Paulo Vannuchi, o Diplomata dos Direitos Humanos
Por Marcos Dionisio Medeiros Caldas*
Publicado 07/06/2013 11:36 | Editado 04/03/2020 17:07
Convivi com Vannuchi no fórum de gestores em DH, de 2006 a 2010, onde travamos inúmeros debates. Impressionava sempre a riqueza de suas intervenções, sempre acompanhada de uma leitura da evolução da política internacional clara, concisa, pedagogicamente falando sempre a "fala dos Direitos humanos" para o conjunto das pessoas. Além de não se furtar ao debate , sempre nos brindava com exemplos da literatura , do cinema e das pessoas simples com quem conviveu nos "tempos de luta" ou seja, por toda sua vida. Além da energia política, o ministro nunca perdia a piada e nem os amigos que granjeou no citado fórum.
Obstinado por nossa Memória e Verdade, desde que me conheceu, não se cansava de repetir de que precisávamos fazer uma homenagem à Luis Maranhão, e quando o informamos de que a placa comemorativa deveria ficar em determinado órgão, Vannuchi com seu olhar na história, docemente discordou e vaticinou de que a homenagem para ser insuperável deveria ficar afixada nas paredes da Assembleia Legislativa. No ato que constou da Caravana da Anistia no RN, ante um pequeno imbróglio entre cerimoniais e dada a delicadeza da presença de parlamentares que por vivenciarmos um momento eleitoral estavam vedados de participar de atos institucionais, o ministro me chamou num canto e me nomeou cerimonialista. Não fiquei surpreso, pois o mesmo num determinado evento em Brasília me chamou à mesa diretora dos trabalhos de um evento e me passou o microfone e a palavra para fazer a saudação a viúva de Mitterrand em visita ao Brasil.
Em retribuição "aquela molecagem", o homenageamos no IV Congresso Brasileiro de Direitos Humanos, que o IPEJUC realizou em em 2010.
Com a mesma coragem com que ajudou a luta pelos direitos humanos no Brasil a agendar a Comissão da Verdade, com que coordenou a construção do III Programa Nacional de Direitos Humanos, com a mesma ousadia com que sensibilizou importantes figuras do empresariado brasileiro para um olhar pelos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi chega à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, levando o sangue dos nossos mártires pela liberdade, as lágrimas dos seus parentes e amigos e como herdeiro dos seus sonhos, utopias e estradas. Essa vitória da diplomacia brasileira, nos enche de orgulho e aponta uma agenda continental pela construção de uma República Interamericana sob à égide dos Direitos Humanos , livre, soberana e generosa como sonharam e nos legaram Alexandre Vannuchi, Victor Jara, Luiz Inácio Maranhão Filho, Sílton Pinheiro, Paulo Fonteles, Eugênio Lyra, os Angel, Santana, os Petit, Sandino, os Canutos, Titos, Chico Mendes , Helenira Rezende, Dina, Rubéns Paiva , Oswaldão e todos os que os que colocaram a liberdade e a luta como pressupostos para o içamento da felicidade interamericana. Por vezes a conjuntura nos quase põe em desespero, mas vitórias como esta nos mostra que "a história é um carro alegre / cheia de gente contente / Que atropela indiferente / Toda aquele que a negue", como nos cantou Pablo Milanez e Chico Buarque. A chegada do brasileiro Paulo Vannuchi à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA sedimenta de que não queremos o passado como era e que o presente , com ousadia, precisa parir o futuro de maneira inadiável.
* Marcos Dionisio Medeiros Caldas
Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania / RN