Lula: meios de comunicação não podem agir como partidos políticos

Em entrevista publicada neste domingo (2) pelo jornal peruano La República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou do grande apoio popular que os governos progressistas conquistaram nos últimos anos na América Latina.

O ex-mandatário brasileiro lembrou do desafio e das responsabilidades dos governos democráticos que conquistaram o poder através do voto popular em toda a região. “Ao longo da história da América Latina, a esquerda nunca experimentou um momento como agora, nunca teve tantos governos em tantos países. Sabemos que se fizermos as coisas direito as pessoas vão continuar nos apoiando. Se nos equivocarmos, o povo vai nos tirar do governo como tirou a direita”.

Lula falou da necessidade de assegurar a democracia e a liberdade de imprensa, mas admitiu ter um “pequeno problema” com alguns veículos de comunicação brasileiros. "Quando critico a imprensa, eles dizem que os estou atacando. Quando me atacam, dizem que estão criticando, mas eu ainda me sinto muito confortável, porque poucas vezes o Brasil teve um presidente republicano agindo republicanamente”.

Ele ressaltou que nenhum jornal ou canal de televisão deixou que receber publicidade do governo por terem o criticado. “Esse deve ser um comportamento universal no exercício do poder. No entanto, os companheiros da comunicação devem também compreender que um canal de TV é uma concessão do Estado e não se pode usar uma concessão para atuar como partido político. Se todos atuarmos de maneira republicana será perfeito para a democracia”.

Para o ex-presidente, o maior legado que seu governo deixou para o país foi a relação entre o Estado, a sociedade e os movimentos sociais. “Em oito anos de governo convoquei 74 conferências nacionais que discutiram temas indígenas, raciais, deficiência, educação, segurança, saúde pública, igualdade de gênero, meio ambiente, cultura e comunicação. Participei de quase toda e lá ouvi muitas críticas contra mim, mas tudo teve valor, e a partir disso construímos as políticas públicas que em seguida adotamos. Por isso, quando me perguntam qual é o principal legado, eu sempre digo: a minha relação com a sociedade, o diálogo social, é dizer e fazer exatamente o que eu havia prometido na campanha”.

Prestes a embarcar para a Colômbia, Peru e Equador, Lula defendeu a criação de bloco econômico na América do Sul e contou ter falado com Dilma sobre a necessidade de "agilizar o tema Unasul". Ele foi lançado pelo presidente do Equador, Rafael Corrêa, à secretaria-geral da entidade, que busca aprofundar a integração entre os países sul-americanos.

Mariana Viel, da redação do Vermelho
com informações do La República