Espanha em crise: Onde foram parar os direitos dos trabalhadores?

À medida que avança esta crise interminável, com maior claridade se aprecia o grave impacto que está infringindo aos direitos mais elementares dos trabalhadores, que tantos anos de luta custou conquistar. De nada vale que o fato de terem sido outros quem provocaram esta colossal catástrofe econômica por tratar da atividade financeira como se fosse um cassino. Ao final, são os trabalhadores quem pagam o pato e a amostra mais patente é o que ocorre na Espanha.

Por Vicente Clavero*

jovens desempregados na espanha

O primeiro direito que a crise pisoteou é o próprio direito ao trabalho. Há seis milhões desempregados que podem endossar isso. Quando o castelo de cartas começou a cair, havia algo mais de dois milhões, e desde então, somaram-se outros quatro.

Só durante o último ano, por culpa da difusa reforma laboral do presidente do governo, Mariano Rajoy, o número de pessoas sem emprego cresceu em um milhão, e as coisas não melhoraram muito nesses meses, apesar do favorável efeito sazonal.

Também continua a evaporar o direito dos trabalhadores a um salário digno, ao ter se debilitado a sua posição ante ao elevado risco de acabar no desemprego. Para exemplificar, basta um botão: segundo dados da Agência Tributária divulgados nesta semana, agora há sete milhões e meio de contribuintes com rendas inferiores a mil euros mensais; é um aumento de 400.000 pessoas com relação a 2008. Isso quer dizer que 40% do total de espanhóis não chegam a receber mil euros.

Os trabalhadores, enfim, vão perder o débil equilíbrio que pretende introduzir nas relações laborais o direito à negociação coletiva. Hoje em dia, há dois milhões de assalariados cujos convênios se encontram em via morta, porque os empresários negam-se a renová-los, à espera que expirem definitivamente, depois de um ano, conforme a nova normativa que o Partido Popular (PP, do governo) serviu-lhes de bandeja durante a tramitação parlamentar da reforma laboral.

Em definitiva, está se cumprindo ao pé da letra o prognóstico feito há anos pelo célebre presidente da patronal, Gerardo Días Ferrán, hoje na prisão por não sei quantos delitos cometidos na gestão das suas empresas. Ele disse que desta crise só se sairia se estivéssemos dispostos a trabalhar mais e ganhar menos. O triste é que, pelo visto, parece que nem assim saímos.

*Vicente Clavero é um jornalista espanhol que escreve para o jornal Público.

Fonte: Público.es
Tradução da redação do Vermelho