Argentina comemora dez anos de governo Kirchner

O ex-presidente Néstor Kirchner garantiu um mandato com alta aprovação enquanto foi presidente da Argentina. Esse e outros momentos serão lembrados neste sábado (25), o país vizinho comemora 10 anos de governo Kirchner.

O governo argentino começou a anunciar desde o domingo (19) as comemorações, convocando a todos para uma grande festa em Buenos Aires, neste sábado (25).

A presidência argentina começou a transmitir mensagens na TV convidando o povo para a comemoração, cujo epicentro será a emblemática Praça de Maio, em frente à sede do governo e a mesma que em 25 de maio de 2003 foi testemunha do início da gestão de Néstor Kircnher, que chegou ao poder com apenas 22% dos votos e um país que vivia a quebra econômica e social, após a crise de 2001-2002.

Em 2007, contrariando todos os prognósticos, que a essa altura indicavam uma reeleição fácil para Néstor, Cristina é lançada candidata à Casa Rosada. Os 54% de pobres em 2003 eram 23,4% em 2007. O desemprego, que no início do kirchnerismo era de 20,4%, com 17,7% de subocupação, foi a 8,5%, e a subocupação baixou a 7,1%. O apoio de movimentos sociais peronistas e a recuperação econômica conduziram a uma vitória tranquila, de 45,29%, contra 23,04% da segunda colocada, Elisa Carrió.

À habilidade analítica de Néstor, Cristina somou a capacidade de retirar das dificuldades as melhores soluções. Do pior momento de dez anos de kirchnerismo surgiu uma legislação que se transformou em um tema popular. Em 2008, o governo decidiu cobrar um imposto maior sobre os lucros dos produtores rurais, responsáveis pela maior fatia do Produto Interno Bruto (PIB).

Cristina decidir retirar da gaveta uma proposta da sociedade civil há anos adormecida: o projeto que resultou na Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual provocou uma forte mobilização social, com marchas de até 200 mil pessoas, ao colocar em debate a força política de um grupo de comunicação que concentrava um império com canais de televisão aberta e a cabo, operadoras de TV por assinatura e de internet e emissoras de rádio.

Antes disso, em setembro de 2009, Cristina foi no ponto nevrálgico para os negócios do conglomerado. O Futebol para Todos declarou de interesse público a transmissão das partidas esportivas, que vinham sendo cada vez mais um serviço para poucos, com preços altos para assistir aos principais embates e nada disponível na TV aberta. Ao longo de anos, o Clarín garantiu por um custo muito barato um negócio muito lucrativo, e a decisão do governo trouxe para seu lado a população no debate sobre os efeitos nocivos da concentração midiática.

A reestatização dos fundos de aposentadoria privatizados por Menem, em 2008, e a lei de 2010 que amplia aos casais homoafetivos os mesmos direitos matrimoniais dispensados às relações entre heterossexuais formaram o braço social que garantiu a Cristina mudar o jogo.

O governo Kirchner implantou o programa AUH, programa similar ao Bolsa Família brasileiro. Por meio dele, 1,9 milhão de famílias foram beneficiadas pelo pagamento mensal de um benefício cobrado por filho, o que provocou na Argentina algo parecido ao registrado por aqui: o aumento do poder de compra ajudou a impulsionar as vendas, o que levou a contratações na indústria e no comércio, o que fez com que mais gente passasse a ter poder de compra, ampliando o mercado interno.

Em 2010, o inesperado se abateu sobre o governo. Em 27 de outubro, Néstor Kirchner sofreu um ataque cardíaco fulminante na casa da família em El Calafate, vilarejo turístico na província de Santa Cruz. Era a morte daquele que os opositores do governo acusavam de ser o presidente de fato.

Em 2011, Cristina Fernández de Kirchner foi reeleita em 2011 com a maior vitória da redemocratização argentina, 53%, 36 pontos sobre o segundo colocado, demonstrando que tem voz própria e iniciativas para enfrentar os desafios diante da crise econômica mundial.

Agora, Cristina precisa mostrar mais uma vez que é capaz de fazer das dificuldades uma solução. As medidas impostas pelo Judiciário para proteger o Clarín em relação ao cumprimento da Lei de Meios resultaram em uma bandeira oportuna em um momento de queda de aprovação de seu governo. “Necessitamos de uma justiça com maior igualdade. Não pode ser que quem tem dinheiro ou poder sobre juízes ou fiscais obtenham vantagem”, afirmou recentemente, ao comentar os projetos que enviou ao Congresso sobre a reforma do Judiciário.

Com Rede Brasil Atual