Premiê turco acusa manifestantes e esconde amplitude de causas

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pediu o “cessar imediato das manifestações” em suas primeiras palavras logo após regressar de uma viagem à África, nesta sexta-feira (7). “Os assim chamados jornalistas, artistas e políticos estão provocando esses protestos”, disse, e acusou os manifestantes, que foram reprimidos brutalmente, de saquear lojas e destruir propriedade pública. O premiê não reconhece a amplitude das causas e faz paralelos simplistas deliberadamente.

Manifestantes turcos - Associated Press

No discurso de chegada emitido ao vivo pela televisão, Erdogan disse que “por menos de 15 árvores foram perdidas três vidas. A vida de um dos meus policiais é tão importante como a vida de dois jovens”, ao recordar o oficial que morreu depois de cair de um prédio em uma zona em construção, enquanto perseguia manifestantes na cidade sulista de Adana.

Outros três manifestantes morreram nos confrontos, e mais de 25 pessoas foram presas, além de já serem contadas centenas de feridos.

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Neste contexto, o premiê turco indicou que “será investigado se houve uso excessivo da força”, mas manifestou que “a polícia está cumprindo o seu dever contra os que atacam”, embora se referisse aos protestos iniciados de forma pacífica em 27 de maio, mas reprimido de forma violenta pelas forças oficiais.

Após censurar os manifestantes, em discurso a simpatizantes, Erdogan pediu que mantivessem a calma. Em Istambul, uma manifestação pacífica contra a demolição do Parque Gezi, na Praça Taksim, foi dispersada com grande violência pelas forças oficiais, o que impulsionou protestos antigovernamentais mais abrangentes, reivindicando inclusive a demissão de Erdogan.

Reações

O rei do Marrocos, Mohamed 6º, não recebeu o premiê turco, que estava viajando pelo norte da África. O encontro estava previsto para a quarta-feira (5), mas o rei recusou; o Marrocos também é cenário de protestos.

Em declarações em Túnez, a última escala do seu giro pela região, Erdogan disse que “sete estrangeiros foram capturados em ligação com as manifestações antigovernamentais da Turquia, durante a recente semana”, mas não especificou nacionalidades.

As manifestações antigovernamentais têm sido realizadas em várias cidades do país, e a Fundação Turca de Direitos Humanos indica que cerca de 4.300 pessoas ficaram feridas ou receberam atenção médica durante os protestos por intoxicação de gás lacrimogênio.

De acordo com fontes anônimas da chancelaria turca, o ministro de Relações Exteriores Ahmet Davutoglu, em uma conversa telefônica com o secretário de Estado dos EUA John Kerry nesta terça (4), rechaçou os Estados Unidos por ter qualificado os protestos de “situação extraordinária”, mas disse que foram similares às manifestações do movimento Ocupe Wall Street, nos EUA.

O escritor turco Orhan Pamuk, que ganhou o Prêmio Nobel da Literatura, condenou a repressão policial exercida contra os manifestantes e tachou de “opressoras” as autoridades do seu país.

Pamuk afirmou que a política opressora do primeiro-ministro é a razão das manifestações e afirmou que se o Governo turco consultasse os civis sobre os assuntos que os tocam, o país não teria se convertido em cenário de violência.

Cerca de 240 mil trabalhadores entraram em greve por dois dias na Turquia, após a repressão aos manifestantes, de acordo com uma reportagem da emissora virtual The Real News Network.

Cada vez mais analistas veem as manifestações como um evento em expansão contra o governo turco, apenas impulsionado pelo protesto contra a destruição do parque em Istambul. Além disso, tem sido ressaltado o envolvimento da Turquia na ingerência nos assuntos internos da Síria, com o apoio e financiamento dos grupos armados, também formados por estrangeiros (inclusive turcos), que atuam no país contra o governo do presidente Bashar Al-Assad.

Com informações da HispanTV
Da redação do Vermelho