Lançado livro com depoimentos dos comunistas contra a ditadura

Lançado na tarde desta sexta-feira (5), no auditório do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, o livro Repressão e Direito à Resistência – Os comunistas na luta contra a ditadura (1964-1985), produto do projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. 

Lançamento do livro: Repressão e Direito à Resistência

O evento contou com a presença do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo; do presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão; do deputado estadual Adriano Diogo, presidente da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).

O ato de lançamento do livro iniciou-se com a exibição de um vídeo do Centro de Documentação e Memória da Fundação Mauricio Grabois, organizadora do evento e com um minuto de silêncio em homenagem ao camarada recém falecido Dynéias Aguiar – "em nome daqueles militantes que travaram a luta pela democracia", lembrou o presidente da Fundação, Adalberto Monteiro.

O evento contou ainda com a presença da Senadora Vanessa Grazziotin, das deputadas Jandira Feghali e Alice Portugal, do deputado federal, Chico Lopes, do vice-prefeito de Recife, Luciano Siqueira, do diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima e da presidenta da União Nacional de Estudantes (UNE), entre outras lideranças e militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

O secretário Geral da Fundação Mauricio Grabois, historiador Augusto Buonicore, agradeceu os colaboradores do projeto e ressaltou os personagens dos livros presentes no ato de lançamento. Buonicore salientou a importância do conhecimento histórico à época da resistência a ditadura militar no Brasil que serve como ferramenta para combater os erros no futuro, proferiu.

Em referência ao momento de manistestações no país, o historiador falou do autoritarismo que influencia na cultura do esquecimento. “Vivemos agora um momento de anseio da sociedade em conhecer a história do nosso país, a história de resistência do nosso povo. Temos no país uma cultura autoritária, a cultura do esquecimento. Mas todos têm o direito ao conhecimento e à memória. Lembrar-se do seu passado é também ter um projeto de futuro. Se você não conhece o passado, você está sujeito a cometer erros. E esta obra, comentou Buonicore, nos faz compreender o processo de resistência, superar e avançar num projeto de sociedade democrática e justa”.

O secretário explicou ainda que a obra é resultado de pesquisas e depoimentos de 52 militantes que atuaram na resistência, "mas foi possível colocar apenas metade destes depoimentos nesta primeira edição", ressaltou.

Um dos depoentes no livro, o militante comunista e vice-prefeito de Recife, Luciano Siqueira, ponderou sobre o momento que a sociedade brasileira vive e a importância do lançamento desta obra em contribuição ao futuro. “Vivemos neste instante em nosso país, algo que é consequência de toda sociedade. O povo brasileiro é instado à reler a sua história recente, e extrair o crucial das lutas”. Entretanto, disse Siqueira, o momento também se trava uma luta de ideias de quem queira reler a história de maneira distorcida. “A luta de ideias também se trava no que diz respeito às informações fragmentadas”. O dirigente comunista ressalvou a importância da atuação da Comissão Nacional da Anistia que já tem gerado importante contribuição neste momento histórico “e também das comissões estaduais e locais que tem gerado também importante debate e ações”, disse.

Para Luciano Siqueira, o livro tem dois elementos essenciais na vida dos militantes que, para ele, se confundem com a própria trajetória do Partido Comunista do Brasil. "Por um lado o dos registros como cada um ingressou, o esforço pessoal de assimilar e compreender a teoria científica, o marxismo-leninismo e compreender a realidade do Brasil e do mundo. E por outro lado, o esforço de ligação com o povo. Esse esforço de dominar a teoria científica são marcas do Partido Comunista do Brasil e estão registradas nas trajetórias de todos nós. Eu registro algo que vem de sensibilidade de muitos: as pessoas mais jovens podem se impressionar sobre como foi viver e lutar na clandestinidade, na ditadura, mas digo uma coisa, nós éramos felizes”, ressaltou.

O militante comunista fez um depoimento emocionante sobre um momento de sua prisão em que o torturador, um quadro da repressão disse para ele: “vocês estrategicamente vão sair vitoriosos, agora taticamente você e seus companheiros estão derrotados, vocês não sairão vivos daqui”. Entretanto, segundo Luciano é inevitável, “ao pensarmos nos companheiros que tombaram na luta pela democracia, a gente vai se enchendo de coragem de dizer, nós estamos aqui para lutar pelas causas mais justas de nosso povo, nós venceremos, pode nos matar, mas nós vencemos” e completou, “éramos felizes e somos mais felizes ainda por conseguirmos seguir nossa militância”, finalizou sobre os aplausos da plateia.

O presidente da Comissão Nacional de Anistia, Paulo Abrão, emocionado, agradeceu a oportunidade do ato que dá, segundo ele, importante contribuição à memorização da comissão de Anistia e um passo à frente na reparação oficial do regime autoritário que imperou no país durante os anos de chumbo.

Paulo Abrão (foto ao lado) fez questão de ressaltar a importância dos comunistas a época da repressão. “Acho importante fazer a reparação a todos aqueles que foram, nada mais, nada menos, o seguimento social político que historicamente mais sofreu perseguições, de forma tão sucessiva. Em propósito que eu tenho dito, os algozes da nossa democracia tinham a intenção, fracassada, de destruir uma ideia, um pensamento, uma opção política que era a luta pelo socialismo, pelo comunismo, uma forma legítima, mas eles foram derrotados, eles foram fracassados, e temos que resgatar as histórias e a potencialidade dessa ideia-força como elemento estruturante para a formação política da nossa juventude”.

Abrão advertiu a seriedade da memória para à resistência. “Nossa história é a história da luta de classes no Brasil, da exploração do homem sobre o homem, das violências, os preconceitos, e o que seria hoje da luta do movimento negro, não fosse às memórias da exploração e a produção de memória da consequência da escravidão? Sem a memória da estimação da mulher, da cultura machista nós não teríamos hoje as lutas de igualdade. Sem a memória de que o Brasil se forjou sobre uma nação de imigrantes, boa parte de nós aqui viemos de famílias de ascendência de imigrantes, talvez nós não tivéssemos uma posição distinta dos países, talvez não lutasse contra a cultura preconceituosa, e não nos distinguiríamos, enquanto país aberto. Sem a memória histórica o que seria hoje as conquistas sociais que nós temos?”, questionou.

Para Paulo, na conjuntura nunca foi tão importante debater a memória, “pois há grande adesão social nestas lutas nas ruas, espaço para manipulações do movimento. É preciso referenciá-la. Essa geração é produto histórico de maior crescimento, é a combinação de um ambiente de renda. É uma geração nascida e crescida na democracia. Que tem acesso à universidade, não só apenas nas elites, essa geração foi atingida pela expansão do setor de serviços e se criou uma consciência critica para ampliação dos direitos, por isso, nunca foi tão necessário exercermos a memória. Uma vez que, a juventude de hoje, não trabalha com a lógica de quem combateu a ditadura, que a revolução seja o desejo para alcançar. Ela se relaciona com o presente, com o concreto, para ela o futuro já chegou. Mas temos que mostrar que a memória é oxigênio, a memória é luta”, finalizou.

Da redação