ensino da história da áfrica e dos Afrodescendentes. "Igualdade racial e samba tem tudo a ver e esse diálogo que houve está ligado à implementação da lei 10.639", reforçou Matilde.

O vereador Orlando Silva convidou o público para participar no dia 14 de junho de uma sessão solene em homenagem ao centenário de nascimento do sambista Pé Rachado, iniciativa do gabinete dele que tem direito a duas sessões solenes por ano. "Se vivo fosse ele completaria cem anos no dia 13 de junho. É uma reverência a um patrimônio do samba de São Paulo", disse.

Orlando observou que a reunião foi carregada de emoção. O compositor Chapinha se emocionou tanto que não conseguiu completar a fala. "Fiquei muito feliz de testemunhar esse momento. O samba tem que quere tudo, é a matriz da nossa cultura. Tem que ter política pública, orçamento, virada, quebrada. O Estado tem que traduzir o interesse da população", completou Orlando.

A audiência foi encerrada aproximadamente às 23h e no final o sambista Marquinhos Jaca e Chapinha puxaram alguns sambas acompanhados pelo público. A pequena Nicole, de 5 anos, roubou a cena ao cantor a capela samba de chapinha e Nino Miau.

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De São Paulo, Railídia Carvalho