Música do universo

Compositor transforma dados científicos de satélites espaciais em sons que agradam aos ouvidos e ajudam a fazer descobertas.

Por Sofia Moutinho

Musica no universo

Explosões solares, planetas girando em órbita, colisões de galáxias. Tudo isso ocorre de forma silenciosa, pois o som não se propaga no vácuo do espaço. Mas o mudo movimento do universo ganha som com o trabalho do músico Robert Alexander, que cria ‘trilhas sonoras’ cientificamente embasadas para fenômenos astronômicos.

Alexander mistura ciência e arte como ninguém. Trabalhando com uma equipe de cientistas da Nasa na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, ele usa dados captados por satélites espaciais para fazer música que tanto pode ser usada para dar um diferencial para vídeos de divulgação sobre o espaço quanto pode servir de objeto de pesquisa.

O trabalho é similar ao dos astrônomos que dão cor às fotografias de galáxias que originalmente não estão no espectro de luz visível a olho nu. O músico transforma dados que são originalmente visíveis em sons audíveis. O processo, conhecido como sonificação, não é aleatório. Para cada informação é atribuído um som específico de modo que há correspondência entre os dois tipos de dados.

Mas é claro que nesse processo de transformação também existe espaço para escolhas artísticas.

“O que faço é criar um equivalente musical para dados que eram acessíveis só visualmente”, explica Alexander. “O resultado final é muito acurado. Quando utilizo elementos como uma voz ou um instrumento musical para representar dados, são os dados em última instância que guiam a estrutura musical. Mas isso não quer dizer que eu não faço escolhas estéticas, mesmo quando tomo uma abordagem mais direta e sonifico os dados brutos sem elementos musicais mais complexos, tomo decisões sobre, por exemplo, o quão rápido ou devagar o som se desenrola ou se filtro ou não certos ruídos.”

O resultado final da sonificação varia de estranhos ruídos brutos a agradáveis músicas com arranjos. Para os vídeos de divulgação da Nasa, Alexander costuma usar músicas mais trabalhadas. Mas os ruídos mais simples também têm utilidade e já renderam até descobertas científicas.

Ao escutar o som bruto de dados sobre o Sol captados pelo satélite Ace, o músico percebeu um padrão sonoro que se repetia. Com a ajuda de astrônomos, Alexander analisou o áudio e percebeu que o padrão correspondia ao movimento de rotação do astro. Ouvindo com mais atenção, escutou também harmonias associadas a outros fenômenos solares. Daí surgiram descobertas científicas e uma nova metodologia de pesquisa.

“Comparado essas harmonias em diferentes parâmetros de dados, conseguimos encontrar um método mais eficiente para determinar regiões fonte de ventos solares, partículas que se desprendem do Sol”, conta Alexander. “Ou seja, ao ouvir os dados, fomos capazes de encontrar um novo modo de determinar onde a energia dos ventos solares se origina.”

Atualmente, o músico desenvolve um programa específico para traduzir dados em sons. Alexander acredita que a ferramenta beneficiaria diversas áreas de pesquisa.

“Existe um entendimento limitado do papel da intuição no processo científico e pouca reciprocidade entre investigações objetivas e subjetivas”, diz. “Um dos objetivos desse trabalho é preencher essa lacuna ao criar interfaces que apelem mais para nossas capacidades perceptivas em oposição a interfaces que dependem primariamente de nossa visão. Há alguns fenômenos que podem ser entendidos diretamente e intuitivamente pela análise visual, já outros fazem mais sentido se ouvidos.”

Fonte: Ciência Hoje On-line