Trabalhadores denunciam falta de contrapartida social da Marfrig

Confederação e sindicatos que representam os trabalhadores do setor frigorífico se reuniram com o secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul (RS) para cobrar explicações sobre financiamentos públicos e incentivos fiscais ao grupo Marfrig.


foto divulgação CNTA Afins

A Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA Afins), representando nacionalmente os trabalhadores do setor frigorífico, participou, na segunda-feira (10), de audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (RS).

O encontro, requerido pelo Deputado Catarina Paladini (PSB), teve como objetivo discutir as concessões de financiamentos públicos ao grupo Marfrig, demissões de trabalhadores e fechamentos de unidades frigoríficas no Estado. Nesta quarta (12/6), a entidade se reuniu com o secretário da Agricultura do RS para cobrar explicações quanto à falta de contrapartida social do grupo Marfrig, já que o governo local não esteve presente na audiência pública.

Segundo o deputado Paladini, pelo fato de a empresa contar com concessões de financiamento público e incentivos fiscais, a crise enfrentada pelos trabalhadores atualmente não é justificável. Na ocasião, o parlamentar chegou a afirmar que, em 2010, o BNDES concedeu ao grupo Marfrig R$ 2,5 bilhões em recursos, sem contar o recebimento de 4% de crédito para vendas fora do Estado e 32% de desconto na utilização de energia.

O presidente da CNTA Afins, Artur Bueno de Camargo, declarou que a situação da empresa tem preocupado constantemente os trabalhadores da região ligados ao grupo Marfrig (cerca de 4.200 empregados diretos), e alertou que a instabilidade enfrentada pelos trabalhadores pode gerar aumento no número de acidentes de trabalho. No último ano, 700 trabalhadores foram afastados por motivos de doenças e ou acidentes de trabalho e no dia 17 passado, um trabalhador morreu ao ser esmagado em Alegrete.

A recente aquisição da Seara pelo grupo JBS também foi vista com desconfiança pelos trabalhadores, que deverão criar um grupo de trabalho tripartite para discutir a situação junto ao governo.

“O governo federal tem apoiado uma política perversa contra os trabalhadores, no momento em que usa do dinheiro público para fechar postos de trabalho. O BNDES deveria repensar o 'S' da sua sigla, pois ela se denomina como 'Social', mas de social não tem nada", afirma.

Já o coordenador político da CNTA Afins na região Sul e vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Pelotas, Darci Pires da Rocha, criticou a ausência de representantes da Marfrig e do governo do RS na audiência. Segundo ele, o programa Agregar Carne, iniciativa do governo local, concedeu cerca de R$ 28 milhões em isenções fiscais à Marfrig. No entanto, cerca de 2.100 trabalhadores foram demitidos só no último ano.

“É um dinheiro que, somado ao do BNDES, paga com certeza a folha de pagamento dos empregados. Não se justifica o que essa empresa vem fazendo com os trabalhadores no RS. Precisamos denunciar à sociedade o que está acontecendo, pois é muito estranho a ausência dos entes públicos do Estado, especialmente da Secretaria da Agricultura do Estado, nesta audiência pública, para falar sobre a questão da Marfrig, já que o programa Agregar Carnes está sendo usado para demitir trabalhadores.", disse.

Também estiveram presentes no debate lideranças sindicais do ramo da Alimentação de Estrela, de São Gabriel, de Bagé, de Alegrete, de Venâncio Aires, de Bom Retiro do Sul, de Pelotas, de Caxias, de Porto Alegre, entre outros.

Seara X JBS

Sobre a venda das unidades da Seara, adquirida pela Marfrig, para a JBS Freeboi, os trabalhadores declaram se tratar de mais um desrespeito aos direitos da categoria, uma vez que a Seara foi adquirida pela Marfrig, e deveria permanecer por, no mínimo, quatro anos mantendo as unidades produtivas e sem demissões. Na manhã desta quarta (12/6), a CNTA Afins se reuniu com o secretário de Agricultura do Estado do RS Luiz Fernando Mainardi para cobrar esclarecimentos.

“Fomos cobrar uma posição do Estado diante do financiamento público e redução de impostos concedidos à Marfrig, sem falar nos recursos do BNDES. Temos segurança em afirmar que a folha de pagamento da empresa é custeada pelo Estado e não tem custo com mão-de-obra. Alegar questão de sazonalidade não pode ser desculpa para demitir trabalhadores”, disse Darci.

A inclusão da entidade no conselho consultivo do programa Agregar Carnes (do governo do RS), junto ao governo e entidades patronais e laborais da região, foi outra reivindicação dos trabalhadores.

“No nosso entendimento, o governo está se posicionando ao lado das empresas. O secretário de Agricultura prometeu, em primeiro momento, apreciar nossa demanda e por outro lado o deputado Paladino saiu com a incumbência de trabalhar junto a Assembleia Legislativa para apresentar um projeto que possa deixar mais clara a questão da contrapartida social em relação aos financiamentos públicos.”, comentou.

Fonte: CNTA Afins