SPD celebra o 150º aniversário e divide Internacional Socialista

A pergunta sobre “quem necessita do Partido Social Democrata (SPD, por sua sigla em alemão)” formulada por uma apresentadora de televisão incomodou o veterano socialdemocrata Hans-Jochen Vogel que, irritado, respondeu afirmando que “o nosso povo necessita do SPD. A Europa necessita dos social-democratas”.

Por Ingo Niebel, no Odiario.info

Segundo as sondagens, a quatro meses das eleições gerais a maioria dos alemães não compartilha da opinião do antigo presidente do SPD, porque apenas 24% do eleitorado lhe daria o voto, enquanto 41% optaria pela chanceler democrata-cristã, Angela Merkel. Com estes dados sobre a mesa, o partido situa-se apenas um ponto acima daquele que foi o pior resultado da sua historia recente. Se não ocorre algum milagre, os socialdemocratas terão de se preparar para outro descalabro como o de 2009, até porque se a eleição de chanceler fosse realizada de forma direta, Merkel ganharia com 59%, face aos 20% que o candidato socialdemocrata Peer Steinbrück alcançaria.

Assim o SPD, presidido por Sigmar Gabriel, teria efetivamente que refletir sobre o seu papel na paisagem política da Alemanha do século 21. O facto de ter voltado ao local da sua fundação não significa nem que tenha reencontrado as suas raízes nem os valores ideológicos sobre que nasceu como representação do movimento operário, fruto da obra “O Capital” do alemão Carlos Marx. Naquela altura, o rei da Prússia pensava ainda que mediante as “leis socialistas” podia proteger a sua monarquia, a aristocracia burguesa e os interesses de ambos.

O SPD deixou de ser revolucionário, e portanto um perigo para o capitalismo alemão, quando em 1914 votou a favor dos créditos com os quais o governo imperial pôde financiar a Primeira Guerra Mundial.

Em 1918, perdida a contenda, evitou que comunistas como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht aproveitassem a situação criada pela abdicação do monarca e pela revolta da Armada para mudar radicalmente o sistema político. Social-democratas como o presidente Friedrich Ebert e o seu ministro da Guerra Gustav Noske foram quem recorreu aos restos do Exército monárquico para liquidar os revolucionários, organizados no recém fundado Partido Comunista da Alemanha (KPD).

A grande burguesia, uma vez garantidos os seus interesses, e perante o crescimento do KPD, optou pelo nazismo como variante alemã do fascismo para expandir o seu domínio. Milhares de socialdemocratas morreram nos campos de concentração.

Derrotado o fascismo germânico, o SPD repetiu o seu papel de força controladora da massa operária para impedir a implantação do KPD nos três sectores de ocupação ocidentais. No quarto, o soviético, consumou-se a fusão entre KPD e SPD, criando assim o Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED), que governaria até 1990 a República Democrática Alemã (RDA).
Em contrapartida, na capitalista República Federal de Alemanha (RFA), o SPD aceitou por completo o modelo económico e a integração na Otan.

Nessa entrevista, Vogel disse que o seu partido “nunca provocou nenhuma guerra”. Trata-se de uma meia verdade, porque em 1999 o seu correligionário Gerhard Schröder, juntamente com o seu sócio dos Verdes, Joseph Martin "Joschka" Fischer, conduziu a Alemanha para a sua primeira guerra desde 1939, contra Jugoslávia. Dois anos mais tarde, este duo, que encabeçou o primeiro bipartido do SPD e Verdes a nível nacional, entrou na guerra contra o Afeganistão. Não teve, em contrapartida, participação direta na agressão contra o Iraque em 2003, por questões de política interna e pelo projeto de converter, com ajuda francesa, a União Europeia num polo de poder que competiria com os EUA.

Paralelamente, e até perder o poder em 2005, o SPD cumpriu o dever de levar por diante as "reformas sociais" que constituem um dos pilares da atual competitividade da economia e da indústria alemãs em plena crise europeia. Os “minijobs” e o severo controlo dos desempregados, para além da redução das prestaciones sociais, são obra de Schröder e do seu então ministro Steinbrück. A isso somam-se o controlo social e a ampliação das atribuições policiais e dos serviços secretos que o SPD fez avançar com o beneplácito dos Verdes, até então defensores dos direitos e liberdades civis.

Sobre esta base, a chanceler Merkel formou em 2005 a "grande coligação" com o SPD, que dizimou ainda mais a socialdemocracia. Agora, a chefe do Governo exige aos seus homólogos europeus que copiem a política de Schröder, mas num ambiente económico e social muito mais hostil do que o que existiu na Alemanha há uma década.

Olhando para trás, o seu ex-presidente e agora homem forte do partido socialista Die Linke, Oskar Lafontaine, deseja que o SPD regresse ao "estado de bem-estar forte" e à "política de paz de Willy Brandt". Poderia então ser possível "a maioria à esquerda do centro". Se, nas actuais condições o SPD quer recuperar o poder em Berlim necessita dos Verdes e do Die Linke mas esta opção, por agora, não cabe no seu discurso político.

De facto não há indícios de que a formação de Gabriel se esteja reorientando. Está, pelo contrário, a atualizar o seu papel de reformista também a nível internacional. Nas vésperas do seu aniversário, o SPD voltou costas à Internacional Socialista (IS), criando uma estrutura paralela, a “Progressive Alliance”. O nome em inglês não é casual nem expressão de modernismo, responde sim ao desejo de incluir também formações sem passado socialista como o partido democrático dos EUA.

Gabriel argumentou sobre o fato de ter reduzido a sua quota anual de 100.000 libras (116.760 euros) para 5.000 libras (5.840 euros) qualificando a IS de "corrupta e pouco democrática". O presidente da IS, o grego Giorgos Papandreu, e o seu secretário-geral, o chileno Luís Ayala, acusaram os alemães de "difamação" e de "querer dividir al movimento mundial de forças progressivas". Talvez seja esta a razão pela qual o SPD seja ainda necessário.