MST ocupa fazenda grilada pela Cutrale para protestar

Cerca de 300 trabalhadores rurais sem-terra ocuparam a Fazenda Santo Henrique, nos municípios de Iaras/Borebi e Lençóis Paulista, no interior de São Paulo. O objetivo é denunciar a grilagem dos 2,6 mil hectares da propriedade pela empresa Cutrale.

Em 2005, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) notificou a empresa para que desocupasse a área, já que as terras tinham sido reconhecidas como públicas. A Cutrale, no entanto, ignorou a notificação. A Fazenda Santo Henrique faz parte do conhecido Núcleo Colonial Monções, que tem cerca de 40 mil hectares, reconhecidos como terras pertencentes à União.

Além da grilagem de terras públicas, os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também denunciam o envolvimento da Cutrale com vários danos trabalhistas, sociais e ambientais, desrespeitando áreas de Reserva Legal.

Também há denúncia de uso excessivo de agrotóxicos na produção de laranja, contaminando o meio ambiente e intoxicando os trabalhadores da própria Cutrale.

No final de 2012, inclusive, o governo dos Estados Unidos ameaçou suspender a importação de suco de laranja produzido por grandes empresas no Brasil, dentre elas a Cutrale. O motivo foi um estudo que diagnosticou o fungicida Derosal (carbendazim) na produção de laranja, proibido nos Estados Unidos.

Problemas trabalhistas

Em março deste ano, a Justiça Trabalhista de Matão condenou a Cutrale – junto com outras quatro empresas do ramo – a encerrar a terceirização irregular das atividades de plantio, cultivo e colheita de laranjas, além de pagar indenizações que somam R$ 455 milhões pelo não cumprimento da legislação trabalhista.

Já em 2012, uma ação movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), em Bauru (SP), identificou irregularidades em instalações da empresa na cidade de Areiópolis, a 272 quilômetros da capital paulista.

Após as denúncias, a Justiça do Trabalho de Botucatu (SP) determinou que a empresa regularizasse os alojamentos de trabalhadores, sejam eles contratados pela Cutrale ou terceirizados, em conformidade com normas de medicina e higiene do trabalho.

Cartel

Outra prática irregular constantemente denunciada é a formação de cartel pelas quarto maiores empresas do setor: Cutrale, Citrosuco, Citrovita (controlada pelo grupo Votorantim) e Louis Dreyfus.

A Cutrale, sozinha, responde por 80% da produção mundial de suco de laranja concentrado (superior a um milhão de toneladas por ano), e exporta 97% da produção.

No ano passado, centenas de médios e pequenos produtores de laranja, fornecedores das empresas que monopolizam o setor, sofreram uma “quebradeira” em massa, devido à recusa da compra de sua produção.

Com isso, o interior de São Paulo foi tomado por protestos diante dessa grave situação. Durante esse período, foram derrubados muitos pés de laranja e vários produtores tiveram que mudar sua atividade produtiva, somando enormes prejuízos.

Outras ocupações

Outro grupo de sem-terra ocuparam outras quatro fazendas na manhã desta segunda-feira (3), no Pontal do Paranapanema, oeste do Estado de São Paulo. Com o apoio de sindicatos rurais ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), cerca de 600 militantes foram mobilizados para as ocupações. Os grupos querem a destinação de terras para assentamentos.

Quase ao mesmo tempo foram ocupadas a Fazenda Floresta, em Marabá Paulista, a Fazenda Esperança, em Iepê, a Fazenda Santa Maria, em Rancharia, e a Fazenda Pauliceia, em Rinópolis.

Com Página do MST e agências