Israelenses e palestinos definem retomada das negociações

Um jantar “Iftar”, com que os muçulmanos interrompem o jejum diário durante o mês do Ramadã, foi a inauguração das “conversações de paz” entre israelenses e palestinos, nesta segunda-feira (29), em Washington, com a mediação do secretário de Estado norte-americano, John Kerry. Tzipi Livni, ministra de Justiça israelense, e Saeb Erekat, chefe da equipe palestina nas negociações, sentaram-se à mesa para discutir as bases a serem assentadas para as negociações de paz, que poderão durar nove meses.

Negociações Israel e Palestina - Paul J. Richards/AFP/Getty Images

Ainda nesta segunda, o presidente estadunidense Barack Obama emitiu um comunicado em que saudava a retomada das conversações, mas advertiu as partes para o difícil caminho. “Este é um promissor passo adiante, embora o trabalho duro e as escolhas difíceis ainda estejam à frente”, disse.

Obama afirmou também que os Estados Unidos estarão disponíveis para apoiar palestinos e israelenses “através das negociações, com o objetivo de alcançar dois Estados, vivendo lado a lado, em paz e segurança”.

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Já nesta terça-feira (30), o presidente encontrou-se com as delegações israelense e palestina na Casa Branca, pouco antes de as partes voltarem a reunir-se, no Departamento de Estado, na manhã desta terça. No fim da tarde, está prevista uma declaração conjunta entre Kerry, Erekat e Livni sobre o caminhar das conversações.

Enquanto isso, os representantes israelenses, Livni e Isaac Molho encontraram-se com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, em Nova York, antes de dirigirem-se a Washington. De acordo com o jornal israelense Ha’aretz, os dois apresentaram a Ban os planos para a retomada das negociações e pediram o seu apoio no processo, inclusive para evitar "ações unilaterais" dos palestinos nas agências da ONU durante as conversações.

Com isso, referiam-se à estratégia adotada pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), de buscar a integração e o reconhecimento das agências da ONU, como a Unesco e, inclusive, na própria Assembleia Geral, no ano passado, quando conquistou o voto favorável de 134 para o seu reconhecimento como “Estado observador não membro”.

Livni disse à agência Associated Press (AP), nesta segunda, que “a ideia é começar as negociações ainda hoje”, e que “há muito pessimismo e muito ceticismo, mas também há esperança”. E continou: “Acredito que na retomada das negociações, podemos recriar a esperança para israelenses e palestinos também”.

Plano das negociações

No mesmo sentido, Martin Indyk, nomeado por Kerry como o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, “é realista; entende que a paz não virá da noite para o dia, mas que há um sentido de urgência”, disse Kerry.

Em uma declaração dada na capital egípcia, Cairo, onde se encontrava com o presidente interino do Egito, o presidente da Autoridade Palestina (o Executivo da OLP), Mahmoud Abbas, disse que “nenhum colono israelense ou forças de fronteira poderão permanecer em um futuro Estado palestino; os palestinos têm como ilegais todos os assentamentos judeus além da Linha Verde”, as fronteiras acordadas originalmente para o Estado palestino.

Já o jornal Ha'aretz publicou os resultados de uma pesquisa de popularidade, que coloca o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu bem à frente dos seus principal oponentes, com 51% de aprovação, relacionado-a à possibilidade de retomada das negociações, apesar de um ceticismo generalizado.

“Após 20 anos, desde a assinatura dos Acordos de Oslo, anos em que experimentamos pouca exaltação, muito terror e o assassinato de um primeiro-ministro [Yitzak Rabin, por um judeu extremista contrário ao processo de paz, em 1994], outra tentativa, e talvez a última, será feita”, diz a notícia, “para religar o motor que está enferrujando”.

O jantar desta segunda-feira previa o estabelecimento das bases para as negociações, encontro que seria estendido até esta terça-feira (30), quando as partes devem dar declarações oficiais sobre os resultados e as expectativas para a retomada de um “processo de paz”.

Os palestinos garantem, entretanto, que não será como antes, e têm exigido definições mais claras, cronogramas e posições compromissadas dos israelenses. A negligência histórica dos Estados Unidos e as medidas "no terreno", que mantêm a ocupação israelense institucionalizada sobre os territórios palestinos, também têm fundamentado um ceticismo cauteloso e até incréculo com relação aos resultados das possíveis negociações.

Com informações do Ha'aretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho