Mais de 50% dos casos de violência ocorreram por motivos banais

De acordo com levantamento do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que analisou homicídios registrados em 11 estados referentes a 2011 e 2012, mais de 50% dos casos foram desencadeados por motivos banais. Por este motivo, o CNMP lançou nesta segunda-feira ( 27), uma campanha pela redução dos homicídios por motivos fúteis no país, como brigas de trânsito e desentendimentos entre vizinhos.

Chamada "Conte até 10. Paz. Essa é a atitude", a ação tem como garotos-propaganda os lutadores de MMA Anderson Silva e Júnior Cigano, além dos judocas Leandro Guilheiro e Sarah Menezes, campeões olímpicos.

A campanha é uma iniciativa do CNMP em parceria com o Ministério da Justiça e o Conselho Nacional de Justiça, tendo o apoio do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

A campanha tem vídeos, jingles de rádio, anúncios para veículos impressos e digitais, entre outras peças. Os atletas que participam da iniciativa não cobraram cachê, segundo o MP-SP.

Fernando Grella Vieira, atual secretário de Segurança Pública de São Paulo, destacou que, somente em 2013, cerca de 490 pessoas foram mortas por razões fúteis no estado. De acordo com o secretário, cerca de 30% dos homicídios no estado estão relacionados a motivações banais, como discussões no trânsito, brigas em bares ou entre vizinhos, além da violência doméstica. “Em suma, o motivo de toda essa tragédia foi a intolerância, a incapacidade do ser humano de refletir sobre a preciosidade da vida, de parar um instante para analisar seus próprios atos”, disse. No ano passado, foram mais de 1,5 mil vítimas.

A iniciativa do Ministério Público começou em novembro 2012 e agora será ampliada especialmente na Grande São Paulo e em algumas cidades do interior, como Campinas, além da Baixada Santista e do Vale do Paraíba. A parceria irá viabilizar anúncios em jornais e rádios e a distribuição de cartazes em escolas e estações de trem e metrô. “Aderir a essa campanha significa difundir a ideia de que, ao lado das ações que o estado precisa adotar de combate à criminalidade, temos que ter medidas preventivas, que são de responsabilidade da própria sociedade”, disse Taís Shilling, membro do CNMP e coordenadora da campanha.

Ela relatou que a iniciativa foi pensada a partir da percepção dos promotores de que grande parte dos processos criminais em que atuavam poderia ter sido evitada. “Os promotores dão depoimentos de certa frustração de estarem em um júri defendendo a condenação de alguém que não é bandido, que não escolheu a criminalidade como meio de vida. São pessoas que perderam a cabeça em determinado momento e estragaram a vida de duas famílias, a dele e a da outra pessoa”, declarou. Ela acredita que a consciência de que todos estão sujeitos a esse tipo de situação pode ajudar a frear essa atitude.

Para Carolina Ricardo, coordenadora de Gestão da Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, essa ação deve estar ligada a outras medidas, como o combate e o controle de armas de fogo no país. “Essa é uma importante medida que já tem reduzido significativamente as mortes. A presença da arma de fogo nesses conflitos é um dos fatores que catalizam e geram um homicídio ou crime mais violento”, defendeu. Ela reforçou a importância da campanha como meio de incentivar a resolução pacífica de conflitos.

As peças publicitárias da campanha são estreladas por atletas de MMA (sigla em inglês para Mixed Martial Arts), como Anderson Silva, Cigano Júnior; e judô, como Sarah Menezes e Leandro Guilheiro. “São pessoas que na sua vida pessoal defendem uma convivência pacífica. Por serem atletas, naturalmente precisam desenvolver a disciplina, a tolerância, a conviver com a derrota. Eles passam a mensagem de que a luta é no tatame, no octógono, no ringue. Na vida, tem que ser da paz”, disse a coordenadora.

Com informações da Agência Brasil e O Estado de S. Paulo