Oposição na Tunísia discute formação de "governo de salvação"

A oposição secular da Tunísia, revoltada por dois assassinatos em seu círculo e encorajada pela derrubada do presidente egípcio, Mohamed Mursi, afirmou neste domingo (28) que considera estabelecer um “governo de salvação” alternativo para desafiar a liderança chefiada pelos islamistas do partido Ennahda.

Tunísia - Reuters

Se levado adiante, a medida marcaria uma escalada significativa dos grupos de oposição do país, que dizem não ter interesse em uma reconciliação com o partido Ennahda, no governo.

“Nós nos reuniremos à noite para discutir a criação de um governo de salvação, e estudaremos a possibilidade de nomear um novo primeiro-ministro para substituir este governo falido”, disse Jilani Hammami, um líder da coalizão Frente de Salvação e do Partido dos Trabalhadores Tunisianos.

“Não há dúvidas de que o tempo de [o governo] partir já passou”, completou. Os tunisianos estão passando pelo período que muitos temem ser um dos mais tumultuados e críticos na sua transição para a democracia, desde a derrubada do presidente autocrático Zein El Abidine Ben Ali, em 2011, uma revolta que inspirou outros movimentos no mundo árabe.

Na última quinta-feira (25), agressores dispararam contra outro líder da oposição, Mohamed Brahmi, o segundo assassinato de membros da oposição secular em seis meses.

A oposição culpa o partido islamista Ennahda pelos assassinatos, e os protestos eclodiram na capital, Túnis, assim como em outras cidades da província. A oposição, secular, já estava fadada a mobilizar-se contra o governo dominado pelos islamistas, inspirada pelos protestos massivos no Egito, que levaram o Exército a derrubar e deter o ex-presidente islamista.

Críticos da oposição tunisiana dizem que a campanha está ameaçando a estabilidade do país, durante um processo frágil de transição. O porta-voz do Parlamento afirmou, neste sábado (27), que o governo discute um novo acordo de partilha do poder, e pediu aos parlamentares que se retiram da Assembleia Constituinte transicional para reconsiderarem.

“Não é racional jogar a toalha apenas metros à distância da linha de chegada”, disse Mustafa Ben Jaafar, em um discurso televisionado. Ben Jaafar, um membro de um dos parceiros seculares do governo do Ennahda disse que o órgão está a apenas algumas semanas de terminar uma nova Constituição, mas a oposição endureceu-se.

“A oposição rejeita completamente todos os esforços de reconciliação apresentados pelo líder da Assembleia Constituinte em termos de expansão dos poderes”, disse Hammami à agência Reuters.
No domingo, o número de parlamentares que haviam se retirado do órgão de 217 membros havia subido para 64. Os parlamentares se somarão a uma “assentada” diante do parlamento, em protesto.

As manifestações se iniciaram naquele local, neste sábado, após o funeral de Brahmi, e atraiu multidões de milhares, a maior vista pela capital em meses. Centenas de manifestantes pró-Ennahda também saíram às ruas, o que sinaliza a possibilidade de os protestos acabarem em violência.

Com informações da Reuters